Na croácia operária, coadjuvantes protagonizam cenas decisivas
Moscou Não estamos mais em 1917 e a Rússia está um século diferente. Esperar ...
Moscou Não estamos mais em 1917 e a Rússia está um século diferente. Esperar outra revolução só porque todos os olhos estão no país novamente, nesta Copa do Mundo, soa pretensioso. Mas o futebol, se continua a explicar e ser explicado através de alegorias, permite ver na Croácia um proletariado pronto para pegar em armas pela sua causa. Modric, Rakitic, Mandzukic e até Lovren, que se revezaram nos últimos anos em finais continentais, ocupam os holofotes como líderes. Nas sete posições titulares que lhe restam, o técnico Zlatko Dalic reuniu um coletivo guiado pelo esforço, pela solidariedade e por uma peculiar predisposição a arroubos mundanos que o público, talvez, julgue inusitado em campeões mundiais. Pois é esse status que a Croácia, revolucionária nas expectativas, buscará no estádio Lujniki.
Modric é quem mais serve chances de gol a seus colegas de Croácia, mas pensador algum se justifica sem a massa. O volante Marcelo Brozovic grita "presente!". Modric leva a fama de incansável " e com justiça, visto que é o jogador de maior quilometragem (63 km) nesta Copa. Mas foi Brozovic, silencioso na sombra do craque, quem mais correu nos seus dois jogos completos, contra Argentina e Inglaterra. Chegou, na soma de ambos, a 27,5 km de ação.
Brozovic, além de fazer jornada dupla em campo, lançou moda a partir do futebol. Suas comemorações de gols com mão no queixo viraram tatuagem, mania entre os jogadores croatas e até símbolo na fachada do seu bar, "Epic Brozo", aberto em janeiro. É fácil (e tentador) enxergar no volante só o lado exótico. É também o jeito mais rápido de perder de vista o equilíbrio que trouxe ao meio-campo, liberando Modric para atacar. Quando Brozovic tinha 16 anos, seu pai orientou que largasse a escola para jogar futebol. Podia dar errado, mas esta é uma Croácia que contraria expectativas.
a confiança de perisic
Há outros jogadores que pouco chamam a atenção. O meia Rebic, de 24 anos, acumulava experiências errantes em Itália e Alemanha. Achou seu espaço no Frankfurt ao trabalhar com o técnico croata Niko Kovac. Na Copa, encampou o espírito dos tempos: é o jogador com mais faltas (19) do torneio, na seleção mais faltosa (101). Rebic fez seis infrações, um terço do seu total, em um único jogo, a semifinal. A grande maioria (14) ele cometeu no campo de ataque, pressionando a saída rival. Já deu certo uma vez: contra a Argentina, aproveitou uma bobeira de Caballero e marcou de cobertura.
A defesa tem operários que já viveram momentos de estrelato nesta Copa. O goleiro Subasic roubou a cena em duas disputas de pênalti. Vrsaljko e Strinic, os laterais direito e esquerdo, respectivamente, ajustaram os ponteiros de um time que se sente confortável nos cruzamentos. Domagoj Vida se entendeu com Lovren na zaga, ainda que a postura extracampo ainda dê o que falar. Há seis anos, quando quis tomar uma cerveja no ônibus do Dínamo de Zagreb, a repercussão foi ainda mais brusca: acabou expulso do veículo e multado em € 100 mil. O time estava a caminho de um jogo.
Poucos representam tão bem a angústia dos coadjuvantes croatas quanto Ivan Perisic. Até fazer um gol e dar uma assistência contra a Inglaterra, ele era o jogador que mais se frustrava na frente das traves: chutou 13 vezes para fora nesta Copa, mais do que qualquer outro. Se a Croácia tem o terceiro maior índice de finalizações do torneio (100), deve muito a Perisic: o meia-atacante foi responsável por um quinto (20) das tentativas.
" Depois que marcou o gol, Perisic virou um jogador completamente diferente. Ele sofre de falta de confiança " avaliou o técnico Zlatko Dalic.
Hoje candidato a estrela de uma final de Copa, Perisic embarcou 12 anos atrás para uma experiência no futebol francês, que depois o projetou à Alemanha e, há três anos, para a Inter de Milão. O caminho não começou iluminado por um projeto de carreira: Perisic aceitou a transferência para o Sochaux porque seu pai precisava do dinheiro para pagar as dívidas de seu negócio de criação de galinhas.
" Ele não está no seu ápice, mas em parte é culpa minha, já que pedi para ele ajudar a defesa. Falta fôlego para atacar " admitiu Dalic.