No interior, quadrilhas impulsionam homicídios
Agência O Globo -
Em meio a uma queda generalizada nas estatísticas de homicídios dolosos no Estado do Rio, disputas entre facções criminosas fizeram os índices de assassinatos aumentarem no interior
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Em meio a uma queda generalizada nas estatísticas de homicídios dolosos no Estado do Rio, disputas entre facções criminosas fizeram os índices de assassinatos aumentarem no interior. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), foram registrados, na região, 1.341 casos de janeiro a outubro deste ano, o que corresponde a uma média de mais de quatro por dia. Em 2017, no mesmo período, foram 1.156, ou seja, houve um crescimento de 16%. Na capital, na Baixada e em Niterói e município vizinhos, a quantidade de mortes violentas caiu.
Considerando as quatro delegacias do interior que registraram mais de cem homicídios de janeiro a outubro deste ano, a de Angra dos Reis (166ª DP) foi a que apresentou o maior aumento de casos na comparação com o mesmo período de 2017. A estatística subiu de 74 para 115. O delegado Bruno Gilaberte, titular da unidade, atribui a alta ao recrudescimento de uma guerra do tráfico pelo domínio de favelas da Costa Verde.
— As facções Comando Vermelho e Terceiro Comando Puro estão em Angra, disputando territórios. Comunidades são tomadas e retomadas, e, a cada ação, temos mortes. Nas últimas semanas não ocorreram confrontos de grande intensidade, mas isso é algo circunstancial. A guerra explode de uma hora para outra — disse Gilaberte.
Segundo o delegado, o aumento da violência na Costa Verde está relacionado a uma migração de bandidos do município do Rio. Grande parte deles teria saído de comunidades da Zona Oeste (como Antares) e de Belford Roxo, na Baixada. Para Gilaberte, esses deslocamentos de bandidos foram motivados por novas alianças entre quadrilhas e pelo forte avanço de milícias na capital, o que teria "empurrado" traficantes cariocas para Angra e cidades vizinhas.
As áreas da 146ª DP (Guarus, em Campos dos Goytacazes), e da 71ª DP (Itaboraí) ocupam o segundo e o terceiro lugares, respectivamente, no ranking de lugares que tiveram maior aumento de assassinatos. A primeira registrou 145 homicídios dolosos este ano, 51 a mais que em 2017.
De acordo com o delegado titular da 146ª DP, Luiz Maurício Armond, o fim de uma trégua entre duas facções com forte presença em Campos — Terceiro Comando Puro e Amigos dos Amigos, que tinham se aliado no fim do primeiro semestre de 2017 — tem relação direta com o aumento de mortes violentas.
— A aliança acabou, e isso resultou em confrontos que terminaram com várias mortes. Guarus, então, acabou sendo um dos fatores determinantes para a estatística de homicídios dolosos subir no interior do estado — explicou Armond.
ataques de milicianos
Itaboraí, que registrou 119 homicídios de janeiro a outubro deste ano, também é cenário de uma disputa por territórios. Milicianos dos bairros de Porto das Caixas, Visconde e Areal tentam tomar as comunidades de Reta Velha e Reta Nova, historicamente dominadas por traficantes.
Na comparação apenas entre os meses de outubro deste ano e de 2017, o número de homicídios também caiu em todo o estado, mas o interior registrou o menor percentual de queda: 6,4%. Os municípios de Angra e Itaboraí, além de Guarus, subdistrito de Campos, foram alvos de operações da intervenção federal na segurança pública, que promete continuar combatendo o crime organizado nessas regiões.