Trabalhadores contam segredos para sobreviver ao calor, que ainda vai piorar
Agência O Globo -
RIO - Oásis para uns, inferno para outros
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RIO - Oásis para uns, inferno para outros. A orla do Rio, que tanto refresca quem está de folga, pode ser sinônimo de tortura para a turma que, debaixo de sol escaldante, está na labuta. Em Copacabana, nesta segunda-feira, onde um termômetro na areia media inacreditáveis 53,8 graus. Arilson Ramos, que trabalha na montagem de contêineres que darão apoio à festa de réveillon na praia, reclamava nunca ter sofrido tanto com o calor bateu os 38 graus nesta segunda. Na Zona Oeste, chegou aos 39,1.
— O trabalho braçal sempre é quente, mas aqui está muito difícil de aguentar — disse ele, revelando pequenos truques da equipe para se proteger. — A gente usa luva, capacete e camisa longa para proteger o corpo do sol.
Em Ipanema, no comando de uma retroescavadeira que ajudava a desassorear o Jardim de Alah, David Ramos usava uma camisa de lycra, igual a de surfistas, para não torrar a pele. Experiência em altas temperaturas, ninguém duvida que ele tem. David mora em Santa Cruz, região da Zona Oeste onde costumam ser registradas as maiores máximas da cidade, ano após ano.
— Tem que colocar roupa de proteção, quando dei bobeira tive até queimadura nos braços — diz David, lamentando que o ar-condicionado da escavadeira tinha quebrado. — Aqui, é abrir o vidro e torcer para ventar.
Sem a mesma expertise, a haitiana Suze Clege chamava a atenção. Vendedora de cangas, ela vestia calça jeans e camisa no pedaço de calçadão que chama de seu, onde estende seus produtos. Com um pedaço de tecido sobre a cabeça, explicava a indumentária nada adequada.
— Primeiro, eu distribuo currículos nas lojas daqui de Copacabana, depois fico na praia para vender. Eu estou acostumada com sol forte, mas aqui é mais abafado do qualquer outro lugar, até o Haiti.
Que o diga o motorista de ônibus Erisvaldo Silvestre. Como o coletivo não tem ar-condicionado, ele leva rolos de papel higiênico na mochila para, durante o trajeto entre o Leme e São Conrado, enxugar o suor.
— A gente derrete aqui dentro . Nesse calor extremo, até baratas surgem. É horrível.
E não adianta esquentar a cabeça: a previsão é que os últimos dias de primavera — o verão chega sexta-feira — batam novos recordes de calor.
* Estagiário sob supervisão de Leila Youssef