Viernes, 29 de Marzo de 2024

‘Entre a política e o econômico, o governo está entre a cruz e a espada’

BrasilO Globo, Brasil 22 de abril de 2019

Entrevista

Entrevista
Na avaliação do ministro-chefe da Secretaria de Governo (Segov), Carlos Alberto dos Santos Cruz, o governo Jair Bolsonaro está "entre a cruz e a espada" na negociação com os caminhoneiros, entre uma decisão política que pode evitar uma paralisação do transporte de cargas no país e o limite econômico. Em entrevista ao GLOBO, o ministro defende que cabe agora à categoria entender as restrições matemáticas do Executivo para atender todas as reivindicações. Santos Cruz ganhou espaço no Planalto e, nos bastidores, já é apontando em pé de igualdade com o ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, em relação à confiança de que desfruta com o presidente. Por outro lado, desperta críticas de integrantes da ala ideológica ligados ao escritor Olavo de Carvalho. Para o ministro, o fanatismo pode atrapalhar o governo.
Na última semana, o governo anunciou várias medidas para os caminhoneiros, após suspender por alguns dias o aumento do diesel. Como o senhor tem acompanhado essa negociação?
O governo precisa entender os segmentos sociais, no caso um segmento importante que é o de transporte de cargas, mas o setor também tem de entender a conjuntura em que vive, que não é isolada da conjuntura nacional. Toda essa carga de sacrifícios tem que ser da responsabilidade de todos. Os caminhoneiros são trabalhadores, as condições de transporte de carga no Brasil são difíceis, é um trabalho desgastante e honroso que move uma grande parte da economia do Brasil. Tem problemas, e o governo tem de procurar ajudar na solução, mas a categoria também tem de entender que isso tudo existe dentro dos limites do contexto econômico, de legislação, que precisa ser entendido também.
O governo tem limite para atuar na política de preços da Petrobras?
Claro. Os limites do governo são matemáticos. Não tenho os números todos na minha cabeça, mas o 0,1% que você mexe no valor de frete, no valor do combustível, acaba tendo um impacto. O resumo de tudo isso é matemático. Agora, as decisões também são políticas. E o governo fica sempre entre a decisão política e o limite econômico, está sempre entre a cruz e a espada.
A possibilidade de greve, levantada por alguns líderes da categoria, segue monitorada permanentemente pelo governo?
Falar em paralisação tem que ser feito com muita responsabilidade. Ninguém é contra a liberdade de expressão, de associação, isso é fundamental. Os sindicatos existentes, a dinâmica, o jogo de pressão, é assim que funciona um país. A democracia funciona assim, mas é preciso ter responsabilidade.
Como o senhor tem contribuído para a aprovação da reforma da Previdência?
Eu não atuo diretamente, não vou lá pedir votos. O pessoal tem de entender que o governo de um país funciona pela harmonia dos Poderes. Não é só o Executivo que quer a modificação nas regras da Previdência, é um erro a gente achar que o Executivo quer e o Legislativo não. O Executivo tem a obrigação de cuidar do Orçamento, das contas, tem de explicar a necessidade da modificação das regras para os parlamentares, mas a responsabilidade é de todo mundo, não é só do Executivo.
A votação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça foi adiada na Câmara. O governo não vê isso como uma derrota?
Na cúpula do governo, essa parte política tem setores que acompanham e, em termos ministeriais, quem cuida é o Onyx Lorenzoni (chefe da Casa Civil), e eu auxilio. Vejo tudo com muita normalidade. Em primeiro lugar, você tem que respeitar as decisões que acontecem na Câmara. Não é questão só de ganhar. Não é um jogo. Às vezes não foi exatamente como você queria, mas daí para ser uma derrota é diferente. A Câmara tem uma variedade de pessoas, de interesses, de partidos, de bancadas. Tudo isso entra em jogo, e uma análise de qualquer acontecimento dentro da Câmara tem que ser muito mais profunda do que simplesmente identificar como derrota ou vitória.
O governo estuda liberar emendas discricionárias para conquistar o apoio para a aprovação da reforma da Previdência?
A aprovação da Previdência não está ligada diretamente à aprovação de recursos, mas é normal, em qualquer lugar do mundo, auxiliar a base política, aqueles que estão alinhados política e administrativamente com o governo. Há também as emendas impositivas destinadas para muitos parlamentares de oposição, com recursos já liberados, inclusive.
Quanto o governo deve liberar em emendas, e quais serão os critérios técnicos para fazer a destinação?
Não sei o valor exato, ainda não conversamos nos detalhes. Tem que analisar não só o que se ouve dos parlamentares, mas ver a parte da política pública. Há obras inacabadas. Nós tivemos, no Brasil, uma falta de responsabilidade, foram deixadas milhares e milhares de obras inacabadas, então uma política pública é concluir. Tudo o que se fizer estará dentro um raciocínio lógico de política pública.
Existe um prazo para a liberação?
Ainda não foi discutido, o normal é uma conclusão a médio prazo.
O senhor passou a ser procurado por muitos parlamentares que buscam uma interlocução com o governo. Quais têm sido as principais demandas?
A grande massa tem como motivação o relacionamento do Executivo com o Legislativo. Não é todo mundo que vai conversar que solicita alguma coisa. Algumas coisas são relativas a emendas parlamentares, obras que estão em andamento e precisam ser concluídas. É o trabalho do parlamentar alertar o governo sobre o que precisa ser feito, e nossa obrigação é nos interessarmos pelo que o parlamentar fala. O Executivo não está presente em todos os lugares do Brasil, quem está presente são os deputados. O Brasil pegou a sensação negativa de que se negociam benefícios pessoais. Isso simplesmente não existe. Recebemos demandas para atender à população, e isso é absolutamente válido e está dentro da normalidade do trabalho do parlamentar.
Integrantes da ala ideológica consideraram uma derrota pessoal do senhor a saída do embaixador Mário Vilalva do comando da Apex; a nomeação de Abraham Weintraub para o Ministério de Educação; e a de Fábio Wajngarten para chefiar a Secretaria de Comunicação. Como vê essa indisposição desse grupo ao senhor?
Para mim, é novidade. Não sabia que alguém tinha essa rivalidade comigo, eu não tenho rivalidade com ninguém. Não conto isso como derrota porque não estava empenhado em ter vitória. Por exemplo, a substituição do Floriano (Amorim) pelo Fábio (Wajngarten) foi uma diretriz direta do presidente. Na administração pública existe substituição, e isso não significa que o outro estava fazendo tudo errado. É preferência da autoridade. Abraham na Educação foi uma escolha do presidente. Espero que ele vá maravilhosamente bem no Ministério da Educação, que está precisando de um oxigênio forte. Felicidades para ele, não tem nada de derrota.
E o embaixador Vilalva?
Vilalva é um embaixador de altíssima qualidade. O comportamento dos nossos diplomatas é respeitado no mundo inteiro, e o Vilalva faz parte desse quadro de primeira linha do Itamaraty. Eu desejava que ele permanecesse na Apex pela qualidade dele. Vamos ver quem vai substituí-lo, qual o perfil, as motivações disso eu não vou comentar. O embaixador merece todo o nosso respeito, e lastimei pessoalmente a saída dele da Apex. Administrativamente, vamos ver se a Apex encontra também o seu caminho.
Existe de fato no governo uma ala ideológica e uma ala militar?
Para mim, não faz sentido algum. Nunca percebi no governo que exista uma ala militar, um time militar coordenado. A ala ideológica tem, em toda a política nacional tem. A eleição mostrou, e o andamento nos últimos 15, 16 anos de governo tinha muita gente ideológica. A ideologia de esquerda foi um câncer no Brasil da maneira como foi feita. O problema é o extremismo, é o fanatismo. Quando você fanatiza perde qualquer capacidade de análise. O problema não é ter gente de direita, gente de esquerda. A filosofia e ideias você pode discutir, o que eu condeno é o fanatismo, seja ele de um lado, seja ele do outro.
O governo Bolsonaro precisa se blindar do fanatismo?
Acho que o fanatismo atrapalha. Seja de direita ou de esquerda, acaba atrapalhando. Quando um governo é de direita, como é o caso, não tem problema nenhum ser de direita. Pelo contrário, está resgatando no Brasil uma coisa que é a honestidade com os recursos públicos, é o principal, mas você tem os fanáticos que acham que podem influir de maneira radical, e aí atrapalha o todo.
Carlos Alberto dos Santos Cruz / ministro-chefe da Secretaria de Governo
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