O rio em ritmo de arte e ciência
Cora Rónai
Cora Rónai
É hoje! A partir das duas da tarde, a Cidade das Artes vira o ponto de ideias mais fervilhante do Rio, do Brasil, do continente, quiçá do Hemisfério. É tanta coisa acontecendo, e tanta coisa tão interessante, que justifica até o uso de uma palavra como esse quiçá que você acabou de ler: o Rio2C (sucessor da RioContentMarket) é um festival de criatividade e de inovação, nos moldes do SXSW, que ajudou a consolidar a fama de Austin, no Texas, como epicentro de novidades.
Junta arte e tecnologia, música, start-ups, palestras. Tem keynote de Ted Sarandos, do Netflix, com Wagner Moura; tem talk show de Marcius Melhem; tem Kondzilla (48.715.186 de seguidores no YouTube até o momento em que essa coluna está sendo escrita), tem Isaac Karabtchevsky e Orquestra Petrobras Sinfônica, tem games, blockchain, pitchings, "Porta dos fundos", "Quebrando o tabu", dinheiro digital, Facebook, big data, Elza Soares, audiovisual, criptomoedas, influenciadores, afrofuturismo, marketing, escrita criativa, fotografia, cidades, esportes: o que você pensar e mais alguma coisa.
Vinte e cinco mil visitantes, 700 empresas, 1,3 mil novos projetos em apresentação.
É tão vibrante que, honestamente, destoa desse momento trevas do Rio. Por que aqui? perguntei a Rafael Lazarini, criador do Rio2C. Nós estávamos tomando um café da Livraria da Travessa e, olhando assim de fora, ele parecia a calma em pessoa; se eu tivesse qualquer coisa parecida com um megafestival desses prestes a estrear, estaria correndo pela rua com uma luz vermelha piscando na cabeça, desesperada feito uma ambulância. Mas a calma se explica: ele está acostumado. A sua biografia passa por eventos gigantes, Cirque du Soleil, Rock in Rio, Live Nation.
Rafael nasceu em Brasília há 46 anos, onde o pai estava trabalhando, mas veio para o Rio aos cinco. É muito carioca, e o Rio2C é parecido com ele, que se formou na UCLA em engenharia e marketing, e fez mestrado em gestão de entretenimento na USC: ciência e diversão, exatas e humanas num pacote só:
" O mundo todo sempre fala em "pensar fora da caixa", mas eu não ouço tanto essa expressão aqui no Rio, e por um bom motivo, porque o Rio é fora da caixa por natureza. Às vezes, até seria bom entrarmos dentro da caixa um pouco, quem sabe? Mas o fato é que uma cidade não se torna capital cultural de um país por nada. A criatividade está no DNA do carioca. Temos o legado das gravadoras, o Projac, a mão de obra da cultura, empresas de computação.
Rafael acha que somos uma espécie de Los Angeles do Cone Sul, e que nascemos livres, sem embalagem, condição essencial para criar. Ele também acha que é por aí que a cidade pode sair do buraco: não dá para viver de petróleo, o turismo não é suficiente para sustentar uma metrópole desse tamanho. O momento de esvaziamento é, para ele, o momento ideal para apostar e para investir. Ele vê o Rio de Janeiro como um grande quebra-cabeças desmontado, mas com todas as peças à mão. Basta juntá-las, e uma das maneiras é fazendo o que o Rio2C se propõe a fazer, que é apresentando quem tem arte e ideias a quem precisa de ideias e arte.
" Além disso, estamos a apenas 45 minutos da maior megalópole sul-americana, pensa só!