Viernes, 19 de Abril de 2024

Dramas de aquário

BrasilO Globo, Brasil 25 de abril de 2019

Cora Rónai

Cora Rónai
Passei os últimos dias muito ocupada com o aquário. A vantagem de se ter grande responsabilidade por pequenas coisas é que as pequenas coisas nos distraem das grandes coisas; é um alívio poder desviar o foco do que acontece no mundo para o que acontece no pequeno cubo azul que fica ao lado da minha escrivaninha, e ao qual apenas eu dou importância.
Demorei a entender porque se diz que os aquários relaxam. Aquários dão trabalho e, eventualmente, sobressaltos. O meu rachou duas vezes e vazou uma: três oportunidades de ouro para desistir da empreitada. A concentração que o aquário exige, porém, é terapêutica. Quando as coisas ficam ruins cuido das plantas, observo os peixes, limpo a água e o filtro " o antídoto perfeito para o noticiário.
Nem preciso dizer que, a essa altura dos acontecimentos, está tudo tinindo.
Aprendi muita coisa ao longo desse último ano. Se pudesse voltar atrás, teria comprado um aquário maior, e talvez não tivesse trazido Truman e Capote para casa. Truman e Capote são cascudos. Cascudos não são para amadores, nem para aquários pequenos. Agora, porém, estou afeiçoada a eles, ainda que pouco os veja " cascudos, que têm hábitos noturnos e passam o dia escondidos, também não são para quem gosta de ver peixes em atividade.
Truman e Capote vão ganhar um aquário maior em breve.
Quando montei o aquário no começo do ano passado, comprei cinco guppies. As crianças já tinham nomes prontos para eles, mas aquaristas experientes alertaram:
" Não se dá nome a guppies.
Foi um bom conselho. Guppies são um coletivo. Morrem e nascem rápido, muito, o tempo todo. Dos cinco originais resta apenas uma, mas são mais de vinte hoje, entre jovens adultos e filhotes minúsculos, sem falar nos filhotes microscópicos, impossíveis de contar. Seriam mais ainda se, há dois ou três meses, eu não tivesse posto entre eles uma fêmea vermelha muito lindinha que estava doente, e que matou quase todo mundo.
Aprendi com Lady Death, que ganhou nome póstumo, o valor da quarentena.
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Essa coluna é para Lêda Couto Ferreira que, numa semana em que apanhei muito dos haters, me mandou o email de reclamação mais delicado que já recebi. Ela está cansada de política e quer um pouco de leveza; eu também, Lêda, eu também,
Pois comecei, mas, antes que terminasse o segundo parágrafo, a chuva levou o Rio água abaixo, e eu não tive como falar sobre outra coisa; na semana seguinte, depois de dois anos fora do ar, reestreou "Game of Thrones" " e, de novo, eu não tive como escrever sobre outra coisa.
Há sempre assuntos mais graves e momentosos do que peixinhos de aquário.
De lá para cá, porém, aquela única remanescente dos primeiros peixes morreu, depois de um parto complicado. A população do aquário aumentou vertiginosamente. Nos comentários do Facebook, Ana Maria Sampaio resumiu a história: "Peixa pariu, filhotes foram comidos, outros foram salvos, peixa morreu, deixando 16 órfãos. Microcosmo do Rio."
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A HBO Brasil cobriu parte da abertura de "Game of Thrones" com propaganda. Foi um desrespeito com a série, e um tapa na cara dos fãs.
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