Família klein volta ao comando das casas bahia
O Grupo Pão de Açúcar conseguiu ontem realizar um desejo antigo: sair da Via Varejo, uma das ...
O Grupo Pão de Açúcar conseguiu ontem realizar um desejo antigo: sair da Via Varejo, uma das maiores varejistas do país. A venda da fatia de 36,27% com a qual o grupo controlava a empresa marcou o retorno da família Klein ao comando das Casas Bahia, fundada pelo patriarca Samuel Klein, dez anos depois da fusão com o Pontofrio do Pão de Açúcar, na época controlado pelo empresário Abilio Diniz, para formar a Via Varejo.
O Pão de Açúcar vendeu suas ações por R$ 2,3 bilhões, R$ 4,90 por papel. O valor inicial do certame era R$ 4,75. A nova configuração da varejista só será conhecida na liquidação do negócio, prevista para a próxima terça-feira, mas o empresário Michael Klein garantiu para sua família, que já tinha 25,43% da empresa, a posição de maior acionista ao participar do leilão digital das ações na Bolsa de São Paulo, a B3.
Klein aportou cerca de R$ 100 milhões no certame, de acordo com fonte a par da operação. O montante é inferior ao previsto antes do leilão " algo entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões " por causa da disputa elevada no leilão. Ainda assim, o investimento foi suficiente para garantir mais 1,6% do capital social da Via Varejo para a família Klein, que deve chegar a 26,8%. Ao menos três fundos de investimentos compraram ações: Squadra, do Rio; Kapitalo e JPX, de São Paulo.
"Estamos extremamente felizes e honrados em nos tornar o maior acionista de referência da Via Varejo", afirmou ontem Michael Klein, em comunicado. "Neste novo momento, nossa estratégia é focar no relacionamento com os clientes, fornecedores e demais parceiros de negócios, com o objetivo de conectar o legado da Casas Bahia com as mudanças da nova geração."
legado e futuro
Com a saída do Pão de Açúcar, a expectativa é que a família Klein inicie uma nova fase para Via Varejo, com ênfase na estratégia digital. Estão previstos investimentos na formação de uma rede de vendedores parceiros das marcas Casas Bahia e Pontofrio, o que é chamado de marketplace, no jargão do comércio eletrônico. Além disso, novos produtos financeiros devem compor o portfólio de produtos e serviços da empresa.
A ofensiva tentará acompanhar o desempenho do concorrente Magazine Luiza, cujas ações se valorizaram 15.000% desde 2015 com uma forte estratégia digital, incrementada ontem pela compra confirmada da Netshoes.
Nos últimos anos, a Via Varejo até tentou investir no comércio eletrônico ao lançar o Via+, projeto para integrar canais de vendas. Mas a indefinição sobre o controle fez a empresa perder terreno para concorrentes como o Magazine Luiza e, agora, para a operação brasileira da Amazon.
Um aumento no número de cadeiras do Conselho de Administração da Via Varejo está em discussão. O plano dos Klein é assumir o comando mantendo a empresa "sem dono definido", num modelo de governança próximo ao da varejista gaúcha Renner.
Relação conflituosa
Em 2016, o grupo francês Casino, controlador do Pão de Açúcar, decidiu vender o controle da Via Varejo por causa do fraco desempenho das vendas no Brasil e de sua crise financeira na França. O negócio só deslanchou este ano, quando começaram as conversas com Michael Klein, que substituiu o pai, Samuel, morto em 2014, na liderança da família. Uma alteração no estatuto da Via Varejo facilitou o leilão.
Desde a fusão, em 2009, a relação entre os Klein e o Pão de Açúcar foi conflituosa. Meses depois do acordo, o clã já contestava o arranjo final, que o deixou com 47% do negócio, abaixo dos 49% esperados.
Em 2012, a família tentou elevar para 70% sua participação, mas a proposta foi rejeitada pelo Casino. Em 2013, os Klein viram sua fatia ser diluída com a oferta de ações da Via Varejo.