Jueves, 25 de Abril de 2024

Dentro dos palácios dos últimos czares

BrasilO Globo, Brasil 18 de agosto de 2019

Patrícia Kogut

Patrícia Kogut
crítica/ ‘The last czar’ > Boa
Internada num hospital psiquiátrico na Alemanha, uma moça diz ser Anastásia Nikolaevna, filha dos czares Nicolau II e Alexandra Feodorovna. Afirma ter escapado do assassinato da família real pelos bolcheviques, em 1918. É desse ponto, com Anastasia já adulta, que começa "The last czar", série britânica que chegou à Netflix. A lenda da princesa sobrevivente alimentou a literatura e o cinema, mas, aqui, é apenas um detalhe. Ela serve como pretexto para rememorar o período final do reinado.
A narrativa se interessa pelos acontecimentos da vida do monarca desde o início de seu casamento até a tragédia final. "The last czar" mistura gêneros. Há entrevistas de historiadores e de outros especialistas. Eles explicam a ação, que é encenada por um elenco de talentos. Os seis episódios mergulham no luxo dos palácios, dos figurinos farfalhantes e das joias poderosas. Tudo isso se soma a imagens de arquivo preciosas. São, por exemplo, registros de manifestantes ocupando as ruas de São Petersburgo num prenúncio de tudo o que viria depois. As linguagens se complementam bem.
Nicolau (Robert Jack) chega ao trono sem ter vocação. A série o retrata como um fraco desprovido de sensibilidade social. Por exemplo, mesmo sabendo que hordas de soldados russos estavam morrendo na guerra contra o Japão, enviou mais e mais tropas para o front. Mais adiante, em janeiro de 1905, milhares de operários marcharam por São Petersburgo pedindo melhores condições de trabalho. Em vez de ouvir as reivindicações, Nicolau mandou o exército atacar os manifestantes. Com isso, rompeu a crença de que o czar e o povo eram um só corpo e plantou o ódio. A matança que se sucedeu ficou conhecida como o Domingo Sangrento e colaborou para pavimentar o caminho da Revolução de 1917. Por outro lado, sua dedicação à czarina (Susanna Herbert) e aos filhos era absoluta. O casal queria desesperadamente um herdeiro. Mas, quando ele veio, sofria de hemofilia. Rasputin (Ben Cartwright) se aproximou da família prometendo ser capaz de controlar a doença do garoto. Com isso, acabou ganhando influência na política.
O espectador se pergunta como podem o czar e sua mulher terem vivido isolados a ponto de ignorarem um recado tão eloquente das ruas. Arrogância? Falta de visão? Nicolau é um personagem complexo. Monarca destalentado e marido submisso, ele teria ainda assistido, sem reagir, a uma ligação amorosa de sua mulher com Rasputin. De qualquer forma, a combinação dos conflitos domésticos com os que ocorrem fora do palácio faz dessa série um programa irresistível.
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