Futebol e oração convivem lado a lado em palco do mundial
O contato com diferentes culturas pode ser, além de um aprendizado, um exercício de convivência e ...
O contato com diferentes culturas pode ser, além de um aprendizado, um exercício de convivência e tolerância. O torcedor rubro-negro que for acompanhar o Mundial de Clubes deverá lidar com choques culturais quase inevitáveis, a começar pelo estádio onde o time jogará a semifinal e a decisão do título ou do terceiro lugar. Lá, a festa da torcida e a tradição religiosa do Oriente Médio convivem de maneira muito próxima.
Ao chegar ao Khalifa International Stadium de Doha, o torcedor vai se deparar com uma pequena construção em vidro e metal quase junto ao portão de entrada de público. Na porta, alguns pares de sapatos eliminam qualquer dúvida de quem ainda não identificou que ali está uma mesquita. É preciso entrar descalço para as orações.
Em dias sem jogos, ela serve principalmente a funcionários que trabalham na manutenção do estádio. Mas quando há partidas, é comum que torcedores cumpram ali uma das cinco orações diárias, conforme a tradição muçulmana. E a convivência entre a agitação causada pela chegada da torcida e a paz espiritual gera expectativa às vésperas do Mundial.
" Há um isolamento acústico para que o som não atrapalhe quem está orando. Mas não chega a ser um problema, a não ser que usem megafones ou equipamentos de som muito perto daqui " disse Telha Achraf, imã responsável pela mesquita, ele mesmo um fã de futebol. " Tivemos aqui a Copa do Golfo e não houve problemas.
Existem horários específicos para as orações, determinados de acordo com o nascer e o pôr do sol. É possível que haja coincidência de horários com as partidas.
Inaugurado em 1976 e remodelado pela segunda vez em 2017, o Khalifa, sede da Copa do Mundo de 2022, fica no coração do projeto qatari de desenvolvimento esportivo como forma de integração com o ocidente. Sua reforma custou pouco mais de US$ 300 milhões. Logo ao lado, estão um complexo aquático e a sede da Aspire Academy, projeto poliesportivo de desenvolvimento de atletas orçado em US$ 1,3 bilhão.
O complexo já atrai torcedores do Flamengo que começam a chegar a Doha, como o engenheiro civil Victor Thomaz, de 34 anos, e o pai dele, Augusto Thomaz, de 71. Eles observavam a mesquita e o estádio e já imaginavam a área tomada pela torcida.
" É um choque cultural, um lugar de costumes diferentes. Uma grande diferença será a concentração de torcedores nas ruas. Em Lima, na final da Libertadores, uma região de bares foi um ponto de rubro-negros. Aqui não tem isso " disse Victor, citando as restrições à venda de bebida alcóolica no Qatar, salvo em hotéis internacionais ou na Fan Fest da Fifa. (C.E.M.)