Viernes, 29 de Marzo de 2024

Diversão inspirada em tema atual

BrasilO Globo, Brasil 5 de julio de 2020

Patrícia Kogut

Patrícia Kogut
crítica/ ‘Diário de um confinado’> Boa
Quando a pandemia se instalou por aqui, há pouco mais de três meses, o olhar do espectador mudou instantaneamente. Um filtro crítico se interpôs, separando o público e a ficção. Todos os programas produzidos antes do coronavírus pareceram envelhecidos de uma hora para a outra. Era impossível assistir a uma cena com personagens aglomerados sem um certo estranhamento. Esse sentimento, de lá para cá, aprofundou-se. Por isso, mais do que nunca são bem-vindas as produções conectadas com o que estamos todos vivendo. E "Diário de um confinado", estreia do Globoplay, é uma delas. São episódios de dez minutos, um formato bem resolvido e vocacionado para o streaming e para o consumo rápido. Não há quem não vá se identificar com as dificuldades enfrentadas pelo protagonista interpretado por Bruno Mazzeo (também o criador da atração). Murilo tem profissão indefinida e rompeu um namoro pouco antes do isolamento. Ficou sozinho no apartamento de solteiro. Ele atravessa todas as clássicas etapas: o relógio biológico desregulado, o medo de cair doente, a familiarização com o funcionamento da casa, a solidão, a alegria e a tristeza. Não sabe nada sobre os afazeres domésticos. Então, vai sujando todas as roupas sem se preocupar em lavar e deixa a poeira tomar conta de tudo até finalmente se decidir pela faxina.
Um dos momentos mais divertidos desta primeira leva de programas é quando ele se volta contra a mãe (Renata Sorrah, maravilhosa). Quer saber por que não foi "preparado para a vida". Em outras palavras, o que fez com que ela, em vez de matriculá-lo no judô e no inglês, não lhe ensinasse a limpar banheiro. Debora Bloch, outra luxuosíssima escalação, faz a vizinha dele. É curioso constatar que a quarentena tem a sua dinâmica e que os comportamentos mudam muito rapidamente. Então, um dos indícios de que "Diário de um confinado" foi feita há mais de um mês é essa personagem, uma mulher neurótica. Ela anda com uma trena na mão para medir distanciamentos. E anda de máscara até dentro do prédio, num sinal de seus exageros. Só que o uso desse acessório hoje se naturalizou. Brilhante, Fernanda Torres, a psicanalista de Murilo, Leonor, garante grandes momentos. O filho dela, Joaquim Torres, também diverte.
A série é tão despretensiosa quanto cheia de qualidades. A direção da talentosa Joana Jabace chama a atenção. Ela é certeira e cheia de rigor. Há tantos cuidados com a luz e capricho nos enquadramentos que a gente chega a duvidar de que tudo tenha sido feito em condições precárias. Merece a sua atenção.
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