O entreguerras na alemanha

Patrícia Kogut
crítica/ ‘Babylon Berlin’> Ótimo
Em 1929, Berlim era uma cidade efervescente. Passadas (aparentemente) as dores da Primeira Guerra, a cultura local vicejava em todas as artes: na música, na literatura, na dança e nos primórdios do cinema. O debate político também pulsava. Ele acontecia nos cafés que se multiplicavam pelo desenho urbano elegante, que, como se sabe, seria totalmente destruído em 1945. Tudo isso se misturava à pobreza: as filas de desempregados eram compridas, havia crime e prostituição. Nesse ambiente de muita energia se desenrola a trama de "Babylon Berlin". As três temporadas da produção alemã chegaram ao Globoplay e merecem toda a sua atenção.
A série, um mistério noir, é uma adaptação da literatura (da obra de Volker Kutscher). Ela acompanha um investigador que chega à capital da República de Weimar vindo de Colônia. Gereon Rath (Volker Bruch) vai trabalhar na polícia. É recebido com desconfiança por Bruno Wolter (Peter Kurth), um detetive de quem acabará se tornando amigo. Seguimos também Charlotte Ritter (Liv Lisa Fries). A moça vive com a família num apartamento apertado e imundo. A mãe é doente, o cunhado, abusador. Para garantir a comida em casa, ela se prostitui num cabaré, o Moka Efti. Durante o dia, trabalha no arquivo da polícia, onde tudo é catalogado meticulosamente. Vale observar que aquele espírito metódico que ajudou os alemães na organização dos campos de concentração fica bem retratado aqui.
Gereon e Charlotte são personagens multifacetados. Ela tem bom caráter e norteia seus atos pela solidariedade. Mas, malandra e dona de um forte instinto de sobrevivência, é capaz de mentir para alcançar um objetivo. Ele, aparentemente o herói certinho, tem um vício em drogas fortes. Para conseguir as substâncias de que precisa, faz acordos com um farmacêutico. É veterano de guerra e carrega um grande trauma: seu irmão morreu em combate. Sente-se culpado por ter sobrevivido e mantém um caso antigo com a cunhada. Parece um sujeito sem charme, mas é exímio dançarino e, na pista, vira outra pessoa. Os caminhos dos protagonistas se cruzam e eles passam a trabalhar juntos. Investigam uma complicada rede de produção de filmes de pornografia envolvendo figurões da República. Paralelamente, seguem os passos de um movimento trotskista " e anti-Stalin " que se reúne clandestinamente na cidade. Esses russos fazem o transporte de uma carga de ouro que passa por Berlim.
A segunda temporada é uma mera continuação da primeira. São aventuras saborosas para acompanhar apreciando a cenografia e os figurinos. E imaginando que, mal sabem todos os personagens, aquele mundo não duraria muito.