Jueves, 25 de Abril de 2024

Boa música e coração partido

BrasilO Globo, Brasil 29 de noviembre de 2020

Patrícia Kogut

Patrícia Kogut
crítica/ ‘Alta fidelidade’> Boa
Sucesso em 2000, o filme "Alta fidelidade" foi estrelado por John Cusak. O ator vivia Rob Gordon, dono de uma loja de discos. Sua vida amorosa " ou melhor, seus fracassos amorosos " se misturava a uma trilha deliciosa. O romance era pretexto para a música e vice-versa, numa potencialização mútua muito feliz. O longa deu o Globo de Ouro ao seu protagonista e virou um clássico lembrado até hoje. Agora, a série derivada do cinema (que, por sua vez, se inspirou num best-seller de Nick Hornby, dos anos 1990) está no ar no Starzplay e merece toda a sua atenção.
É curioso constatar os efeitos dos ventos da atualização no que se vê na TV. Para começar, nada de um homem branco no papel principal. Ele agora é de uma mulher. A personagem, Rob, coube a Zoë Kravitz. Aqui vale uma observação: a mãe dela, Lisa Bonet, interpretou uma das namoradas de Cusak no filme. Esse parentesco é bem simbólico: a série não abandona o passado e, com isso, contempla o público nostálgico. Mas também adere ao espírito do tempo. Faz isso escapando das fórmulas, com emoção. Isso se deve, em grande medida, ao trabalho de Zoë, uma atriz muito interessante.
Quando a trama começa, Rob está sendo dispensada pelo namorado, Russel (Kingsley Ben-Adir). É uma situação recorrente na vida dela. Arrasada, decide passar em revista todas as suas relações para entender essa repetição. Faz uma lista de todos os que lhe deram um pé na bunda, desde os tempos de escola. Sua intenção é empreender uma espécie de "jornada de cura". Assim, ao longo de dez capítulos, somos levados a esse passeio de reencontros com os ex-namorados e uma ex-namorada dela. Paralelamente, acompanhamos as suas tentativas de se relacionar com desconhecidos.
A loja de discos da literatura era em Londres. No cinema, em Chicago. Aqui, ela fica no Brooklyn. Cherise (Da'Vine Joy Randolph) e Simon (David H. Holmes) são seus colegas de trabalho. A música invade tudo. Num dado momento, um freguês revista as prateleiras. De um canto, ele tira uma preciosidade e exclama: "Os Mutantes!". Elogia muito o disco brasileiro para encerrar, falando maravilhas também de Caetano Veloso. É exatamente assim que o espectador se sente ao assistir à série: achando uma pérola numa pilha escondida.
São episódios de menos de meia hora, fáceis de devorar. "Alta fidelidade" é uma ode à cultura pop. Mais ainda agora, passadas duas décadas, com os discos de vinil e os CDs transformados em relíquias de colecionador. Este mês, o Hulu anunciou que não fará outra temporada. Nas redes, todo mundo lamentou. É como acontece com as melhores bandas, quando terminam no auge: deixará saudades.
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