Miércoles, 24 de Abril de 2024

Renda dos mais pobres para gastos além do básico vai cair 17% este ano

BrasilO Globo, Brasil 5 de julio de 2021

Inflação maior para quem ganha menos

Inflação maior para quem ganha menos
Sem poder de compra
Com os preços nas alturas de itens essenciais, como alimentos, gás de cozinha e energia elétrica, a inflação que disparou em 2021 pesa mais sobre os mais pobres e tira recursos do consumo. Estudo da Tendências Consultoria estima que a renda disponível, o dinheiro que sobra após as despesas básicas, encolheu entre os que ganham menos. Nas classes D e E, a queda este ano será de 17,7%, contra uma alta de 3% na classe A. Isso significa menos dinheiro no bolso, às vésperas das eleições.
O levantamento da Tendências considera gastos essenciais as despesas com habitação, transporte, saúde e cuidados pessoais, comunicação, educação e alimentação.
" O impacto negativo no consumo é direto, já que a renda dos mais pobres vai toda para o consumo. Houve enxugamento das transferências sociais, e a retomada do mercado de trabalho está muito gradual " explica Lucas Assis, economista da consultoria.
Nas classes D e E, estão concentradas 54,7% das famílias, cuja renda é de até R$ 2.700.
Muitos itens básicos dispararam recentemente. No acumulado em 12 meses, há casos de aumentos dez vezes maiores do que a inflação oficial, que foi de 8,06% no período. O preço do óleo de soja subiu mais de 86%. Arroz, feijão-preto e açúcar cristal aumentaram 51,83%, 31,26% e 23,86%, respectivamente.
" Quanto menor o salário, maior o gasto com comida. Se sobe muito o preço, aquela família que tem renda muito baixa não compra outra coisa que não comida " disse André Braz, coordenador das pesquisas de preço da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Para Vera Cristina Paz, de 58 anos, a alta dos alimentos afeta diretamente seu trabalho. Dona de um restaurante na Zona Norte do Rio, ela teve que fechar o negócio por causa do distanciamento social. Sem renda, a cozinheira resolveu preparar quentinhas fitness, porém a inflação está corroendo seu lucro.
" Quando comecei a trabalhar com isso, em março de 2020, a lata de óleo custava menos de R$ 4, e hoje está quase R$ 8. Não aumentei o preço da quentinha porque sei que nessa pandemia está difícil para todo mundo " conta Vera, que mora com o marido, a mãe aposentada e a filha, a única com emprego formal.
Inflação maior
Situações como a de Vera reforçam a demanda por programas sociais, no momento em que o governo corre para tirar do papel um Bolsa Família turbinado. A cozinheira recebe R$ 250 de auxílio emergencial. O dinheiro paga só o botijão de gás e as compras no supermercado para uma semana:
" Estou vivendo no limite, e o governo não ajuda. Se eles tivessem investido em vacina, nossa vida estaria melhor.
Na avaliação do diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), José Ronaldo Souza Júnior, a tendência é que a diferença entre a inflação de mais pobres e mais ricos se atenue nos próximos meses. Projeção do Ipea mostra que a inflação entre os que têm renda familiar abaixo de R$ 1.650 foi de 9% entre março de 2020 e maio deste ano. Entre aqueles com renda acima de R$ 16.509,66, o índice cai a 5,2%.
" As tarifas de energia afetam mais os pobres, mas a gasolina faz aumentar a inflação dos mais ricos, que também deve ser influenciada pela alta dos serviços nos próximos meses " diz Souza Júnior.
Luiz Roberto Cunha, professor de Economia da PUC-Rio, diz que dificilmente a inflação deste ano ficará menor do que 6%. Ele prevê que as commodities continuem em alta por causa da recuperação de economias como a chinesa e a americana. E, por causa da crise hídrica, a conta de luz também terá aumento.
" Há uma possibilidade de, no segundo semestre, a inflação não subir tanto como no mesmo período de 2020, quando havia incertezas políticas, econômicas e relacionadas à própria pandemia.
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, resume esse efeito sobre preços como o da carne bovina:
" Ficará caríssimo sair para comer fora.
Para Patrícia Costa, supervisora de pesquisa de preço do Dieese, as tarifas de transporte público devem subir com a alta de 39,3% no diesel nos 12 meses terminados em maio.
" É possível que impacte os reajustes sim e, de novo, penalizando as famílias mais pobres " disse Patrícia.
No Ministério da Economia, as projeções apontam para inflação em alta nos próximos dois meses, recuando depois até atingir 5,1% no fim do ano, dentro do teto da meta fixada pelo Banco Central.
" É o compromisso fiscal que ancora o processo inflacionário. Não tenho dúvidas de que, apesar de termos um aumento transitório, no fim do ano vamos convergir para a meta "diz o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida.
Riscos para 2022
Apesar de projeções menores para a inflação de 2022, os alimentos vão continuar subindo, os juros estarão mais altos e deve haver recomposição dos valores dos aluguéis, que foram renegociados para baixo ou não tiveram reajuste, ressalta a consultora econômica Zeina Latif.
Já com relação à inflação deste ano, ela estima que fique em 6,3%, bem acima dos 5,25% estabelecidos pelo BC:
" A meta de inflação não será cumprida, a julgar pelas projeções do mercado.
*Estagiário, sob a supervisão de Alexandre Rodrigues
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