Viernes, 19 de Abril de 2024

Jovens dividem treino com bicos e vaquinhas para seguir no esporte

BrasilO Globo, Brasil 5 de diciembre de 2021

quando a crise bate à porta

quando a crise bate à porta
Mateus Rodrigues, atleta de vôlei de praia durante o dia e garçom madrugada adentro, não se fez de rogado. Como ficaria cerca de 15 dias em Itapema (SC), entre duas competições, o jovem de 20 anos e 1,92m resolveu fazer um bico. Foi para a quadra ser boleiro na etapa brasileira do Circuito Mundial. A ajuda de custo, segundo ele, serviria para pagar o aluguel em Maringá (PR), onde mora há 3 anos.
" Não valia a pena voltar para casa no intervalo entre o Open, que eu tentava vaga, e o sub-21, que eu já estava classificado. Então procurei algum modo de arrecadar dinheiro. Falei com o pessoal da organização que faria o que precisasse " contou ele, que ficou hospedado na casa de um amigo para economizar. " Aproveitei para pegar experiência vendo os jogos. Claro que queria estar lá, jogando, mas não foi dessa vez.
Mateus é um retrato da dificuldade vivida por atletas jovens, que sonham viver exclusivamente do esporte, mas esbarram na crise acelerada pela pandemia " histórias que se repetem em diversas modalidades. Atletas da nova geração têm sofrido com a falta de incentivo no esporte, agravada pela fraca economia em tempos de Covid-19. São poucos os que não precisam de jornada dupla ou tripla ou que já tenham superado a fase das vaquinhas. Em início de carreira, precisam da ajuda dos amigos e familiares para se manter no caminho rumo ao profissionalismo.
Manaus, como Mateus é conhecido, aluga apartamento com outros cinco atletas jovens e diz que não gosta de ficar pedindo ajuda à mãe Regina, de 51 anos, cuidadora de idosos em Águas de São Pedro (SP). Por isso busca seu jeito de driblar as necessidades.
O jovem se divide entre os treinos (de manhã na areia e à tarde na academia) com o trabalho de garçom (das 16h30 às 3h). Faz apenas uma refeição na sua casa, o almoço. No bar onde trabalha, come um lanche, o jantar e "uns petiscos após o turno da madrugada". Antes deste serviço, ele entregava comida por aplicativo.
" Sou novo, aguento ainda... " falou o menino, que ficou em 19º na etapa do Open, neste fim de semana, em Cuiabá, ao lado de Patrick. " Quando vi que o preço de tudo estava aumentando, da comida principalmente, resolvi achar um emprego fixo para poder me manter. Meu sonho? Claro que é chegar aos Jogos Olímpicos e pagar uma faculdade para a minha mãe. Mas também viver só do esporte, sem bicos.
Nascido em São Paulo, ele se mudou para Manaus quando pequeno e aprendeu a jogar vôlei de praia. Foi convidado por Robson Xavier, técnico da seleção brasileira masculina de base para treinar em seu projeto em Maringá. Manaus e Patrick estão entre os melhores no sub-21 e no top-30 do país no Open. Assim, precisam jogar o qualifying para entrar nos torneios principais no adulto. Sem patrocínio e com auxílio apenas para as passagens aéreas, depende de premiações para programar viagens.
" O Mateus tem potencial físico enorme, características de um jogador vencedor, concentrado. E tem demonstrado isso dentro e fora da quadra. Ele participa dos eventos adultos para ganhar experiência e está no caminho certo. É um jogador que estamos acompanhando " elogiou Guilherme Marques, gerente de vôlei de praia da Confederação Brasileira de Voleibol.
Pandemia agrava situação
No Méier, Zona Norte do Rio, Mell Trubat precisa dividir sua rotina de forma rigorosa para dar conta dos estudos e treinos. O que mais a estressa não é a falta de tempo livre, e sim, a incerteza sobre as viagens para as competições. Ela conta com a ajuda da mãe que "se vira como pode".
" Tenho muita dificuldade para arcar com todos os gastos " conta Mell, de 17 anos, que vive a fase dos vestibulares, além dos treinos para a patinação artística individual e em quarteto. " A gente tem que se virar. Para o Pan, em Lima, em 2019, fizemos rifa e vaquinha on-line. É sempre assim. A gente vai dando um jeito.
Mell conta que a mãe, Adinéia, psicóloga e funcionária pública aposentada, passou a vender bijuteria durante a pandemia para ajudar nas despesas da casa. Esse foi apenas um dos bicos que abraçou no período.
Ao mesmo tempo, Mell viu a retomada das competições de forma atropelada. As adiadas se sobrepuseram às de 2021. Em junho, foi a Joinville (SC) para o Brasileiro; em agosto, a São Paulo, para a edição de 2021 do mesmo torneio; e, em outubro, viajou para o Mundial, no Paraguai.
" Minha mãe sempre buscou outras formas de me ajudar com o esporte. Agora, faz feijoada em eventos, além de vender bijuterias nos torneios.
Na patinação artística, até o uniforme custa caro. Assim como na ginástica e no nado sincronizado, o traje é customizado com lantejoulas, pedrarias e filós, composto por blusa, short, casaco e calça. No seu caso, não tem ajuda das entidades esportivas e arca com os modelos que usa, que custam em média R$ 450.
" É um esporte que amo, mas não sou rica. Temos que correr muito atrás das coisas. É sempre um estresse " lamenta. " Para ir ao Paraguai, tivemos apoio de uma loja de doces, fazendo uma rifa. Além disso, outra loja nos deu artigos para celular para sortear. Divulgamos o sorteio e deu muito certo.
Maria Mariá, de 19 anos, também é da turma das rifas e vaquinhas, ajudada pela mãe Lucilene, cabeleireira. Ao menos, desde março, a lutadora de taekwondo, da categoria até 50 kg (sub-21), passou a ganhar Bolsa Atleta federal por causa do bom desempenho internacional, em 2019, durante um GP no Chile. O incentivo será pago até março de 2022 e, quando acabar, passará a contar apenas com a remuneração de Jovem Aprendiz, na área administrativa. A atleta arrumou emprego para ajudar nos gastos.
" Minha mãe passa o livro de ouro e faz rifas com cestas de cosméticos com as clientes dela no salão. Vai vendendo número por número " conta a jovem, moradora de Ramos, no pé do Complexo do Alemão, no Rio. " A situação piorou ao longo de 2020 por causa da pandemia. Minha mãe ficou sem trabalho por um período.
Ela explica que sua modalidade, um esporte de contato, exige o uso de vários equipamentos de segurança. E, até o momento, é ela quem tem de comprar tudo.
" Tem caneleira, meia, luva. Agora também tem colete eletrônico, mas não são todas as competições que contam com esse equipamento. Então, ainda gastamos com tudo isso " enumerou ela. " E os quimonos? Cada competição tem um modelo homologado. Coloca aí na conta, a passagem, alimentação... Ninguém me paga nada.
Apesar da pouca idade, ela já coleciona mais de 90 medalhas e sempre escuta "que tem um grande futuro".
" Será? Não tenho a menor pretensão de parar. O esporte me formou. Faz parte da minha vida. Mas, bate um cansaço...
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