Flamengo: campeão carioca
Martín Fernandez
Martín Fernandez
A justa eliminação da Libertadores ante o Peñarol deve ser recebida com alívio pelo Flamengo. Afinal o clube sempre emitiu, ao longo do ano, sinais de desinteresse pela competição mais nobre do continente.
Se o campo fala, como gosta de dizer Tite, o Flamengo vai completar 2024 com seu grande objetivo cumprido: ganhou o Campeonato Carioca, a prioridade do ano. Não é ironia.
Houve dois jogos da primeira fase em que o Flamengo poupou jogadores " o que sempre significa reduzir suas chances de vencer. E de fato não venceu nenhum dos dois: empatou um perdeu outro. Tais resultados acabaram sendo decisivos para o time terminar seu grupo em segundo lugar, obrigado a decidir os mata-matas fora de casa.
Na estreia da Libertadores, o Flamengo descansou titulares porque decidiu concentrar suas forças num jogo do Carioca. Atenção, não era qualquer jogo: era a decisão do Carioca. O segundo jogo da decisão. Depois de ter vencido o primeiro jogo por 3 a 0. Contra o Nova Iguaçu. No Maracanã. O Flamengo venceu aquele jogo por 1 a 0, deu sua única volta olímpica do ano.
Roteiro parecido com 2023, com uma diferença importante: a barbeiragem de Vitor Pereira na fase de grupos (poupar para priorizar o estadual) estourou no colo de Sampaoli (eliminado fora de casa pelo Olimpia nas oitavas).
A troca de técnico não resultou em mudança de mentalidade "o que provavelmente indica que o problema não está no banco de reservas, na beira de campo.
Nesta semana, o Flamengo tentou um novo truque nos bastidores para alterar o calendário da CBF, numa demonstração de que se importa mais com a Copa do Brasil do que com o Campeonato Brasileiro.
Outra exótica inversão de valores, que já revelava, na véspera do jogo contra o Peñarol, a convicção de que o time seria eliminado da Libertadores. Sim, os desfalques da Copa América bagunçaram entrosamento. Sim, a epidemia de lesões não pode ser desconsiderada em qualquer análise da temporada do Flamengo.
Mas é preciso sempre lembrar que decisões têm consequências. Enquanto o Flamengo desprezar a Copa Libertadores, a Copa Libertadores expulsará o Flamengo.
Botafogo desafia a tradição
Definidos os quatro semifinalistas da Copa Libertadores, é obrigatório reconhecer que o time com menos tradição entre todos eles, o único a nunca ter vencido o torneio, é justamente o maior favorito. O Botafogo, que não chegava tão longe na competição desde 1973, é um time superior ao Peñarol, seu rival num lado do chaveamento, e melhor do que River Plate e Atlético-MG, que se enfrentam para definir o outro finalista.
Tal premissa já se provou verdadeira nas oitavas e nas quartas de final. Palmeiras e São Paulo, que ostentam três títulos da Libertadores cada um, sucumbiram ante o futebol frenético do Botafogo. Ainda que as duas classificações tenham sido temperadas por sofrimento " a bola na trave nos minutos finais no Allianz Parque, os pênaltis no Morumbis " é preciso estar desconectado da realidade para não admitir que o melhor time avançou.
Nada disso é garantia de título, claro. O time de Artur Jorge não pode " pelo investimento que fez e pela oportunidade que se apresenta " tirar o pé do Campeonato Brasileiro em nome da Libertadores. Mas a Glória Eterna está muito ao alcance do Botafogo.