Viernes, 18 de Julio de 2025

‘No caso do brasil, não há volta na eletrificação’

BrasilO Globo, Brasil 6 de julio de 2025

Entrevista

Entrevista
Marcelo Godoy quer pôr um fim no que chama de "papo de churrasco ou de vizinho" de que carro elétrico não vale a pena porque a vida útil da bateria é curta. À frente da operação brasileira da Volvo Cars desde o fim de 2023, o executivo diz que "há muita desinformação" sobre veículos eletrificados, e que montadoras precisam investir na educação tecnológica dos motoristas.
Para ele, o mercado de elétricos no país "não tem volta", principalmente no segmento premium, onde a companhia sueca ocupa cerca de 17% do mercado. Hoje, metade das vendas da Volvo aqui são de veículos 100% elétricos. A infraestrutura de recarga Brasil afora, porém, ainda é um entrave para o crescimento do setor. Por isso, os carregadores viraram braço de negócio da Volvo no país, com mais de mil unidades instaladas nos últimos dois anos.
A Volvo tinha a meta de
se tornar totalmente elétrica até 2030, o que foi descartado. O que mudou?
Houve necessidade de adaptação à demanda dos clientes, porque alguns mercados ainda não estão preparados. No caso do Brasil, não há volta na eletrificação. Hoje, 50% das nossas vendas são de carros 100% elétricos. O carro elétrico foi muito bem aceito aqui, especialmente no segmento premium, porque temos uma vantagem que outros países não têm: matriz energética limpa e barata.
Como enxerga a concorrência com a chegada das chinesas?
Estamos bem à frente disso. A gente sofreu um pouco no começo do ano passado. Eles chegaram com elétricos menos sofisticados, mas mais baratos, funcionando como produtos substitutos. Mas o mercado já se estabilizou. O que temos em comum é apenas a motorização. Continuamos sendo um carro premium, é um outro tipo de produto. Torço pelo sucesso das marcas chinesas, porque elas ajudam a construir um mercado que sozinhos não teríamos força para criar.
A falta de infraestrutura
de recarga ainda é um
gargalo no Brasil.
Colocamos mais de mil carregadores de carga lenta e quase 80 de carga rápida nas estradas nos últimos dois anos. Essa estrutura ainda está aquém? Sim. Mas o mais importante é que o crescimento foi exponencial: há três anos tínhamos uns 500 ou 600 carregadores no país, hoje já são quase 10 mil. Há muitos empresários olhando para esse mercado " quando virem que é negócio, vai ter investimento. É um negócio rentável e logo teremos um equilíbrio entre número de carregadores e carros.
Muita gente tem medo de comprar elétrico por causa
da vida útil da bateria...
Toda tecnologia nova precisa ser explicada e existe muita desinformação sobre baterias. Muita gente fala que duram oito anos, mas não é verdade: são feitas para durar entre 15 e 20 anos. Monitoramos a saúde das baterias da nossa frota: de cada mil, apenas uma dá problema. Mas as pessoas escutam o vizinho ou o papo no churrasco dizendo que ‘bateria não dura’, e isso pega. É uma questão de educação. Não adianta só dizer ‘compre porque é bom’. O cliente precisa saber por que é bom. E acho que isso está acontecendo: se projetarmos o ritmo atual, este ano já chegaremos a mais de 80 mil elétricos vendidos no país.
A Volvo encerrou 2024
com 8,7 mil veículos emplacados no Brasil, 17%
do segmento premium.
Se comparar com 2023, foram vendidos 8,6 mil. Mas nesse meio tempo teve a volta do imposto de importação, que saiu de praticamente zero para 25%. Conseguimos ajustar a equação financeira, impactando menos o cliente. Para esse ano, nosso objetivo é ao redor de 9 a 10 mil unidades.
O governo brasileiro tinha incentivado muito a eletrificação com o programa Inovar-Auto, baixando as alíquotas de importação de 35% para zero, para fomentar a venda de híbridos elétricos. Era importante seguirmos o combinado. Lá atrás foi decidido que majoração seria em três anos, aumentando proporcionalmente até 35%. Aí começaram as discussões para antecipar isso. O Brasil precisa atrair investimentos, e a principal forma disso acontecer é manter as regras. Se começa a quebrar o que está posto porque alguma empresa ou entidade quer, isso reverbera para fora do setor, para qualquer indústria.
A Volvo tem duas fábricas
no Brasil, ambas no Paraná,
de veículos pesados e equipamentos de construção. Há planos para uma fábrica
da Volvo Cars?
Isso não está no nosso radar. Existe um ‘número mágico’, baseado no tamanho do mercado hoje, para que a produção local seja viável: calculamos que as vendas precisariam estar entre 20 mil e 25 mil carros por ano. Estamos abaixo desse volume, não por falta de capacidade nossa, mas porque o mercado premium ainda precisa crescer. Hoje, são cerca de 50 mil carros vendidos no setor por ano, o mesmo volume de cinco ou seis anos atrás.
Marcelo Godoy / Presidente da Volvo Cars Brasil
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