Muito barulho por uma série bobinha
crítica
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Antes mesmo de chegar ao catálogo da Netflix, "Insatiable" já tinha virado a Geni das séries. É que a sua trama conta a história de uma adolescente gorda que, depois de uma dieta feroz, perde muitos quilos e passa a atrair as atenções masculinas. Essa premissa acendeu a luz vermelha dos grupos de patrulha politicamente correta. Rapidamente, correu um abaixo-assinado nas redes pedindo o cancelamento da produção: ela seria uma ode à gordofobia. Porém, esse esforço de linchamento profilático não adiantou nada e o programa está no ar desde a última sexta-feira. Se ele merece ou não ser assistido por razões artísticas são outros 500.
Acompanhamos a aventura de Patty (Debby Ryan), uma adolescente acima do peso e alvo de bullying no ambiente cruel de um high school na Geórgia, onde o sotaque caipira impera. A própria personagem narra suas dificuldades: enquanto as colegas de classe brilhavam como cheerleaders e perdiam a virgindade com os meninos mais lindos da escola, ela só pensava em comida. Sua única companhia era uma amiga igualmente impopular. Elas passavam o tempo em casa, no quarto, devorando biscoitos. Por aí vai.
Mas "Insatiable" não se resume apenas a esses clichês. Vai fundo em diversas situações que envolvem a ditadura dos padrões estéticos. Em outra ponta, seguimos Bob (Dallas Roberts, ator que o espectador de "The walking dead" reconhecerá na hora). Advogado fracassado, ele atua no ramo dos concursos de beleza mirins. Um dia, é (injustamente) acusado de assédio sexual de uma menor e perde o emprego. Paralelamente, Patty se aborrece com um mendigo que a chama de gorda e o agride. O homem entra na Justiça pedindo uma indenização. É quando os caminhos de Patty e Bob se cruzam, gerando novas situações cômicas.
A sátira está no texto, na realização e na construção dos personagens. Tudo é caricato. Trata-se de um recado fácil de ler, presente nos figurinos e nas caretas dos atores. Fazer campanha contra "Insatiable" é levar tudo isso a sério. Ou até pior: não conseguir sequer enxergar a intenção do deboche. A série não agride por gordofobia. Seu problema é a falta de graça e o elenco de altos e baixos. No mais, a produção, inofensiva, poderia passar despercebida.