Miércoles, 08 de Mayo de 2024

O fôlego infinito de uma novela

BrasilO Globo, Brasil 20 de enero de 2019

Patrícia Kogut

Patrícia Kogut
crítica/ ‘Vale tudo’> Ótimo
Uma história que acaba de completar 30 anos anda fazendo a alegria do público. É "Vale tudo", que, além de antiga, já foi reprisada no Vale a Pena Ver de Novo e mesmo no Viva, sua exibidora atualmente. Seu bom desempenho vem levando o canal da Globosat à liderança da TV paga tanto na faixa vespertina quanto na noturna desde a estreia, em 18 de junho do ano passado.
A trama de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères com direção de Dennis Carvalho (naquela época, ainda Dênis) mobiliza rodas e rodas de conversa. Na última quarta-feira, as redes sociais ferveram com elogios a uma cena. Era uma daquelas sequências antológicas (são muitas): Heleninha (Renata Sorrah) numa de suas (também antológicas) bebedeiras, dançou até cair numa boate. Aconteceu porque ela descobriu que a mãe, Odete Roitman (Beatriz Segall), tem um caso com César Ribeiro (Carlos Alberto Riccelli). Só para lembrar o tamanho da confusão, o cafajeste tinha sido o pivô da separação do filho de Odete, Afonso (Cássio Gabus Mendes), de Maria de Fátima (Gloria Pires).
Para fazer desandar a determinação de Heleninha de resistir ao álcool não precisava muito. Frágil, ela foi uma das mais bem construídas personagens das novelas. Renata Sorrah, grande atriz, deu show gritando na pista, pedindo "um mambo bem caliente e frenético". Dênis fazia par com ela. Foi demais mesmo. Os capítulos seguintes se desenrolaram repercutindo essa trama. Odete, apaixonadíssima por César, que é um canalha, saiu de casa dois dias depois. Ela ouviu da irmã, Celina (Nathalia Timberg), que era melhor se mudar. Por essa paixão, a malvada deixou ainda a presidência da empresa. Não foi pouco.
"Vale tudo" tem grande elenco, texto primoroso e é bem dirigida. Mas conta com cenas muito mais longas do que as das novelas modernas. A qualidade da imagem também já foi amplamente superada. Até as gírias usadas pelos personagens entregam a idade da trama. Reexibida mais de uma vez, tem uma história conhecida da maior parte do público. Quais são, então, as razões desse sucesso inesgotável? Em primeiro lugar, a alta qualidade de sua dramaturgia. Cheia de diálogos afiados e corajosa, a novela não temeu tabus e desafiou o público. Odete Roitman era uma vilã no sentido irrestrito da palavra. Pisou nos filhos por paixão a César, se aliou a Maria de Fátima por apreciar seu mau-caratismo e dizia barbaridades. O alcoolismo foi retratado sem edulcoramento. E a terrível relação entre Raquel (Regina Duarte) e a filha ingrata também chocava e fazia pensar. "Vale tudo" avançava no tempo em 1988 e ainda é moderna hoje. Novelas assim andam fazendo falta em 2019.
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