Viernes, 26 de Abril de 2024

‘Got’: o melhor final possível

BrasilO Globo, Brasil 23 de mayo de 2019

Cora Rónai

Cora Rónai
Teve furos? Teve, vários. Poderia ter sido melhor? Talvez. Mas quando "Game of thrones" chegou ao fim no domingo passado, depois de nove anos, oito temporadas, 71 episódios e mais de 72 horas de vídeo (três dias inteiros e 16 minutos para quem quiser assistir de enfiada) e incontáveis resenhas, críticas, discussões e teorias, muita gente ao redor do planeta sentiu que tinha sido testemunha de algo épico. Nunca se fez televisão na escala de "Game of thrones" " e há muito tempo não havia uma história que fizesse tanta gente parar em frente a um aparelho de televisão, no mundo inteiro, no mesmo horário, para viver as mesmas emoções de forma tão intensa.
Quando Jon Snow se juntou a Tormund e aos Selvagens para desaparecer lentamente entre as ávores do Norte (e as palavras "The End" não foram exibidas), me senti imensamente grata à HBO, aos showrunners, aos diretores, aos atores, àquela quantidade enorme de nomes que desfilam nos créditos finais e, last but not least, a George R.R. Martin, que durante tantas noites me transportaram a um mundo mágico de reis, rainhas, dragões, lobos, zumbis e gente má em geral.
Tyrion, um personagem que encolheu nas últimas temporadas, retomou o brilho antigo, e nos lembrou de que o que une as pessoas são as histórias.
São mesmo.
Somos os únicos animais que se sentam em torno do fogo e inventam histórias " e enquanto estávamos lá, todos juntos, grudados nas nossas telas novíssimas, estávamos também, sem perceber, ligados aos nossos ancestrais, por um fio de narrativas que começa antes da primeira sílaba do tempo registrado.
Não nego o valor de séries que se podem assistir de uma vez só, no momento mais conveniente, mas "Game of thrones" mostrou que as notícias da morte da ficção na TV tradicional foram muito exageradas: a experiência coletiva tem um impacto único, uma carga de sentimentos compartilhados que só encontra paralelo nas transmissões esportivas.
Para mim, "Game of thrones" se dividiu em duas partes: aquela que acompanhou os livros, e as duas temporadas finais. As duas partes foram extraordinárias, mas diferentes. A primeira subverteu tudo o que imaginávamos conhecer sobre trajetórias de heróis, a segundo concluiu várias histórias que nunca soubemos como terminavam. Houve uma diferença sensível de ritmo entre as duas partes e, sobretudo, uma diferença ainda maior em sutilezas de enredo e na qualidade dos diálogos. George R.R. Martin deu aos seus personagens uma densidade que David Benioff e D. B. Weiss não foram capazes de recriar "o que era previsível, considerando que George R.R. Martin não é exatamente um produto que dá em árvores ou que se pode comprar em oficinas de escrita criativa.
O final foi o Final Feliz que era possível fazer: não há finais inteiramente felizes nunca, nada é simples, ações têm consequências. Vários fios soltos ficaram por atar " os bilhetes de Varys, a real identidade de Jon Snow, a (não) reação dos dothraki diante da morte da sua khaleesi, a reunião de condomínio que elegeu o novo síndico sem qualquer objeção. Tudo isso poderia ter sido resolvido a contento com alguns episódios a mais, mas o último capítulo da melhor série de todos os tempos fechou com inteligência e arte uma longa noite diante do fogo.
Valar Morghulis.
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