Lunes, 07 de Julio de 2025

Dois documentários sobre o racismo

BrasilO Globo, Brasil 2 de agosto de 2020

Patrícia Kogut

Patrícia Kogut
crítica/ ‘Meu nome é MLK Jr.’ e ‘Eu não sou seu negro’> Ótimos
Desde o assassinato brutal de George Floyd, o movimento Vidas Negras Importam ganhou fôlego redobrado. Nas ruas e na consciência de todos nós. Nos últimos domingos, falei sobre o assunto e indiquei algumas séries (as críticas estão no site). Hoje volto a ele porque o Globoplay acaba de lançar uma seção de documentários sobre o tema. Os primeiros seis títulos já estão disponíveis. Vale maratonar.
Sugiro começar com "Meu nome é MLK Jr.". A produção mostra a vida e a militância do prêmio Nobel da Paz até sua morte, em 1968. Recupera os principais momentos históricos da luta pelos direitos civis nos EUA, entremeando-os com depoimentos dos que viveram aquele período e com análises de ativistas de hoje. Feito em 2015, o filme acaba por dialogar, não de forma explícita, com o movimento Vidas Negras Importam, surgido depois da absolvição em 2013 dos policiais que mataram o jovem Trayvon Martin.
Ao abordar a oposição de Martin Luther King à guerra do Vietnã, a produção reproduz estas palavras dele, de abril de 1967: A time comes when silence is betrayal (em tradução livre, chega um momento em que calar é traição). A frase não era de King. Ele estava concordando com um documento que acabara de ser divulgado pelo movimento Clérigos e Leigos Preocupados com a Guerra do Vietnã, criado em 1965. Embora fosse uma referência direta à objeção ao Vietnã, ela faz lembrar o que os ativistas dizem hoje: "Não silenciem, denunciem o racismo". "Meu nome é MLK Jr." mostra seu biografado dirigindo-se a plateias, sempre brilhante. Mas evita o trecho de seu mais conhecido discurso, em que ele diz "I have a dream". Com isso, ilumina todo um repertório de outras falas tocantes. O filme é excelente. E se prepare: fica difícil segurar a emoção.
Em seguida, vale ver o "Eu não sou seu negro". Sofisticado, o documentário parte de um projeto de livro jamais levado adiante pelo escritor James Baldwin. Em trinta páginas, ele explicou em 1979 à sua editora o que pretendia fazer. Amigo de Martin Luther King, Malcolm X e Medgar Evers, todos assassinados, Baldwin tinha a intenção de mostrar as três visões sobre como combater o racismo. Além da sua própria. Usando o que escreveu no projeto e aparições do escritor em programas de televisão, o documentário apresenta a análise requintada de Baldwin sobre a luta antirracista. Forte e muito bem construído, tem trechos que impactam e, novamente, dialogam com os tempos presentes. A certa altura, Baldwin diz que, embora tivesse amigos brancos no ensino médio, estes jamais o conheceram de fato, porque nunca estiveram na casa dele, no Harlem, nem presenciaram o que se dizia e o que se fazia em sua cozinha. Provavelmente nada tinham contra os negros, mas não sabiam como eram de verdade. E não poderiam falar dele nem dos negros com propriedade, portanto. O que remete de alguma maneira ao conceito tão discutido hoje de "lugar de fala". Em outro trecho, ao tratar dos linchamentos, Baldwin diz, com amargura, mas desafiador, que os negros tinham uma vantagem: os brancos nunca prestaram atenção aos negros, mas os negros prestaram sempre muita atenção aos brancos. Por isso, os conheciam melhor. É cortante. Sua forma de desenvolver uma ideia, falando longamente sem desviar do que quer dizer, impressiona. É um pensamento firme, reto e sem hesitações, algo que só pode emanar da mais profunda convicção e ser fruto da vivência. Dois documentários, uma contribuição valiosa para os debates atuais.
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