Banco paranaense acusa transferwise de fraude
O banco paranaense MS Bank, que até 18 de fevereiro era o responsável pelas transações de câmbio ...
O banco paranaense MS Bank, que até 18 de fevereiro era o responsável pelas transações de câmbio da empresa inglesa TransferWise (hoje denominada Wise) no Brasil, afirma ter identificado que a companhia, sediada em Londres, usou nomes e dados de mais de 600 mil clientes para enviar dinheiro ao exterior de maneira irregular e sem pagar impostos. Segundo o banco, a suposta fraude envolveria mais de R$ 100 milhões.
Procurada, a TransferWise nega que tenha cometido qualquer crime e diz ser alvo de uma campanha de difamação do banco que era seu parceiro até o mês passado. E diz que tomará as providências judiciais cabíveis.
"A empresa fraudou transferências internacionais sem o conhecimento do banco e dos usuários da plataforma, envolvendo seus nomes em ilegalidades que podem levar a até seis anos de prisão", diz o comunicado do MS Bank, divulgado na noite de sexta-feira.
Um vídeo divulgado pelo banco explica que, na suposta fraude, usuários da plataforma encomendavam uma quantidade em moeda estrangeira e a TransferWise "manipulava as informações" e informava ao MS que o cliente havia adquirido uma quantia maior do que o volume contratado. A empresa inglesa, diz o banco, ficava com o valor excedente e o mandava ao exterior sem pagar os impostos devidos.
Reclamações nas redes
No vídeo, o banco pede a clientes que operavam via TransferWise que chequem no sistema Registrato, do Banco Central, se os valores informados correspondem às quantias encomendadas. E denunciem irregularidades ao BC.
Após o comunicado do MS, surgiram relatos em redes sociais de clientes que teriam identificado no site do BC diferenças entre os valores registrados e os dos recibos.
" No relatório do Registrato, havia uma transferência em dólar, em 26 de novembro de 2020, que não fiz. Achei esquisito e resolvi pesquisar o meu histórico na TransferWise. Não tinha transferência no dia 26, mas tinha no dia anterior, de euro para real, em valores muito similares " diz a advogada brasileira Stéphanie Leal, que mora em Amsterdã e usava a plataforma desde 2019.
Ao GLOBO, o presidente do MS Bank, Marcelo Sacomori, disse que o banco identificou algumas irregularidades no fim de 2018, mas considerou que fossem erros no sistema. Como as inconsistências continuaram, a instituição resolveu, em 2019, notificar o Banco Central e a Receita Federal:
" Em setembro de 2020, BC e Receita concluíram que as operações eram irregulares. No dia 17 de setembro, impusemos unilateralmente à TransferWise a decisão de reter os impostos devidos em cada operação. Rompemos a parceria definitivamente, por nossa decisão, no dia 18 de fevereiro e, há duas semanas, notificamos o Ministério Público Federal sobre o caso, porque acreditamos que há crime contra o sistema financeiro.
Segundo ele, a Receita multou o MS Bank em R$ 16,3 milhões em 2020, após constatar as irregularidades. Sacomori acrescentou que o MS pretende entrar na Justiça contra a TransferWise para buscar ressarcimento por prejuízos e danos ao banco e a seus clientes.
O GLOBO entrou em contato com o BC e com a Receita Federal para confirmar o assunto, mas não obteve resposta até o fechamento da edição.
Procurada, a TransferWise, em nota, afirmou que "segue rigorosamente a legislação tributária e a regulamentação local no Brasil e nos mais de 50 países em que atua". E disse desconhecer "qualquer investigação ou acusação em seu nome por nenhum órgão regulador ou autoridade, embora saiba estar a ser alvo de campanha difamatória de ex-parceiro comercial insatisfeito com término da parceria".