Domingo, 05 de Mayo de 2024

Scholz se reúne com lula hoje de olho em ampliar parceria e desenvolvimento sustentável

BrasilO Globo, Brasil 30 de enero de 2023

ofensiva de charme

ofensiva de charme
Desde agosto de 2015, um chanceler alemão não viajava a Brasília. Após os então presidentes Michel Temer e Jair Bolsonaro serem ignorados, Luiz Inácio Lula da Silva recebe hoje no Planalto Olaf Scholz, chefe de governo da quarta maior economia do mundo, com meio ambiente, apoio à democracia e o acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) no topo da agenda. O seu desafio é fazer andar uma parceria que há muito parece promissora, sem jamais alcançar o pleno potencial.
Para o Brasil, o interesse é elementar. Após quatro anos de ostracismo, durante os quais não houve uma só recepção oficial a Bolsonaro em uma grande capital europeia, o governo deseja antes de tudo reativar a sua política externa e se aproximar de um país rico e poderoso, com potencial de maior cooperação em áreas como clima e tecnologia e interesses convergentes em temas como a reforma do Conselho de Segurança da ONU.
" Este encontro tem a missão primária de restabelecer as relações. O Brasil precisa ter uma política exterior, o país é grande demais para não ter uma orientação internacional " afirmou ao GLOBO Dawisson Belém Lopes, professor de Relações Internacionais da UFMG. " A Alemanha é o país mais rico da Europa, fundamental nas relações internacionais, e as relações estão abaixo do seu potencial. O Brasil busca retomar o curso normal.
brasil é potencial aliado
Para a Alemanha, a situação é mais complexa. Depois de obter enormes vantagens com a ordem internacional do pós-guerra, sobretudo após o fim da Guerra Fria, Berlim se vê em um mundo mais hostil, de rivalidade entre superpotências e uma guerra a 1.500km da fronteira. O Brasil surge como potencial aliado importante:
" As transformações do sistema internacional são muito preocupantes para a Alemanha. Um mundo mais multipolar é mais hostil. A Alemanha se preocupa com a tensão crescente entre EUA e China " afirmou Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV/SP. " O Brasil surge como um ator de destaque na própria região. Embora não se compare com EUA e China, pode ser um parceiro importante para garantir a resiliência do multilateralismo.
afinidades ideológicas
A vinda célere de Scholz " a primeira de um líder europeu, que deve ser seguida em breve pelo presidente da França, Emannuel Macron " indica como Berlim quer demonstrar que valoriza a relação, numa tática que o telejornal Tagesschau chamou de "ofensiva de charme". Outra sinalização já ocorreu na posse de Lula, prestigiada pelo presidente Frank-Walter Steinmeier.
Uma afinidade ideológica liga o Partido Social-Democrata (SPD), de Scholz, e o PT de Lula desde os anos 1980. Em 2018, o presidente recebeu uma visita do ex-líder do SPD Martin Schulz na prisão. Em novembro de 2021, Scholz, já eleito, se reuniu com Lula em Berlim, e disse estar "encantado". Só de 2003 a 2005, os partidos chefiaram governos ao mesmo tempo.
Os desafios são muitos. A influência alemã no Brasil vem diminuindo. Enquanto o país europeu tinha uma participação de 9,4% nas importações brasileiras em 2002, esse percentual caiu para apenas 5,1%, enquanto as da China subiram para 22,4%. Em análise recente, a Fundação de Ciência e Política (SWP), de Berlim, diz que "narrativas que postulam ‘valores comuns’, ‘parceria estratégica’ ou um ‘diálogo olhos nos olhos’" são "retóricas ilusória" que "cada vez fazem menos justiça" aos fatos.
Quando Angela Merkel veio ao Brasil em 2015 para se encontrar com Dilma Rousseff, cujo governo já estava em crise, manifestou interesse em investir em infraestrutura. O seu vice-ministro das Finanças deixou claro que isso não ia acontecer " como de fato não ocorreu " exceto se o Brasil apresentasse um "quadro mais interessante", isto é, reformas estruturais.
Um artigo publicado na semana passada no site da DW afirma que na América do Sul "a Alemanha é um pouco como o velho amigo de escola que bate à porta a cada poucos anos, brinda à amizade mútua e aos velhos tempos e depois desaparece. Uma estratégia que está claramente a atingir seus limites face à difícil conjuntura geopolítica mundial".
Contra isso, o SWP propõe "não apenas retomar a cooperação, mas também remodelá-la", por meio, por exemplo, de "desenvolvimento tecnológico conjunto" ou do "uso sustentável de recursos". Scholz parece disposto a isso. Na Argentina e no Chile, onde ele esteve no fim de semana, estiveram em pauta projetos de desenvolvimento envolvendo lítio e hidrogênio verde.
R$ 3,3 bi em recursos
No Brasil, o principal interesse está na preservação da Amazônia. O Itamaraty informou que Scholz vai oficializar hoje a liberação de € 31 milhões (R$ 172 milhões) para o Fundo Amazônia. Os recursos serão divididos em duas partes, com € 10 milhões (R$ 55 milhões) para projetos de bioeconomia e outros € 21 milhões (R$ 116 milhões) para o combate ao desmatamento.
A Alemanha se comprometeu em dezembro a aplicar rapidamente € 35 milhões (R$ 194 milhões) do fundo, que tem cerca de € 600 milhões (R$ 3,33 bilhões) disponíveis para novos projetos. O fundo estava congelado desde 2019, quando o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mudou as regras da gestão dos recursos sem consultar Alemanha e Noruega, os seus doadores.
Dezenas de empresários viajam juntos a Scholz e se reúnem separadamente com o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin. Também participa do encontro a ministra do Desenvolvimento da Alemanha, Svenja Schulze. Segundo ela, o foco da política de desenvolvimento alemã no Brasil deve ser em "bens globais: clima, florestas tropicais, biodiversidade".
Na agenda de Lula e Scholz " que inclui uma reunião à tarde e um jantar " também estará em pauta o acordo Mercosul-UE, assinado em 2019 mas jamais ratificado. Países europeus desde então atribuem à devastação na Amazônia o motivo para o acordo não andar. Na quarta-feira, Lula disseque considera o pacto uma pauta "urgente". O PT já sinalizou que deseja rever algumas cláusulas, por considerá-las pouco vantajosas.
defesa da democracia
Defesas enfáticas da preservação da democracia e dos direitos humanos no Brasil devem ser feitas por Scholz à imprensa. A guerra na Ucrânia pode vir a ser citada nas conversas, mas não deve ocupar espaço central na agenda. Há grande cooperação acadêmica entre os dois países, e anúncios neste sentido são aguardados. No mais, a expectativa é de que este seja só um primeiro passo de uma parceria mais intensa.
" A Alemanha quer cooperar. Quer fazer contribuição com tecnologia, na economia, no meio ambiente " disse Kai Michael Kenkel, professor de Relações Internacionais da PUC-Rio. " Na Alemanha, há um enorme alívio por uma volta à normalidade no Brasil. Na imprensa alemã se diz que "temos nosso parceiro de volta". Estão muito felizes por ter no Brasil alguém com quem possam falar sensatamente.
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