Arte digital para denunciar a censura de maduro
O Efecto Cocuyo, um dos principais sites de notícias independente da Venezuela lançou ontem 486 ...
O Efecto Cocuyo, um dos principais sites de notícias independente da Venezuela lançou ontem 486 NFTs colecionáveis, um para cada dia da censura que sofre do regime de Nicolás Maduro. A iniciativa transforma em arte digital a mensagem mostrada aos usuários que são impedidos de acessar as notícias, em uma tentativa de chamar atenção para a situação e arrecadar dinheiro para que o trabalho independente possa continuar.
Em um comunicado, o site afirmou que seu trabalho vem sendo comprometido há dois anos pelos bloqueios impostos pelo governo venezuelano, mais uma incidência da notória censura contra meios independentes. De acordo com a nota, a organização VE Sin Filtro " que desde 2014 monitora restrições na internet venezuelana " constatou o bloqueio do site nos principais Provedores de Serviços de Internet (ISPs, na sigla em inglês) do país.
"Os bloqueios começaram, de forma sistemática e frequente, entre 31 de janeiro de 2022 e 1º de fevereiro de 2022, com as primeiras medições da evidência de censura feitas à 0h40 da madrugada, hora venezuelana", diz o Efecto Cocuyo. "Essas restrições se somam a uma ampla lista de bloqueios da internet na Venezuela, incluindo mais de 35 sites de notícia nas eleições regionais de 2021", acrescentou.
Tais ordens de bloqueio, afirma o site, são implementadas por determinação do órgão regulador de telecomunicações " "processo que tipicamente ocorre sem ordem judicial, sem embasamento legal claro, sem transparência e violando os padrões internacionais de direitos humanos". Via de regra, são aplicados pela CANTV, a companhia de telecomunicações do Estado.
No caso do Efecto Cocuyo, aderem aos bloqueios operadoras privadas como a Movistar, a Digitel, a Supercable e a Inter, fazendo com que os usuários que tentam acessar o site recebam uma mensagem de erro. Os NFTs serão imagens destas mensagens, representando o número total de dias desde que a censura começou até ontem. Cada um custa o equivalente a US$ 190 (R$ 940).
Projeto de mulheres
"Cada NFT é uma maneira de apoiar financeiramente o Efecto Cocuyo e inclui acesso a um arquivo que pode ser baixado e contém as principais notícias publicadas pelo Efecto Cocuyo que foram afetadas pela censura", afirma o site.
O Efecto Cocuyo foi fundado em janeiro de 2015 por um grupo de mulheres jornalistas liderado por Josefina Ruggiero, Laura Weffer e Luz Mely Reyes. O objetivo do site é informar de forma livre e transparente em um país onde o trabalho da imprensa é cada vez mais cerceado.
O Efecto Cocuyo, por exemplo, noticiou a fundo a vinda de Maduro ao Brasil na semana passada para a cúpula com líderes latino-americanos " e as controversas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criticou a "narrativa antidemocrática" contra a Venezuela. Em uma de suas reportagens, o site disse que as críticas a Lula "vieram de todas as frentes após receber com honras e defender" Maduro.
"Parcialidade de Lula com Maduro o descarta como mediador de conflito político, dizem analistas", afirma a manchete de outras notícia da publicação.
Imprensa assediada
No ranking anual da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) de 2023 sobre liberdade de imprensa, a Venezuela ocupa a 159ª de 180 posições, marcando 36,99 de 100 pontos possíveis. O lugar é o mesmo do ano passado. Na América Latina, perde apenas para Honduras e Cuba.
"Desde que chegou ao poder em 2013, Maduro continuou com a política de 'hegemonia comunicacional que foi implementada por seu antecessor, Hugo Chávez", diz o site da RSF. "A Venezuela vive um prolongado ambiente restritivo, com políticas que ameaçam o exercício completo do jornalismo independente."