Lunes, 29 de Abril de 2024

Investimentos com pegada sustentável dão retorno?

BrasilO Globo, Brasil 28 de agosto de 2023

A B3 lançou recentemente o Idiversa, índice que reúne empresas com diversidade no seu ...

A B3 lançou recentemente o Idiversa, índice que reúne empresas com diversidade no seu quadro de funcionários. Esse será mais um dos índices de companhias alinhadas às condutas ESG, sigla em inglês que se refere a meio ambiente, social e governança. Mas, embora o discurso seja o de que empresas mais sustentáveis têm mais longevidade e resultados melhores devido as suas boas práticas, os números mostram que esses índices ainda perdem do Ibovespa. Segundo especialistas, no entanto, isso não invalida os benefícios de se investir em ESG.
Nos últimos dez anos, de dezembro de 2012 a 23 de agosto de 2023, o Ibovespa acumula alta de 93,82%. O ISE, que reúne as companhias com as melhores práticas de sustentabilidade, subiu metade disso no mesmo período: 44,18%. O índice de carbono eficiente (ICO2), que reúne ações de empresas que adotaram práticas transparentes com relação às emissões de gases do efeito estufa, subiu 83,56%, ainda dez pontos percentuais a menos que o Ibovespa.
Os números, no entanto, têm uma contrapartida: desde que o ISE foi criado, em 2005, sua variação anual conseguiu superar a do Ibovespa em 11 anos. Apenas nos outros seis o principal índice da B3 bateu o de sustentabilidade, segundo levantamento feito pelo pesquisador William Eid, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV).
" Dá para ver que não há um padrão. Tem ano em que um índice se sai melhor, em outros anos o outro supera. No acumulado desses anos, o Ibovespa tem mais valorização. Aí vem a questão: por que não há padrão? Porque nosso mercado é muito pequeno para montar uma tese consistente que mostre algo " afirma Eid.
Segundo ele, o fato de haver poucas empresas na Bolsa faz com que seja mais difícil criar um índice bem segmentado e ver um efeito significativo. E é justamente o que acontece com o ISE. Não há ações suficientes no mercado para fazer um mapeamento minucioso de suas práticas ESG e separá-las em um índice de acordo com o que elas apresentam para, a partir daí, apurar os efeitos na variação dos papéis.
Questão de propósito
Outro fator que, segundo os especialistas, deve ser considerado ao comparar índices de sustentabilidade com o Ibovespa é o peso da Vale (que representa 12,5% da carteira) e da Petrobras (cujas ações ordinárias são 4,99% do índice e as preferenciais, 6,96%). Nenhuma delas está no ISE.
" Quando se tem uma notícia boa ou ruim sobre uma dessas empresas, isso mexe muito com o Ibovespa e o descola demais desses índices de sustentabilidade " diz Eid.
No entanto, muito além do retorno, existe outro fator a ser avaliado ao se comparar os índices: o risco. E, segundo os especialistas, nesse quesito o ISE sai na frente, porque os índices de sustentabilidade mostram menos volatilidade.
Henio Scheidt, gerente de Índices da B3, explica que um estudo da Universidade de Nova York sobre o tema ESG apontou três conclusões: os índices de sustentabilidade têm performance melhor no longo prazo; eles protegem mais o investidor em cenários de queda; e a adoção de boas práticas traz mais inovação e melhores práticas de gestão de risco para as companhias.
" É importante falarmos do fator retorno, mas também do aspecto risco. E a volatilidade dos índices de sustentabilidade é menor do que a do Ibovespa. Então, há um risco menor " diz Scheidt.
Segundo o professor Eid, estudos feitos em mercados maiores do que o brasileiro mostram o mesmo resultado: volatilidade menor nos índices ESG. Mas ele ressalta que quem deseja investir em ESG deve fazê-lo por uma questão de propósito e missão:
" Se quero investir em empresas com diversidade e respeito ao meio ambiente, preciso entender que, independentemente do resultado financeiro, é essa a minha missão. Muçulmanos não investem em nada relacionado a bebida, fumo, jogo. Porque vai contra os valores deles. É isso que muita gente deve seguir.
novos produtos
Para Sonia Consiglio, especialista em sustentabilidade e SDG Pioneer pelo Pacto Global da ONU, a discussão vai além justamente pelo fato de os consumidores estarem mais atentos à agenda ESG:
" Antes era bom cumprir essa agenda, agora é necessário. Adotar práticas ESG deixou de ser um diferencial competitivo para ser uma condição para competir.
O assunto tende a ganhar cada vez mais holofotes e, consequentemente, mais produtos financeiros. A própria B3 já estuda lançar, com alguns parceiros, um ETF (fundo que acompanha índices da Bolsa) atrelado ao Idiversa.
Scheidt, da B3, diz não saber se o Brasil chegará a um estágio em que a agenda ESG será uma realidade em todas as companhias a ponto de não ser mais necessário ter um ISE, mas reconhece que esse é o caminho ideal. E ressalta que, com o tempo, devem surgir análises e índices mais detalhados na agenda de sustentabilidade. E os investidores devem ficar atentos.
O bolso gosta, e o planeta agradece.
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