Empresas são as maiores usuárias de ia
Os grandes usuários da inteligência artificial não são as milhares de pessoas comuns que ...
Os grandes usuários da inteligência artificial não são as milhares de pessoas comuns que usam o ChatGPT ou o Bard para realizar uma tarefa ou outra. Para Meredith Whittaker, presidente da Signal e cofundadora do AI Now Institute, usuários de fato da IA são as empresas que, a partir da automatização de tarefas, vão usar a tecnologia para reduzir despesas e cortar postos de trabalho.
" O que eu quero dizer é que a IA geralmente é usada em nós, não por nós " resume a pesquisadora, em entrevista ao GLOBO, durante o Web Summit, maior evento de tecnologia e inovação da Europa, semana passada, em Lisboa.
A pesquisadora, que trabalhou por mais de uma década no Google e fundou o braço de pesquisas da gigante de tecnologia, hoje é uma crítica ao modelo de negócios criado pelas big techs, incluindo a forma como lidam com vigilância e privacidade.
No caso da IA, Meredith usa o exemplo das greves em Hollywood para explicar a diferença entre ser usuário e ser o objeto da tecnologia, aquele que acaba afetado por ela.
" Escritores em Hollywood estão brigando contra os estúdios onde os grandes executivos estão tomando a decisão de assinar contratos para licenciar o ChatGPT em nome da melhora da produtividade. Não são os escritores que estão fazendo isso para tornar o trabalho deles melhor.
Em Hollywood, as greves ocorreram porque atores, roteiristas e trabalhadores da indústria reivindicavam, entre outros pontos, proteções contra o uso sistemático da IA por estúdios e produtoras.
" Os escritores e trabalhadores são o objeto da IA. E os executivos, conselheiros e grandes empresas de tecnologia que estão negociando esses contratos são os verdadeiros usuários da IA " avalia.
No AI Now Institute, a pesquisadora estuda as implicações sociais da IA e da indústria responsável pela tecnologia. No Web Summit, ela questionou as alegações de que a IA pode substituir completamente o trabalho humano. Para ela, o risco mais iminente é o das inteligências artificiais acabarem piorando as condições de trabalho existentes " como em Hollywood.
Meredith explicou que a ferramenta pode acabar por "exacerbar desigualdades entre aqueles em que a IA é mais usada e aqueles que são os grandes usuários da IA", à medida em que ganharem escala.
Atenção à regulação
Meredith diz não ter solução pronta a oferecer para esses riscos, mas defende considerar o custo humano:
" Precisamos pensar nas potencialidades que a tecnologia oferece e, de outro lado, nas que nos retira, para então pensar sobre como ela pode nos ajudar a construir um mundo mais habitável.
Regular a IA "em um ambiente de pânico" pode gerar mais consequências negativas do que o contrário, avalia Andrew Sullivan, presidente da Internet Society, que trabalha em defesa de uma internet segura e acessível.
Em entrevista ao GLOBO, em Lisboa, ele diz que é difícil prever que usos irão emergir das ferramentas de IA,cada vez mais populares. Por isso, criar regulações nesse momento pode ter, como efeito, legislações ineficientes:
" Nós ainda não sabemos por completo o que as pessoas estão fazendo com a inteligência artificial. Uma das minhas preocupações é se essa reação em torno da IA vai ser efetiva. Essas arquiteturas são novas, a gente ainda não sabe exatamente para que funcionam.
*A jornalista viajou a convite do WebSummit