No cerrado, o avanço de uma das especiarias mais caras do mundo

Uma das especiarias mais caras do mundo, a baunilha tem atraído produtores brasileiros que já apostam até na exportação das favas. O ingrediente, obtido a partir de uma planta trepadeira da família das orquídeas, é demandado na gastronomia e pelas indústrias de perfumes e farmacêutica, mas a produção ainda é concentrada na África, especialmente em Madagascar e nas Ilhas Maurício. Assim, há, nesse mercado, espaço para a baunilha brasileira, cultivada no Cerrado.
" Os produtores nacionais conseguem negociar o grama da baunilha por entre R$ 3 e R$ 5. Há uma demanda grande, e o Brasil tem potencial para crescer nesse mercado " afirma Luciano de Bem Bianchetti, pesquisador de recursos genéticos e biotecnologia da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
No Brasil, as variedades de orquídeas (do gênero Vanilla) que produzem a baunilha são nativas da Mata Atlântica e da Amazônia. E pequenos produtores estão tendo sucesso no cultivo de uma delas no Cerrado, a Vanilla pompona. A espécie, conhecida como baunilha baiana, é encontrada nas Américas Central e do Sul, e não existe em Madagascar.
Márcio Moraes, de Itapirapuã (GO), iniciou o cultivo há cinco anos numa área de palmeiras. Hoje, cultiva dois mil pés entre manejo extensivo, na mata, e intensivo, em um viveiro, e recebe produtores de todo o Brasil para compartilhar seu aprendizado. E exporta parte de sua produção para Suíça, Bélgica, França e EUA.
Características únicas
Não é só o aroma que torna a baunilha tão valorizada. As orquídeas que dão origem a ela florescem e produzem frutos apenas a partir do segundo ou terceiro ano. E o florescimento acontece uma ou duas vezes por ano, com só uma flor a cada ciclo. O detalhe é que a flor fica aberta por um dia e tem período de sucesso da polinização em torno de quatro horas. Por isso, em plantios comerciais, é recomendado que a fertilização/polinização seja feita manualmente. Só com a polinização adequada a flor dará origem à fava.
" A prática é criteriosa e exige preparo, mas um trabalhador experiente é capaz de fertilizar entre 1,5 mil e 2 mil flores por dia " diz Anajulia Heringer Salles, que cultiva em Brasília mil pés de espécies variadas, distribuídas em três viveiros e um berçário utilizado para cruzamentos e estudos.
Outra ponto é que os frutos levam de oito a dez meses para iniciar a maturação. Nesse estágio, ainda não há aromas. Após colhidos, passam por descanso de dois a dez meses, no qual ocorre a secagem e a fermentação de seus mais de duzentos componentes. É esse processo que confere aroma à baunilha, explica Anajulia, que estudou orquídeas quando era pesquisadora no Jardim Botânico de Brasília. Após a aposentadoria, decidiu apostar na produção de baunilha.
Os preços da baunilha têm flutuações significativas no mercado internacional, reflexo da disponibilidade limitada e da qualidade dos produtos.
Segundo a Embrapa, são conhecidas cerca de 110 espécies do gênero Vanilla, sendo perto de 40 delas com frutos aromáticos. Estas ocorrem apenas na América Tropical, tendo sido levadas à África por volta de 1800. O Brasil é o país com a maior diversidade de espécies, de 35 a 40, sendo 15 com frutos aromáticos e três de valor comercial: Vanilla phaeantha, Vanilla chamissonis e a Vanilla pompona.