Fatia de pessoas físicas no aluguel de ações dispara
Há pouco tempo, as negociações de "aluguel de ações" eram praticamente restritas a ...
Há pouco tempo, as negociações de "aluguel de ações" eram praticamente restritas a investidores institucionais (fundos, bancos, seguradoras ou corretoras), tanto na ponta "doadora" (o "proprietário" que aluga suas ações para outro investidor) como da ponta "tomadora" (quem pega os papéis, o "inquilino"). Mas esse quadro mudou. Vendido pelas plataformas de investimentos por meio do serviço de custódia remunerada, o aluguel de ações caiu no gosto do investidor pessoa física. De 17,7% do volume movimentado por "doadores" em 2019, investidores individuais representam hoje 38,2%, segundo dados da Bolsa de São Paulo, a B3. Já o volume mensal médio mais que dobrou no mesmo período, de R$ 58,3 bilhões para R$ 123 bilhões. Mas, afinal, como funciona? Há riscos? É lucrativo?
A custódia remunerada é um serviço de aluguel de ativos oferecido por bancos, corretoras e plataformas de investimento, que, basicamente, fazem a ponte entre quem tem as ações e quem quer alugá-las.
Por exemplo, o gestor de um fundo avalia que o preço de um determinado papel vai cair. Então, ele "aluga" essa ação de um investidor por um período predeterminado, pagando uma taxa. O papel custa R$ 10, e o aluguel, R$ 1. Com o papel na carteira, o gestor pode vendê-lo e embolsar R$ 10.
Pouco depois, o valor da ação cai de R$ 10 para R$ 5. O gestor, então, recompra a ação por R$ 5 e a devolve para o "doador" (o dono oficial) no prazo estipulado. Ele embolsou R$ 4 nessa operação, porque recebeu R$ 10 na primeira venda e gastou R$ 5 na recompra e R$ 1 no aluguel.
O valor do aluguel (R$ 1, no exemplo citado) é dividido entre o dono da ação e a corretora que fez a intermediação.
O risco da operação é do "tomador", porque ele se compromete a devolver a mesma quantidade de ações que alugou. Então, se ele apostou na queda, mas o papel subiu, ele terá prejuízo, já que terá de comprar a ação alugada por um valor maior, a fim de devolvê-la no prazo estipulado.
Já o "doador" tem a garantia da B3 de que vai receber a ação de volta. Além disso, permanece como proprietário do papel. No período do aluguel, o "doador" não pode vender essas ações nem votar nas assembleias de acionistas, mas continua a receber os dividendos e demais rendimentos pagos pela empresa, o que torna a operação bastante atraente.
" O empréstimo de ativos pode ser uma boa opção para quem possui ações e não tem intenção de vender no curto e médio prazo. É uma forma de remunerar seus ativos parados " diz Henrique Chagas, especialista de Produtos da B3.
Segundo analistas, o maior interesse do investidor pessoa física nesse tipo de operação se deve à maior informação sobre o aluguel de ações e ao avanço da tecnologia. Rogério Calabria, superintendente de produtos de investimento do Itaú Unibanco, lembra que hoje, para autorizar o aluguel de suas ações, basta um clique.
As plataformas fazem toda a mediação, desde encontrar "tomadores" a negociar com eles preço e prazo do aluguel, e como será feito o pagamento.
"O aluguel de ações sempre existiu no mercado financeiro. Mas agora, os bancos fazem esse serviço pelo cliente " diz Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa variável do BTG Pactual.
Caso o investidor queira tirar suas ações do aluguel e não usar mais o serviço de custódia remunerada, a saída também é pelo próprio app. É o caso de instituições como BTG Pactual, Ágora (plataforma ligada ao Bradesco), Santander e Itaú.
oferta e procura
O que diferencia as corretoras entre si é a facilidade em alugar as ações e a taxa cobrada pelo serviço (geralmente é uma porcentagem do ganho com a operação). Algumas têm mais clientes na ponta "tomadora", o que aumenta as chances de o "doador" conseguir alugar suas ações.
" Para papéis que têm muita liquidez, o cliente vai conseguir alugar, independentemente da corretora. Mas para papéis mais difíceis de alugar, fará a diferença a plataforma que tem mais relacionamentos com "tomadores" " diz Bruno Racioppi, responsável pela mesa de aluguel da Ágora.
Quanto à taxa, Santander e BTG Pactual cobram 50% do valor recebido com o aluguel; Ágora, 40%; e Itaú, 30%. Já o valor a ser recebido pelo aluguel dependerá da oferta e da demanda. Papéis como Petrobras, Vale, Itaú Unibanco e Banco do Brasil, que estão entre os de maior liquidez e mais alugados, oferecem remuneração na faixa de 0,2% ao ano. Por exemplo, se a ação custa R$ 100, o "doador" ganha R$ 0,20 por ano com ela. É pouco, mas o investidor pode ter várias ações daquela empresa e alugar todas, então esse montante cresce. Para receber mais, é preciso ter papéis com forte demanda. É o caso de empresas envolvidas em alguma mudança de controle acionário ou ações cujo valor oscila com frequência. Por exemplo, a taxa média para as ações da Sabesp, em fase de privatização, era de 12% ao ano.
O ganho com aluguel de ações está sujeito ao Imposto de Renda, com alíquota regressiva, a partir de 22,5%.
Se o número de pessoas físicas na ponta "doadora" vem crescendo, poucas se arriscam como "tomadoras" " que ficam expostas à oscilação do papel e podem ter prejuízo. Segundo a B3, eram 4,3% do volume em 2019 e hoje são 4,4%.