Crise da avon nos eua derruba ações da natura
As ações da Natura chegaram a cair 12% no pregão de ontem da B3 com a informação de que a ...
As ações da Natura chegaram a cair 12% no pregão de ontem da B3 com a informação de que a Avon Products Inc. (API), subsidiária da marca de beleza brasileira para operações internacionais, entrou na segunda-feira com pedido de proteção contra credores nos EUA " o equivalente, no Brasil, à recuperação judicial. Os papéis da empresa fecharam com queda de 8,85%. Em um dia, a empresa perdeu R$ 2 bilhões em valor na Bolsa.
Segundo analistas, os papéis da maior companhia de produtos de beleza do país também foram afetados pelo resultado do segundo trimestre. A Natura teve prejuízo de R$ 858,9 milhões, uma perda maior que os R$ 732 milhões registrados em igual período do ano passado.
A Avon Products Inc. é uma subsidiária não operacional da Natura, e vendeu seus ativos nos EUA em 2016. Atualmente detém a marca Avon fora do mercado americano. A Natura concordou em financiar até US$ 43 milhões em custos com o processo de recuperação judicial e para que a subsidiária continue operando. O diretor-presidente da Natura, Fabio Barbosa, disse também que a empresa fez uma oferta de US$ 125 milhões pelas operações da Avon fora dos EUA.
O prejuízo do segundo trimestre, disse a Natura em balanço, veio com a contabilização de R$ 725 milhões gerados pela "reestruturação da Avon Products Inc.". Sem a baixa contábil, a empresa teria obtido lucro de R$ 162 milhões.
Nos EUA, a Avon vinha sofrendo uma onda de processos judiciais sob alegações de que o talco presente em alguns de seus produtos era cancerígeno. Esses litígios fizeram a dívida da empresa crescer. Ao entrar com o pedido de proteção contra credores no estado de Delaware, a Avon listou dívidas entre US$ 1 bilhão e US$ 10 bilhões. A Natura é a maior credora da API, com uma dívida de US$ 1 bilhão.
internacionalização
Guilherme Castellan, diretor financeiro e de Relações com Investidores da Natura, disse que nenhum impacto é esperado nas operações da Avon fora dos EUA, incluindo as operações da América Latina, onde a marca Avon é distribuída pela Natura.
Com o pedido de recuperação judicial da subsidiária na Justiça americana, Barbosa disse que os estudos para uma possível separação dos ativos da companhia internacional e da Natura foram suspensos até que a reestruturação seja concluída. A Natura tinha planos de separar os ativos da Avon Internacional, que tem presença em 37 países da Europa, Ásia e África, dos negócios da América Latina.
" A separação agora vai depender do processo na Justiça dos EUA, que é supervisionado pela corte americana. Se nossa oferta for a maior, vamos reaver os ativos da Avon internacional " afirmou Guilherme Castellan.
A depender do resultado da recuperação judicial nos EUA, o processo de internacionalização pode ser impactado, disse Barbosa:
" Nosso foco é América Latina, onde os ativos da Avon já estão com a Natura. Neste momento temos feito investimentos em alguns países, através da Avon internacional. A depender de como vai ser o processo, continuaremos com as operações e buscaremos rentabilidade em países com maior potencial. Vai depender do que acontecer no processo.
A Natura já vinha repensando sua estratégia de internacionalização, depois de uma expansão muito rápida que trouxe problemas para a operação. Em sete anos, a empresa comprou as multinacionais Aesop, The Body Shop e Avon e se transformou na holding Natura &Co. A compra da Avon elevou a Natura ao posto de quarta maior empresa de beleza do mundo.
Além de endividamento elevado, a Natura teve problemas para gerenciar as empresas compradas. Logo após a integração da Avon, as despesas operacionais do grupo saíram de R$ 9 bilhões em 2019 para quase R$ 23 bilhões em 2020. A empresa não tinha mais recursos para investir em suas operações no exterior, segundo analistas.
Ao mesmo tempo, as vendas foram impactadas pela pandemia e pela guerra da Ucrânia, e houve crescimento do interesse pelos canais on-line, afetando negativamente a empresa, que tinha em seu forte as vendas diretas por meio de consultores e das mais de 3 mil lojas físicas pelo mundo.
Os analistas Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Pedro Lima, do banco BTG, observaram em relatório que a Natura enfrentou desafios como alta alavancagem com cenário de aumento nas taxas de juros (especialmente quando cresceu no exterior), e acabou tendo que vender ativos como Aesop e The Body Shop. Na prática, a empresa teve que voltar atrás em sua estratégia de crescer rapidamente no exterior.
Desde que Barbosa assumiu o comando, a palavra de ordem tem sido simplificação das operações. A empresa está focando em países específicos e, de acordo com Castellan, vai mirar em dez ou 12 países:
" O nome do jogo na internacionalização é alocação de recursos. Vamos focar em um número menor de países, tentando operações comerciais piloto que possam ser replicadas em outros países.
Para Jean Paul Rebetez, sócio-diretor da Gouvea Consulting, a Natura fez retração estratégica, olhando o mercado em que é forte para otimizar recursos e esforços. (Colaborou Paulo Renato Nepomuceno)