Demissão de tite mostra um clube perdido
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A demissão de Tite dois dias antes de uma partida tão decisiva é o mais importante de uma série de fatos recentes que revelam quão perdido está o Flamengo, um clube que nunca encontrou seu rumo em 2024.
Ao mesmo tempo que elegeu a Copa do Brasil como prioridade e a salvação do ano, o Flamengo decidiu que vai encarar o jogo de ida da semifinal contra o Corinthians com um técnico interino " e estreante.
Demonstrações eloquentes de improviso já estavam evidentes antes. O Flamengo enfrentou o Peñarol pelas quartas de final da Libertadores com dois titulares (Alex Sandro e Gonzalo Plata) com pouquíssimo tempo de clube. Foi eliminado com justiça.
É justo ponderar que a epidemia de lesões teve um papel crucial no ano ruim do Flamengo e no trabalho decepcionante de Tite. O técnico não pôde contar com jogadores importantíssimos por longos períodos da temporada e chegou à fase decisiva do ano sem Pedro.
Mas se há um clube com orçamento para lidar com essas situações é o Flamengo. O problema Gabigol existe desde o início do ano, e seu aproveitamento nunca foi uma alternativa.
Se Carlinhos, ex-Nova Iguaçu, foi o melhor que o clube conseguiu como alternativa a Pedro, não faz sentido que ele não tenha disputado um minuto sequer da partida decisiva contra o Peñarol. Mais uma contradição.
As ressalvas sobre os desfalques e as merecidas críticas aos dirigentes que tomam decisões no departamento de futebol do Flamengo de nenhuma maneira absolvem Tite.
Depois de um 2023 exótico, em que Vitor Pereira e Jorge Sampaoli expuseram o Flamengo a atuações inseguras e goleadas sofridas, Tite e sua obsessão por e-q-u-i-l-í-b-r-i-o pareciam a solução ideal.
Mas, com raras exceções ao longo do ano, o Flamengo de Tite não aconteceu. As marcas do time em 2024 foram o freio de mão puxado, as dificuldades para defender as bolas aéreas, o baixo (e incompreensível) aproveitamento dos jovens formados pelo clube.
Apesar de todas as evidências disponíveis " e são muitas ", não deixa de ser chocante que nem Tite tenha conseguido dar jeito no Flamengo.
Os dois últimos empregadores de Tite foram o Corinthians e a CBF, ambientes de altíssima pressão, de expectativas por vezes desconectadas da realidade, e em ambos o treinador entregou um trabalho de excelência.
Tite é mais um, certamente o mais badalado de todos eles, a deixar o Flamengo tendo exibido uma versão pior de si próprio. Não é razoável supor que seja o único culpado.
Por dois anos seguidos o Flamengo poupou jogadores na Copa Libertadores para priorizar o Campeonato Carioca - as consequências dessa decisão bizarra são conhecidas.
De novo, o Flamengo abandona institucionalmente, oficialmente, declaradamente, o Campeonato Brasileiro para dar mais atenção à Copa do Brasil. Mais uma escolha equivocada.
Há uma diferença crucial entre a demissão de Tite e as anteriores. Até aqui, à diretoria bastava demitir o treinador, contratar um sucessor e torcer para que desse certo. Agora, não é apenas o trabalho do técnico que está sob análise.
Daqui a dois meses, os sócios do clube poderão escolher se os responsáveis por tudo isso também merecem continuar no comando do clube.