Viernes, 25 de Octubre de 2024

Brasil perde o multicampeão peso-pesado do boxe

BrasilO Globo, Brasil 25 de octubre de 2024

adeus a um gigante

adeus a um gigante
O esporte brasileiro está de luto. José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, o maior boxeador peso-pesado que já representou o país, morreu ontem, em São Paulo, aos 66 anos, após 28 dias hospitalizado para tratar um nódulo no pulmão, de acordo com sua esposa, Irani Pinheiro. Maguila sofria também de encefalopatia traumática crônica, conhecida como demência pugilística, diagnosticada em 2013, a mesma que afetou outra lenda do boxe brasileiro, Éder Jofre " morto em 2022.
No ringue, Maguila fez história com as conquistas dos títulos brasileiro, sul-americano, latino-americano e continental. Em 1995, foi campeão mundial da Federação Mundial de Boxe ao derrotar o britânico Johnny Nelson, em Osasco (SP).
" Em 1985, eu era amador, e iria fazer uma seletiva para o Mundial, em São Paulo. Ele não me conhecia, mas entrou no vestiário e me desejou sorte. Eu disse que o admirava muito. Lutei, venci e ele comemorou comigo no ringue do ginásio " recorda o ex-treinador da seleção brasileira olímpica de boxe Luiz Dórea, que preparou nomes como Acelino Popó Freitas, Anderson Silva e Rodrigo Minotauro.
" Eu sou sete anos mais novo do que o Maguila, e sempre o tive como exemplo. Influenciou minha carreira " destaca Dórea.
Início da caminhada
Nascido em Aracaju, capital de Sergipe, o ex-servente de pedreiro se interessou pela nobre arte ao assistir às disputas de Muhammad Ali, considerado o maior boxeador da história.
Ainda assim, ele só começou a competir aos 20 anos, uma idade já considerada tarde para atletas de elite. Porém, isso não o impediu de fazer história. A primeira competição oficial foi em 1981, tendo como córner Ralph Zumbano, tio de Éder Jofre.
Com uma trajetória meteórica, a cada nocaute com sua poderosa mão direita " em 77 vitórias, terminou a luta pela via rápida em 61 disputas. Ele ainda perdeu sete combates e empatou um " o ex-pedreiro construiu o seu legado no boxe, que teve como o ápice esportivo a vitória por pontos sobre Johnny Nelson.
Mas além de disputas por cinturão, Maguila parou o Brasil ao vencer o americano James "Quebra-Ossos" Smith, em 1987. Ele protagonizou a maior zebra daquela época, já que ainda estava no início da carreira e Smith foi, até aquele momento, o primeiro lutador a ter um combate duro contra Mike Tyson.
" Eu tive o privilégio de ser o árbitro de 28 das 85 lutas do Maguila. A luta contra o "Quebra-Ossos" foi a mais surpreendente " conta o ex-árbitro, Antônio Bernardo Soares, que fundou o Conselho Nacional de Boxe (CBN): " A gente achava que era impossível o Maguila vencer, mas ele não só fez, como no quarto round acertou um belo golpe que balançou o americano.
Soares relembra ainda que Maguila poderia ter feito mais lutas nos cenários nacional e sul-americano para ganhar mais experiência antes de voos mais altos. Com 18 vitórias seguidas, o brasileiro aceitou a disputa contra o pentacampeão mundial Evander Holyfield pelo cinturão do CMB (Conselho Mundial de Boxe). A luta diante do americano, em julho de 1989, nos Estados Unidos, foi destaque dos jornais brasileiros na época.
‘Ué, onde estou?’
Em um primeiro round equilibrado, com uma pequena superioridade para o brasileiro, as expectativas cresceram, mas rapidamente tomaram um banho de água fria quando um dos técnicos de Maguila o pediu para "ir com tudo" no assalto seguinte, o que se mostrou um grande erro, de acordo com Antônio Bernardo Soares.
" Eu falei para ele não enfrentar o Holyfield. Era para ter lutado contra o Mike Tyson. Seria tão difícil quanto, mas a bolsa pela luta seria bem maior " revela.
O brasileiro só retomou sua consciência horas depois, no hospital. E sua primeira fala foi: "Ué, onde estou?".
Além de Holyfield, o brasileiro encarou George Foreman, outra lenda do boxe internacional, em junho de 1990, também nos Estados Unidos. Maguila foi nocauteado no segundo round.
Diferentes fatores construíram a imagem de um personagem marcante como Maguila. Entre eles, o locutor esportivo Luciano do Valle, que morreu em 2014. Com bordões que acompanhavam os golpes do pugilista, ele contagiava os telespectadores. Além disso, sempre atuou ativamente na carreira do atleta.
Com o sucesso do boxe, Maguila virou um nome conhecido por onde passava e aproveitou a fama. Além das lutas, que eram sua maior paixão, ele se tornou comentarista econômico, criou gravou um CD de pagode e fundou uma associação filantrópica.
" O Maguila, para mim, sempre foi uma referência de superação. Nordestino, sergipano. Ele me deu muita esperança de que um pobre nordestino pode, sim " avisa o ex-lutador baiano Acelino Popó Freitas, tetra- campeão mundial de boxe.
" Quando o Maguila lutou uma vez com o cinturão do Mundo Hispano, eu estava vendo em casa, começando no boxe. Então, eu falei: "Um dia eu vou ter esse cinturão, um dia eu vou ser campeão". O primeiro cinturão que disputei como profissional foi no mundo hispano, quando ganhei por nocaute no segundo round. Maguila sempre foi uma referência. Meu irmão, descanse em paz. O Brasil e o boxe te amam muito. Obrigado por tudo que você fez pelo boxe " complementa.
‘Pai que sempre me aceitou’
Celebridade na década de 90, não eram incomuns suas participações em programas de TV. Uma delas, em especial, viralizou nas redes nesta semana, quando Maguila foi perguntado sobre homossexualidade.
Em longo depoimento durante um programa de TV, em 1992, o esportista pregou respeito aos casais gays e contrariou preconceitos ainda mais prevalentes do período. Ele chegou a ser questionado se a homossexualidade era uma doença.
" Para mim, o homem, o "viado", não é uma doença, ele já nasceu com esse dom de ser "viado" e transar com homem " contou, à época.
A explicação foi elogiada pela comunidade LGBTQIA+ nas redes sociais, principalmente por conta da data das falas de Maguila, consideradas à frente de seu tempo.
Filho do lutador, o artista Júnior Ahzura compartilhou o vídeo. Abertamente gay, Júnior postou, há cinco dias, em seu perfil no Instagram com elogios ao pai:
"Orgulho ter um pai que sempre me aceitou e respeitou! Mais que um herói nacional, meu pai!".
Há anos convivendo com a doença degenerativa, o ex-boxeador, em 2018, com consentimento da família, concordou em doar o cérebro para a equipe da Universidade de São Paulo (USP) que pesquisa as consequências dos impactos repetidos na cabeça em esportes como boxe, rúgbi, futebol, entre outros.
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