Vendas do comércio caíram 0,4% em novembro
As vendas do comércio brasileiro recuaram 0,4% em novembro, resultado ligeiramente pior do ...
As vendas do comércio brasileiro recuaram 0,4% em novembro, resultado ligeiramente pior do que o previsto pelos analistas de mercado, que projetavam queda de 0,3% no mês. Mesmo com a queda mensal, o cenário foi de economia aquecida ao longo de todo o ano de 2024, com o desemprego em mínimas históricas e mais renda disponível para as famílias. Apesar da desaceleração em novembro, as vendas cresceram 5% no acumulado do ano e 4,6% em 12 meses.
"É interessante observarmos que o indicador acumulado no ano (5%) é bastante expressivo quando comparado a anos anteriores", explica Cristiano Santos, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE.
Se o indicador de dezembro mantiver o acumulado anual em 5%, será o maior percentual de aumento nas vendas em mais de dez anos.
" É um resultado bem robusto, uma alta sólida, bastante impulsionada pelos itens sensíveis ao crédito e também à renda, que foi subindo consistentemente ao longo do ano inteiro, impulsionada por um mercado de trabalho muito aquecido " diz Heliezer Jacob, economista do C6 Bank.
A atividade de móveis e eletrodomésticos teve a maior queda na pesquisa de novembro (-2,8%). Em outubro, as vendas do segmento tinham crescido 7,8%, especialmente por antecipações de promoções relacionadas à Black Friday, explica Santos. Ou seja, o dia de promoções acabou tendo mais impacto nas vendas do mês anterior do que em novembro.
Projeções para 2025
O comércio começa 2025 em um patamar alto, mas sem a perspectiva de repetir os percentuais de crescimento do ano passado. Porém, não se desenha um cenário muito preocupante, afirma Georgia Velloso, pesquisadora do FGV Ibre:
" Não dá para ver esse resultado (de novembro) de uma forma negativa. Para 2025, não há estimativa de uma queda expressiva, até porque o mercado de trabalho e a renda devem se manter aquecidos. Mas, assim como aconteceu em 2023, o setor deve andar mais de lado. Vale ressaltar que num patamar muito mais alto. Ou seja, não vai ter o mesmo crescimento, mas o comércio deve manter o nível.
Para o indicador de dezembro, mesmo com as festas de fim de ano, a análise é que o comércio andou devagar. É o que pensa Rodolfo Margato, Economista da XP, avaliando que os gastos pessoais com bens perderam força ao longo do quarto trimestre. Segundo ele, "as vendas varejistas continuarão a esfriar ao longo de 2025, devido ao aumento da inflação, aperto das condições financeiras e menor impulso fiscal".
Ainda que o efeito da alta dos juros pelo BC não se reflita de imediato nos indicadores de forma mais direta, seu impacto já afeta a confiança dos consumidores.
" As pesquisas de confiança do comércio mostram uma certa incerteza. Há uma preocupação com o endividamento das famílias, com o encarecimento do crédito. Mesmo quem não tem dívida posterga a compra a crédito quando os juros crescem " diz Georgia.
Jacob, do C6 Bank, diz que uma alta de juros não impacta a atividade logo de cara, mas diz que o juro real já está num patamar muito contracionista.
" Acima de 9%, quando a gente olha os últimos dados. Isso é um nível bem elevado. E é esperado que isso desacelere a atividade em algum nível " continua Jacob.
Em relatório, Alberto Ramos, analista da Goldman Sachs, diz esperar que "a atividade do varejo continue a se beneficiar de transferências fiscais federais para famílias de baixa renda com alta propensão ao consumo, expansão da renda real disponível das famílias, mitigada por condições monetárias e financeiras domésticas mais restritivas, altos níveis de endividamento das famílias e baixos níveis de folga econômica."
EFEITOS DE JUROS E DÓLAR
Georgia, do FGV Ibre, avalia que o resultado do comércio varejista sofreu alguns impactos no fim de 2024:
" Pesaram o novo ciclo de aperto monetário iniciado pelo Banco Central, com a alta da Taxa Selic, e o aumento do dólar, que mudou de patamar em novembro. Também houve no último trimestre a pressão (de preços) dos alimentos, principalmente das carnes, e o setor de super e hipermercados é muito importante para o resultado do varejo. Novembro também foi um mês com muitos feriados.
-2,8%
Foi a queda de vendas de móveis e eletrodomésticos registrada em novembro
É o que mostra pesquisa do
IBGE divulgada ontem