Viernes, 24 de Enero de 2025

‘A humanidade vai se autorregular’

BrasilO Globo, Brasil 24 de enero de 2025

Entrevista

Entrevista
Um processo que "compra" a íris das pessoas, um projeto que tem Elon Musk por trás e até um plano tecnológico com aspirações obscuras. Essas são algumas das hipóteses que circulam na internet, em alguns vídeos que se tornaram virais, sobre a Tools For Humanity, responsável por distribuir dezenas de bolas de metal em São Paulo (os Orbs) e gerar filas de pessoas dispostas a fixar seus olhos nelas, recebendo cerca de R$ 630 em 12 meses, num projeto que pretende criar uma espécie de "carteira digital de identidade" global, a partir da verificação da íris humana.
Diante da onda de interesse, impulsionada pelo retorno financeiro garantido, Rodrigo Tozzi, representante da Tools For Humanity no Brasil, tem se desdobrado em agendas, entrevistas e conversas nas últimas semanas para explicar o que pretende o projeto.
Ele lembra que, não, a iniciativa não tem dedo de Musk por trás " um dos fundadores, na verdade, é Sam Altman, criador do ChaGPT. Rebate quem diz tratar-se de uma venda e garante que as aspirações da iniciativa são nobres: gerar tecnologia segura para diferenciar humanos de robôs.
Ao GLOBO, o executivo falou sobre os pedidos de explicação de autoridades de dados da Europa e o porquê do foco atual na América Latina.
Tem acompanhado os vídeos virais nas redes? O que tem achado?
Tem muita desinformação. Gente dizendo que vende a íris, que a empresa é do Elon Musk... Tem de tudo, até teorias conspiratórias. Eu vi uma do pessoal falando que isso é um projeto de dominação mundial. Mas a maior desinformação é a de acharem que está rolando alguma transação comercial.
Ao fazerem a verificação, as pessoas entendem o que estão fazendo?
É ingênuo achar que todo mundo vai entender isso no dia um. Essa é uma jornada de toda a comunidade evoluir, aprender e ter o debate aberto sobre a evolução. O diálogo começa quando o usuário entra no centro de verificação e recebe a explicação.
Se a pessoa não entende, há consentimento?
Sim, porque existe toda a parte documental dentro do aplicativo. Também são feitas perguntas e explicações rápidas e curtas para cada um dos usuários que passa pelo centro de verificação saber o que acontece.
Vocês têm dito que não se trata de uma venda, mas as pessoas recebem criptoativos em troca. Se não é venda, é
o quê?
É uma operação de distribuição de propriedade. Esse é o conceito fundamental do protocolo. A distribuição do token (uma espécie de moeda virtual chamada WorldCoin, cuja unidade vale US$ 2) não é uma recompensa ou motivação financeira. Os usuários, obviamente, podem transformar esse criptoativo em recurso, mas o conceito é a distribuição de propriedade (a empresa envia 20 criptoativos depois do processo e mais 28 ao longo de um ano).
Como assim, distribuir a propriedade?
O World é um protocolo aberto (que pode ser acessado e é interoperável) porque a visão é que seja um protocolo pertencente à Humanidade e que não tenha um dono. Hoje o protocolo é regido por uma fundação, porque está começando, mas a ideia é que essa fundação transfira essa propriedade para toda a humanidade. Qual é a melhor forma de você transferir efetivamente a propriedade de uma forma tão fragmentada? É criar um token que tem o poder de decisão, de voto dentro do futuro e do desenvolvimento da rede. Se você distribui um pouquinho de token para cada humano que se verifica, ao longo do tempo você tem genuinamente um protocolo descentralizado.
E como seria a governança quando todos tivessem o poder de decisão?
Vamos pensar na internet. Quem manda nela? Não tem um dono. A internet acaba se autorregulando entre todas as instituições, atores, governo e empresas. Todo mundo que participa da internet se autorregula e é um protocolo aberto, autorregulado pelos próprios atores que estão ali. A visão do protocolo World é que ele siga esse mesmo conceito. A própria Humanidade, as próprias instituições que colaboram com o desenvolvimento vão se autorregular.
As autoridades de proteção de dados da União Europeia questionam o fato da World não dar aos usuários a possibilidade de exclusão permanente de dados que ficam com vocês...
Teve um momento no início da operação do World em que a criptografia da verificação da íris seguia um outro protocolo. O novo modelo que está implementado hoje é diferente e não guarda absolutamente nenhuma informação do usuário em nenhum lugar da nuvem, mas sim fragmentos. O modelo evoluiu.
Se eu fizer a verificação da íris, mas depois não quiser que esse código permaneça com vocês, é possível?
Você apaga as informações, você tem controle, você pode apagar as informações que estão no seu telefone. Os fragmentos que estão ali nos servidores, esses permanecem, mas eles são criptografados e embaralhados de forma que eles não podem ser reconstruídos.
Como está o processo no Brasil com a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD)?
Olha, a gente entregou todas as respostas das perguntas da ANPD dentro do prazo. Estamos aguardando a resposta e a devolutiva deles.
Vocês foram criados nos EUA, mas hoje não têm nenhum ponto de verificação no país. Por quê?
Isso é muito mutável. Às vezes abre um centro de verificação, depois fecha... Havia alguns pontos, acho que devem ter fechado.
Eram só quatro nos EUA no ano passado...
Não tínhamos uma operação completa ali ainda. Questões de regulamentação do mercado americano.
Rodrigo Tozzi / da Tools For Humanity no Brasil
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