Vasco mira alívio financeiro com recuperação judicial; 777 tem vitória nos tribunais
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Após meses de negociações com credores (pessoas e empresas que têm valores a receber do clube), o Vasco anunciou na noite da última segunda-feira a entrada num pedido de recuperação judicial. O processo, caso aprovado, permite que o clube pague dívidas cíveis e trabalhistas de forma escalonada e sem a ameaça de execuções (penhoras) e tem como objetivo a saída de um cenário de asfixia financeira ao longo dos próximos anos. Hoje, a dívida cruz-maltina total é orçada em R$ 1,4 bilhão.
Tanto o clube associativo quanto a SAF foram envolvidos no processo, uma vez que parte das dívidas antigas do primeiro foram transferidas à empresa que gere o futebol no processo de sua constituição.
Do outro lado, a 777 Partners, afastada em caráter liminar do comando do futebol do Vasco desde maio do ano passado e ainda dona de 31% das ações, demandou a suspensão da apreciação do pedido de recuperação até que o mérito da ação que a afastou do comando da SAF seja julgado " o que está marcado para o dia 12 de março.
À noite, a Justiça acolheu o pedido formulado pela 777 para reconsiderar, em parte, a liminar de maio de 2024 que devolveu ao clube associativo o controle da SAF. O Desembargador Cesar Cury determinou que quaisquer atos, por parte do clube, que possam ser irreversíveis e onerar a SAF Vasco devem ser objeto de prévio pedido de autorização judicial até o julgamento final dos recursos pelo Tribunal de Justiça. Também na Justiça, o Vasco questiona quem responde pela empresa. Em nota divulgada ontem, o Vasco afirma que a decisão não vai impactar na gestão da SAF:
"Ressaltamos que, atualmente, não há operações em curso que demandem esse tipo de negociação. Portanto, a rotina de gestão da Vasco SAF segue inalterada, assim como o processo de Recuperação Judicial".
O pedido de recuperação judicial cita as tratativas do clube em busca de um investidor para comprar o controle da SAF. "O CRVG segue aberto a negociações com possíveis compradores de participação societária no Vasco SAF " o que permitirá acesso a dinheiro novo " e há conversas em andamento", diz o trecho. Na prática, um processo bem sucedido de recuperação judicial tornaria o clube um ativo mais organizado financeiramente.
No pedido, o clube explica que já firmou acordos com 142 credores. No que o jurídico do clube chamou de "classe I", as dívidas mais altas, 50% dos credores entraram em acordo.
O GLOBO apurou ainda que o clube já alinhou um plano de pagamento de parte das dívidas trabalhistas antes da entrada no pedido de recuperação. O volume total de dívidas sobre o qual já haveria acordo com os credores soma R$ 228 milhões. Deste total, o clube pagaria R$ 89 milhões, um desconto de 61% fruto de negociações com os credores, interessados em ter maiores garantias de receber. A previsão inclui ainda uma carência no ano de 2025, e a retomada dos pagamentos a partir de 2026, com aumento progressivo dos valores, saindo do patamar de R$ 5 milhões no primeiro ano.
Restariam ainda outros credores trabalhistas, com valores maiores, em negociações a serem feitas.
Agora, o Vasco aguarda a homologação pela Justiça. A aprovação do plano, posteriormente, depende da concordância dos credores que representem mais da metade da dívida. O Vasco orça os valores sujeitos à recuperação em R$ 637.626.230,48.
Benefícios e riscos
Advogado especializado em direito empresarial, Gabriel de Britto Silva ressalta que o número de pedidos de recuperação judicial aumentou muito nos últimos anos em meio à recessão e à dificuldade na obtenção de crédito.
" Os clubes de futebol que optam por migrar a estrutura societária, por exemplo, para uma SAF, passam a fazer jus à utilização da recuperação judicial, extrajudicial e falência. Um exemplo recente e exitoso é o do Botafogo e sua recuperação extrajudicial.
O mecanismo tem seus riscos. Em caso de não aprovação do plano por parte dos credores, há abertura de um processo de falência " o que nunca aconteceu com clubes de futebol no Brasil. O mesmo acontece caso o clube não honre os pagamentos acordados.
" Nessa linha, o juiz de direito decretaria a falência durante o processo de recuperação judicial por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recuperação, estando incluídas nestas obrigações os pagamentos nos exatos moldes previstos no plano " explica Britto Silva.
Ontem, o clube anunciou mais um reforço: o atacante português Nuno Moreira, de 25 anos, ex-Casa Pia. O Vasco corre para registrar Nuno ainda durante o Carioca.
637 mi
Dívida total exposta pelo Vasco no pedido de recuperação judicial
Valores correspondem a
dívidas cíveis e trabalhistas
61%
Clube alinhou plano de pagamentos com parcela de credores antes mesmo do pedido
1,4 bi
Dívida total do Vasco
Número foi apontado pela consultoria Alvarez & Marsal e
exibido em reuniões no
Conselho Deliberativo