Governo milei diz que acordo com fmi é de us$ 20 bi
O ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, afirmou ontem que a Argentina deverá ...
O ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, afirmou ontem que a Argentina deverá receber um empréstimo de US$ 20 bilhões (R$ 114,5 bilhões) do Fundo Monetário Internacional (FMI), que ainda precisa ser aprovado pelo conselho de administração da instituição financeira. Segundo ele, o recurso será "de livre disponibilidade, para reforçar as reservas do Banco Central".
O anúncio do socorro, que ainda precisa ser chancelado pela Assembleia de Governadores do FMI, visa a reduzir fortes pressões de alta do dólar na economia argentina há poucos meses das eleições legislativas.
Caputo disse que o governo de Javier Milei também está negociando um pacote adicional com o Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Entre técnicos da equipe argentina no encontro anual do BID, em Santiago, a expectativa é de um apoio de ao menos US$ 10 bilhões.
O governo argentino divulgou os números preliminares do acordo com o FMI para tentar conter uma corrida contra o peso, desde a semana passada, que drenou mais de US$ 1,2 bilhão das reservas cambiais do país, que caíram para US$ 26,42 bilhões. O próprio ministro admitiu que a divulgação de ontem foi acordada com a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, para tentar estabilizar o câmbio.
" As discussões sobre um novo programa apoiado pelo Fundo estão bem avançadas e incluem um pacote de financiamento substancial " disse a diretora de comunicações do FMI, Julie Kozack, mas sem confirmar o montante.
O novo empréstimo será adicionado a um acordo existente de US$ 44 bilhões, assinado em 2018. Caputo garantiu que os novos recursos "não serão usados para financiar despesas, mas para recapitalizar o patrimônio do Banco Central".
" Quando você olha para as reservas brutas e adiciona o que está vindo , essas reservas aumentarão em cerca de US$ 50 bilhões. Com esses novos fundos vamos acabar com o estresse do dólar na Argentina " afirmou Caputo.
RISCO À POPULARIDADE
Apesar da promessa de campanha de Javier Milei de liberar os controles cambiais, o peso ainda segue cotações cuidadosamente calibradas pelo governo para não pressionar a inflação. Na prática, o Banco Central da Argentina vem desvalorizando o peso em cerca de 1% ao mês, num sistema conhecido como crawling peg, que tenta fazer com que a moeda se desvalorize no mesmo ritmo da inflação.
Mas o FMI deve exigir uma maior flexibilização do câmbio para evitar que os recursos de seu pacote de socorro sejam "torrados" para segurar a cotação do peso. Analistas do mercado acreditam que haverá uma desvalorização antes da assinatura do acordo com o Fundo. As negociações com contratos futuros de peso apontam para uma alta de 6% até o final de abril. A moeda fechou estável ontem.
Milei tem usado o câmbio como âncora para conter a inflação desde o início de seu governo, em um país onde muitos preços são fixados em dólares. Uma desvalorização maior da moeda ou adoção de um câmbio flutuante poderiam colocar em risco seus esforços para controlar a inflação, e derrubar seus índices de popularidade.
O principal desafio do presidente é evitar uma desvalorização politicamente custosa, especialmente antes das eleições legislativas de meio de mandato, em outubro.
" O governo precisa desesperadamente de dólares para fortalecer o BC e seguir controlando a inflação, porque esse é o único elemento que tem dado muito apoio ao presidente Milei " diz Alejandro Gaona, diretor do Observatório da Dívida Pública Argentina.
Em relação aos outros organismos que poderiam ajudar a Argentina, técnicos disseram ontem ao GLOBO que o apoio poderia ser mais direto do Bird ou do CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latin e Caribe). Já o BID poderia aprovar a liberação de recursos "carimbados" para algum projeto específico.
Hoje acontece em Santiago um encontro bilaterial entre o presidente do BIS, o brasileiro Ilan Goldfajn, e a comitiva argentina, chefiada pelo secretário de Finanças do governo Milei, Pablo Quirno, mas a pauta não foi revelada. (A repórter viajou
a convite do BID)