Perdas no tesouro direto põem nervos do investidor à prova
Quem tem títulos públicos precisou resistir à vontade de resgatar seu dinheiro ao ver o ...
Quem tem títulos públicos precisou resistir à vontade de resgatar seu dinheiro ao ver o investimento valendo menos dia após dia de disparadas dos juros. Em 12 meses, alguns papéis do Tesouro Direto acumulam perdas (ou seja, queda dos preços) de mais de 30%, nas cotações a mercado. Aqueles que se assustam " ou quem precisa do dinheiro para já " e fazem o resgate antecipado amargam prejuízo. Para garantir a rentabilidade prometida no momento do investimento, é preciso resistir e levar a aplicação até o prazo final.
A desvalorização ocorre porque, nos títulos de renda fixa, taxas e preços são sempre inversamente proporcionais. Tanto nos papéis prefixados quanto naqueles indexados à inflação, quando as taxas estão em trajetória de alta, o valor de mercado dos papéis diminui, impondo perda temporária para quem já tem os títulos na carteira.
A perda temporária ocorre porque, como boa parte dos papéis de renda fixa, os principais títulos do Tesouro Direto " o Tesouro IPCA+ e o Tesouro Prefixado " têm marcação a mercado, uma atualização diária no preço, conforme as cotações do dia. Os preços mostram se o investidor ganharia ou perderia dinheiro, caso vendesse o título naquele dia.
renda+ cai mais
Quem comprou o título IPCA+ com vencimento em 2040 no início de fevereiro, por exemplo, viu uma perda superior a 2% no fim daquele mês. Em 12 meses, o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2029, por exemplo, cai 12,88%. No Tesouro RendA+, com prazo a partir de 2065, a perda em 12 meses é de 37%. Esse título tem por objetivo complementar a aposentadoria. Asim como o Tesouro IPCA+, ele é indexado à inflação e paga uma taxa adicional à variação geral de preços " a diferença é que o investidor não recebe o retorno todo de uma vez no vencimento; os ganhos vêm em parcelas mensais ao longo de 20 anos.
Para Rafael Sobral, economista da Ativa Investimentos, os preços atuais dos títulos parecem influenciados por uma reação exagerada do mercado, que, somada a um cenário internacional mais difícil, pressionou essas taxas para cima. A reação se deveu a uma alta na percepção de risco fiscal no Brasil " o medo de que o governo não equilibre suas contas ", num contexto em que a taxa básica de juros (Selic, hoje em 14,75% ao ano) sobe, e a inflação resiste a ceder. Quando isso acontece, os investidores exigem um retorno maior, ou seja, querem receber mais para continuar investindo na dívida pública. Como consequência, os juros dos títulos públicos também sobem.
Na visão de Sobral, após as turbulências dos últimos meses, é pouco provável que os juros dos títulos públicos continuem subindo de forma contínua. Por isso, o analista acredita que os juros vão cair ao longo do tempo, o que fará os títulos se valorizarem. Sobral recomenda que o investidor segure os títulos públicos por pelo menos mais dois anos, ou até mesmo compre mais.
" Não há motivos para que as taxas de juros reais estejam nos mesmos níveis altos que vimos há dez anos. Poucas vezes vimos esses patamares, e não tendem a durar muito " diz o analista. " Acreditamos que o investidor com um horizonte de tempo de pelo menos dois anos terá retornos maiores nos títulos Tesouro IPCA+ do que nos do Tesouro Selic " completa Sobral, referindo-se ao título pós-fixado do Tesouro Direto.
Por outro lado, em relatório divulgado este mês, o banco Itaú BBA chamou a atenção para o risco de que o governo não demonstre segurança para equilibrar as contas públicas. Se isso se prolongar, o mercado vai projetar novas altas da Selic, o que vai , mais uma vez, derrubar os preços dos títulos públicos, segundo o especialista em renda fixa para pessoas físicas do Itaú BBA, Diego Queiroz. Por isso, a melhor opção é manter as aplicações até o prazo final.