Sábado, 19 de Julio de 2025

‘O brasil criou a melhor matriz energética para data centers’

BrasilO Globo, Brasil 27 de mayo de 2025

Entrevista

Entrevista
Anunciado no último Web Summit pelo prefeito Eduardo Paes, o projeto Rio AI City terá investimentos iniciais de R$ 5 bilhões da Elea Data Centers. No total, a primeira fase alcançará 1,5 GW de capacidade energética, com potencial de expansão para até 3,2 GW no futuro. Os planos da Prefeitura do Rio são ambiciosos: criar um campus de inteligência artificial (IA) na região do Parque Olímpico, a partir do que pretende ser o maior hub de data centers da América Latina.
CEO da Elea Data Centers, Alessandro Lombardi, avalia que o Brasil construiu a "melhor matriz energética do mundo" após duas décadas de incentivos a fontes renováveis. E os data centers podem agora gerar demanda por essa energia limpa. Segundo ele, a Rio AI City vem para acompanhar o avanço acelerado das aplicações em IA e computação em nuvem. No futuro, o projeto será integrado à infraestrutura urbana da cidade e terá, além dos data centers, dois parques, áreas residenciais, espaços culturais e educacionais, hotéis, opções gastronômicas e iniciativas voltadas à longevidade " formando um ecossistema urbano. A previsão é que a iniciativa gere mais de 10 mil empregos qualificados.
Por que o Brasil é estratégico para empresas de data center?
O Brasil é estratégico porque é onde vivem 220 milhões de pessoas. Existe um mercado consumidor tão grande quanto o dos Estados Unidos. Além disso, a maioria dessas pessoas é de jovens e muitos de baixa renda. Eu entendo que a IA pode ajudar na inclusão social. O governo subsidiou energia limpa por 20 anos, o que criou a melhor matriz energética do mundo. O Brasil atualmente joga energia limpa fora. Não tem mercado consumidor, e os data centers ajudariam a absorver essa demanda.
Quais desafios ainda precisam ser superados para atrair mais investimentos?
A forma como o país decidir regular o setor definirá os próximos 20 anos de desenvolvimento da IA no Brasil. A regulamentação é essencial, especialmente por um aspecto técnico importante: a interoperabilidade. Se a regulação for parecida, você consegue usar os resultados de um país em outro. Se as regras no Brasil forem muito diferentes das regras da China, por exemplo, não será possível utilizar aqui os avanços chineses. A lei brasileira está sendo criada com base na europeia, e não na americana ou na chinesa. Os europeus criaram uma lei bem complexa, extremamente regulada. E o que vai acontecer? Será mais fácil interoperar com a União Europeia do que com os EUA e a China. A União Europeia, no entanto, não está na ponta da inteligência artificial. O motor da tecnologia hoje são China e EUA.
A maioria dos parques geradores de energia renovável está no Nordeste, enquanto a maior parte dos data centers está no Sudeste. A transmissão é um desafio?
Hoje, 85% da infraestrutura de data centers no Brasil estão em São Paulo, uma anomalia. Em nenhum país de grande porte a infraestrutura está concentrada n uma única região. Isso aconteceu porque o estado de São Paulo tem energia disponível, força de trabalho, o Porto de Santos e administração que facilitou investimentos. É o maior mercado de data centers da América Latina. Em certos horários, o Brasil não tem capacidade de transmitir energia verde do Nordeste ao Sudeste. Quando as pessoas voltam para casa e ligam ar-condicionado e TV, entre 17h e 19h, há o problema do curtailment (corte de energia). Construir grandes infraestruturas de data center no Nordeste ou ajustar a transmissão eliminaria esse problema. Mas, no geral, a transmissão brasileira é uma das melhores. O grande consumo da energia produzida no Nordeste é no Sudeste, e isso funciona.
Há debate sobre a possibilidade de os EUA restringirem a transferência de dados para outros países com o objetivo de processamento de IA. Como isso pode impactar o setor de data centers no Brasil?
Se for uma possibilidade real, não impacta, porque grande parte do nosso setor é voltada para o mercado brasileiro. Hoje, 68% da nuvem brasileira estão nos EUA. Isso acontece porque não há infraestrutura de data centers aqui. Apesar da energia e do mercado consumidor, a capacidade ainda é insuficiente. Então, a nuvem está lá. O que estamos fazendo aqui? Estamos construindo a nuvem brasileira, e há espaço para crescer. No entanto, algumas empresas do setor veem o Brasil com o potencial de até exportar capacidade, mas isso é algo para médio e longo prazos. No momento, estamos construindo para o mercado local, o que exige bilhões em investimentos.
Na adoção de IA, as empresas nacionais estão atrasadas? Qual a principal barreira?
É caro demais se não houver infraestrutura aqui. É caro depender dos EUA. Se tiver infraestrutura, as empresas vão investir. Se colocar o processamento aqui, (esse avanço) será muito mais rápido.
Em que sentido a IA pode ajudar na inclusão social?
A inteligência artificial funciona como a internet: é uma tecnologia que facilita a comunicação entre comunidades. Com ela, a conexão entre povos e cidades remotas como as da Amazônia e São Francisco será mais fácil, tornando o mundo mais interligado. Isso impulsiona novos produtos, avanços na saúde, transporte, tecnologia e fintechs. Com capacidade de computação no país, centenas de startups podem surgir, gerando riqueza. Mas me preocupa que a IA em línguas latinas esteja ficando em segundo plano. O Brasil poderia ter papel importante nesse cenário, porque os modelos são treinados em inglês ou chinês.
Qual a sua opinião sobre o impacto da IA nos empregos?
Isso não me preocupa. Qualquer inovação tecnológica traz mais sofisticação ao ambiente de trabalho. A tecnologia muda nossas vidas, e os empregos vão mudar, mas tenho certeza de que para melhor. É claro que esse é um tema importante, porque vai transformar o mercado de trabalho. Mas pensar que o Brasil deveria fechar as portas de uma nova tecnologia para manter todo mundo fazendo trabalhos manuais aumentaria nossa distância para outros países.
Alessandro Lombardi / CEO da Elea Data Centers
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