Lunes, 16 de Junio de 2025

Cada vez mais fundos de previdência investem em cripto. dica é cautela

BrasilO Globo, Brasil 16 de junio de 2025

Ainda que pairem no ar muitos questionamentos sobre os criptoativos, vários produtos regulados ...

Ainda que pairem no ar muitos questionamentos sobre os criptoativos, vários produtos regulados oferecem aos investidores fora da "criptosfera" a possibilidade de acessar esse segmento com maior segurança. Essa pode ser uma boa forma de tentar aproveitar os altos retornos que as criptomoedas podem ter, mas sem mergulhar de cabeça num mercado tão arriscado. Como ativos de maior risco são indicados para investimentos de longo prazo, as criptos podem ser a cereja do bolo que faltava nos fundos de previdência privada.
Essas carteiras com exposição a criptoativos " com destaque para o Bitcoin " têm entrado no radar tanto das gestoras "criptonativas" quanto das instituições do mercado financeiro tradicional, que começam a se aventurar nessa seara.
E o segmento de fundos de previdência privada complementar (os PGBLs e VGBLs) tem crescido muito, ou seja, recursos não faltam para a diversificar com novos ativos. Essas carteiras encerraram o último mês de maio com patrimônio líquido de R$ 1,6 trilhão, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Desde 2006, o setor tem registrado anualmente mais captações que saques. Só em 2024 foram R$ 38 bilhões em aplicações líquidas (aplicações menos resgates), um salto de 90% em relação ao ano anterior.
A gestora de criptoativos Hashdex tem hoje quatro fundos de previdência, voltados tanto para o público em geral quanto para investidores profissionais e qualificados, em parceria com XP, BTG e, mais recentemente, SulAmérica e Icatu " este último lançado em fevereiro deste ano. As aplicações mínimas vão de R$ 100 a R$ 5 mil.
Os produtos têm um rebalanceamento periódico, aumentando ou reduzindo as fatias em renda variável e renda fixa, conforme o momento de cada mercado.
" Se o Bitcoin está subindo, a gente realiza o lucro e aumenta a alocação em renda fixa. Se está caindo, ou seja, mais barato, a gente compra " explica Samir Kerbage, diretor de Investimentos da gestora.
Com um pé no mercado cripto há algum tempo, a Empiricus Gestão, em parceria com o BTG, oferece seu fundo de previdência apenas para investidores profissionais, com aporte mínimo de R$ 1 mil. Sua composição também é rebalanceada periodicamente.
" Essa estratégia permite investir em cripto de uma forma mais conservadora, diminuindo o risco. É um fundo realmente focado no longo prazo, porque tanto investir em cripto quanto em títulos atrelados à inflação permite uma performance positiva em um horizonte maior " afirma Marcello Cestari, analista e responsável pelos fundos de criptoativos na Empiricus Gestão.
O fundo de previdência do Itaú, lançando em dezembro do ano passado, completa o menu do maior banco do país de produtos de investimento com exposição a criptos.
Sem muita sede ao pote
Assim como em qualquer outro investimento com exposição a criptoativos, especialistas recomendam uma alocação comedida nos fundos de previdência dessa modalidade: entre 1% e 5% do portfólio.
" Os investidores que têm um perfil de moderado a agressivo, que já têm alocação em renda variável, devem considerar uma alocação pequena em cripto para um horizonte de longo prazo " reforça Kerbage.
Renato Eid, superintendente de estratégias indexadas e investimento responsável da Itaú Asset, reforça:
" O ideal é não colocar todos os recursos voltados para a aposentadoria em fundos com exposição a criptos, diversificando em outras modalidades. É a famosa frase: não dá para colocar todos os ovos na mesma cesta.
Outra forte recomendação para quem optar por esse tipo de investimento é "administrar a angústia para não cair na armadilha de avaliar que, se cripto está subindo, é ótimo, mas, quando está caindo, não presta", ressalta Eid.
" Quem realmente consegue ganhar dinheiro com investimento é aquele investidor que mira o médio e longo prazo " completa o executivo do Itaú.
Ao contrário de fundos de investimento tradicionais, os fundos de previdência não podem ser compostos 100% por criptoativos. Os reguladores do mercado ainda não estão na mesma página com relação às normas de composição. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que estabelece as diretrizes para a constituição, administração, funcionamento e divulgação dos fundos de investimento, por meio da Resolução CVM 175, publicada em dezembro de 2022, permitiu a composição de fundos com 100% de criptoativos. Já a Superintendência de Seguros Privados (Susep), que regula seguros e previdência complementar aberta, estabeleceu um limite de exposição de até 40% em criptos.
Essa bola dividida é uma das razões pelas quais a oferta de fundos de previdência com criptos cresceu, mas ainda de forma limitada.
" O lançamento de um fundo convencional só depende da gestora e do administrador " afirma Kerbage, da Hashdex.
Já os fundos de previdência, além de seguirem as regras estabelecidas pela CVM, precisam da participação de uma seguradora, com autorização da Susep.
" A oferta reduzida não é uma questão de estrutura de mercado. Envolve questões regulatórias " diz Kerbage.
Enche os olhos, mas...
Por conta desse contexto regulatório, a maior fatia desses fundos de previdência fica em renda fixa, basicamente em títulos do Tesouro indexados à inflação ou à Selic, conforme a estratégia de cada gestora. E as criptos entram como uma pimenta para turbinar o retorno, ocupando, em parte, um espaço que já foi das ações, hoje vistas como um meio-termo entre o conservadorismo (os papéis do Tesouro) e o risco total (as criptos).
De qualquer forma, os números mostram como o desempenho das criptos é uma montanha-russa, por isso elas não podem dominar o patrimônio reservado para a aposentadoria, enquanto os títulos do Tesouro são o que há de mais previsível entre os ativos financeiros.
Em 2022, por exemplo, o Bitcoin acumulou queda de 65%, enquanto a Taxa Selic terminou o ano em 13,75%. Já em 2024, o Bitcoin saltou 120%, enquanto a Selic começou a recuar até encerrar o ano a 11,25%. Hoje, está em 14,75%.
Do começo de 2021 até agora, o Bitcoin se valorizou 285,5% em dólar, um senhor ganho, enquanto a Selic trouxe um retorno acumulado de 55,7%. Esses ganhos das criptos são, de fato, de encher os olhos. Mas o investidor não pode esquecer que esse tufão, assim como venta a favor, pode ventar contra, e na mesma magnitude.
Para se ter uma ideia da complexidade do tema, no mês passado, a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), que regulamenta as Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC), mais conhecidas como fundos de pensão, proibiu a exposição a criptos dessas carteiras, na contramão do que ocorre em países como Estados Unidos e Canadá.
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