The simple gym cresce com aposta no bem-estar além dos músculos

A The Simple Gym, academia que se posiciona como um "clube de bem-estar" e que recebeu investimento recente dos principais sócios originais da grife Reserva " entre eles Rony Meisler ", definiu o primeiro passo de seu plano de expansão. Até então baseada em Botafogo, a companhia decidiu abrir, no próximo trimestre, uma nova unidade para até 2,5 mil alunos na Gávea, também na Zona Sul do Rio.
Movimento aparentemente isolado de uma marca criada há menos de um ano, o investimento " estimado em R$ 8 milhões " ilustra tendência que vem movimentando negócios mundo afora: o ecossistema do bem-estar está se impondo em indústrias que vão da alimentação ao turismo, do mercado imobiliário aos cosméticos.
A Global Wellness Institute (GWI), organização americana que promove negócios no segmento, calcula que o mercado relacionado a bem-estar deve movimentar US$ 7 trilhões este ano em todo o mundo. O segmento de atividade física é um dos mais significativos, superando US$ 1 trilhão, ficando atrás apenas do nicho de cuidados pessoais e beleza e praticamente empatado com o de nutrição. A projeção do GWI é que o setor atinja US$ 9 trilhões em 2028.
A The Simple Gym surgiu com a estratégia de apostar em bem-estar como diferencial em um setor marcado por competição acirrada de preço e escala. A inspiração foram os chamados wellness centers que se multiplicam em países como EUA para atender à demanda das gerações millennials e Z " essa, aliás, que não se identifica nem mesmo com as "roupas de malhar" dos mais velhos...
" Éramos frequentadores de academias e sentíamos as "dores" do modelo. Estava clara a oportunidade de comunicar uma proposta de saúde holística, em que o cliente se exercita para estar bem da cabeça, não apenas para ter músculo " diz Gustavo Rodrigues, que fundou a The Simple Gym com o irmão Gabriel, ambos parte de uma tradicional família da política de Niterói, a Oliveira Rodrigues.
De pilates a banho de gelo
Para trazer a filosofia do bem-estar, os fundadores estruturaram a The Simple Gym em áreas: musculação e cardio (Strength); bioimpedância 3D (Power), treinos de alta intensidade (Energy), pilates (Balance) e banhos de gelo para recuperação (Recovery). (Está nos planos a oferta de uma sauna infravermelha.) Diferentemente das concorrentes, as mensalidades dão direito a mais de um desses "pilares", para incentivar a prática de várias atividades.
O desafio da The Simple Gym é competir com redes ultracapitalizadas que crescem em progressão geométrica. A Smart Fit, avaliada em quase R$ 14 bilhões na Bolsa, tem 1.759 unidades (831 no Brasil) e fatura quase R$ 6 bilhões por ano. Relatório recente do BTG projeta 320 novas academias da rede ao ano até 2027, sendo cerca de metade no Brasil.
A rival menor Bluefit tem por trás o Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi que é um dos principais sócios de negócios que vão do Metrô do Rio à Zamp, dona de Burger King e Starbucks no Brasil. Outra rede apontada pelo BTG como competidora de destaque é a Panobianco, que diz ter mais de 320 unidades e quer superar 500 ainda este ano.
Com mensalidades entre R$ 167 e R$ 327, a The Simple Gym também quer se diferenciar em termos de preço, posicionando-se em zona intermediária entre as academias de bairro e de massa e as redes que miram a classe A. Mas o foco em bem-estar para além dos músculos segue sendo seu principal chamariz.
" As pessoas têm maior atenção com saúde e qualidade de vida, e é uma tendência transversal, se traduz em várias categorias de consumo. Pilates, ioga e meditação não eram tão prevalentes assim e estão ganhando tração, movimentando inclusive produtos específicos. Os suplementos estão explodindo " analisa Alberto Serrentino, da consultoria Varese Retail.
Apetite de investidores
O aquecimento do nicho despertou o apetite de investidores. Desde 2019, a Moriah, um veículo de investimento, já aportou cerca R$ 300 milhões exclusivamente em negócios no setor de saúde e bem-estar.
" A Covid foi um agente catalisador. Depois da pandemia, as pessoas passaram a se preocupar mais com longevidade, qualidade do sono. A partir daí, a aceleração foi enorme. E não é algo geracional, porque todas as gerações estão preocupadas com isso. Mas, obviamente, os mais novos já nasceram nessa atmosfera. É uma mudança cultural, não apenas uma tendência " diz Fabiano Zettel, CEO da Moriah.
Um das "investidas" pela Moriah é a Norte Media, startup especializada na criação de marcas para influenciadores. Um dos empreendimentos do conglomerado é a Guday, marca de balinhas de creatina da influencer fitness Manuela Cit, que compartilha com milhões de seguidores sua rotina de treinos e alimentação, mas de maneira menos romantizada que a média.
Provando a interseção desse segmento, a influenciadora é sócia da The Simple Gym, por meio de um arranjo do tipo media for equity, entrando na sociedade em troca da promoção da marca em suas redes. E outra investidora da Norte Media é justamente a Rebels Ventures, de Rony Meisler e outros fundadores da Reserva, que aportaram na The Simple Gym.
" A gente gosta de escolher mercados em que temos interesse e tesão. O que funcionou para a moda também funciona em saúde e bem-estar, que é nosso foco na Rebels. E ainda não estamos nem levando em conta os efeitos de medicamentos como Ozempic, que podem mudar a forma como o consumidor se relaciona com o corpo e a saúde " conta Meisler, que fundou a Rebels Ventures ao lado de Fernando Sigal, José Alberto Silva e Jayme Nigri Moszkowicz.
A The Simple Gym tem planos para chegar até quatro unidades ainda este ano " sempre na Zona Sul carioca " e bater R$ 12 milhões de faturamento. Para o ano que vem, o objetivo é gerar R$ 50 milhões em receitas.