Um comunicador que ‘colocou a criatividade no centro do negócio’
OBITUÁRIO
OBITUÁRIO
Um ícone da comunicação e da propaganda no Brasil. Pode parecer um clichê, mas sempre foi frequente apresentar assim o publicitário Roberto Duailibi. Referência de muitos profissionais do mercado publicitário, ele foi cofundador da DPZ, um dos mais inovadores e bem-sucedidos empreendimentos do ramo no país. Era o "D" no nome da agência, fundada em 1968 ao lado de Francesc Petit e José Zaragoza, o "P" e o "Z", que faleceram em 2013 e 2017, respectivamente.
Membro da Academia Paulista de Letras (APL), Duailibi também se destacou como escritor e professor. Na DPZ, junto com os sócios e profissionais talentosos, ajudou a criar alguns dos personagens clássicos da publicidade brasileira, como o franguinho da Sadia, o garoto da Bombril, o mordomo Alfredo do papel higiênico Neve e o baixinho da cerveja Kaiser. A agência também está por trás da figura do leão como símbolo do Imposto de Renda.
Duailibi colaborou para a descoberta de outros talentos da publicidade brasileira que atuaram na DPZ, como Nizan Guanaes. O CEO da N.ideias afirmou que a DPZ foi "a maior escola da propaganda brasileira brasileira" e destacou que Duailibi "era o empreendedor, o prospectador, o político da agência". A DPZ também consagrou Washington Olivetto, que morreu no ano passado.
Filho de uma brasileira com um libanês, Duailibi nasceu em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Ainda aos 12 anos, mudou-se para São Paulo, de onde não mais saiu.
A carreira começou cedo, aos 17 anos, em 1952, na Colgate-Palmolive. Duailibi também atuou como redator e executivo em agências de publicidade como CIN (atual Leo Burnett), McCann-Erickson, J. Walter Thompson e Standard Propaganda (hoje Ogilvy & Mather). Em 1969, já na DPZ, foi eleito "Publicitário do Ano" no Prêmio Colunistas.
Na década de 1970, ele foi um dos responsáveis pela projeção internacional da criatividade brasileira na publicidade. Em 1975, a DPZ ganhou o primeiro Leão de Ouro do Brasil no renomado festival de Cannes, na França, pela campanha "Homem com mais de 40 anos", criada para o Conselho Nacional de Propaganda sobre a importância de contratar pessoas nessa faixa etária.
Formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Duailibi retornou à instituição como professor, conselheiro e vice-presidente do Conselho Deliberativo. Em nota, a instituição o descreve como "um dos maiores nomes de todo o mundo" na comunicação e afirma que "não seria a mesma sem Roberto".
Duailibi ainda ministrou aulas de criação na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, e exerceu a presidência, por duas vezes, da Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Abap). Foi conselheiro da Fundação Bienal de São Paulo, do Fundo Social de Solidariedade do governo paulista e presidente da Fundação Cultural Exército Brasileiro (Funceb).
'Um criador de cultura'
Além de publicitário, Duailibi escreveu livros como "Criatividade & Marketing" (M.Books), ao lado de Harry Simonsen Jr., em que apresentou o conceito de régua heurística " espécie de critério subjetivo que as pessoas usam para julgar algo ou situação " e a importância de seguir métodos que favoreçam a criatividade em todos os segmentos das empresas. Em 2005, publicou "Cartas a um Jovem Publicitário" (Alta Books), destinado aos interessados na profissão, e em 2008, com Marina Pechlivanis, a trilogia "Idéias Poderosas" (Elsevier).
Em 2011, Duailibi e seus dois sócios venderam o controle da DPZ para um grupo francês em meio à onda de internacionalização do mercado publicitário brasileiro. A poucos meses de completar 90 anos, o publicitário morreu na noite da última sexta-feira.
Em nota, a DPZ destacou que a publicidade brasileira "perdeu um de seus pais" e agradeceu o legado de Duailibi: "Roberto foi muito mais do que o fundador da DPZ. Foi um pensador, um escritor brilhante, um criador de cultura, um construtor de marcas", diz o texto, acrescentando que "foi ele quem colocou a criatividade no centro do negócio". A Associação dos Profissionais de Propaganda (APP Brasil) afirmou, em nota, que Duailibi "deixa um legado imensurável na comunicação brasileira".
Familiares, amigos, colegas de profissão e ex-alunos se despediram de Roberto Duailibi ontem no Cemitério do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, onde ele foi velado e sepultado. O publicitário deixa a esposa, Silvia, os filhos Marco e Rubem e netos.
Roberto Duailibi/ publicitário, 89 anos