Jueves, 21 de Agosto de 2025

‘Não será mecanismo para limitar investimentos’

BrasilO Globo, Brasil 20 de agosto de 2025

toca e passa

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Presidente da CBF desde o fim de maio, Samir Xaud tem como principais bandeiras avançar em debates e ações para a modernização do futebol brasileiro, como a implementação de um fair play financeiro no país. Em entrevista ao Toca e Passa, do GLOBO, o dirigente falou sobre o tema, mudanças no calendário nacional e contou como vetou a produção de uma camisa vermelha para a seleção, entre outros assuntos.
Torcedores mais leigos acham que o Fair Play Financeiro vai proibir os clubes de gastarem muito com contratações e que nivelará todos nesse sentido. E não é bem isso. Gostaríamos que você explicasse o que a CBF busca ao dar o pontapé inicial em sua criação.
O Fair Play Financeiro se faz necessário e é um dos nossos principais objetivos. O que queremos é achar um meio de autossustentabilidade do futebol brasileiro, dos clubes. Não será um mecanismo para punir os clubes nem de limitar recebimento de investimentos, que isso fique bem claro. Mas, resumindo, você só pode gastar o que você recebe. Nada mais do que isso.
Demos o pontapé inicial na semana passada. Fizemos questão de fazer isso em conjunto, com clubes e federações. Trouxemos também players do mercado importantes nessa discussão. Começamos essas discussões para um projeto a médio/longo prazo. Determinamos 90 dias para, dessas reuniões, trazermos o melhor modelo.
Já há alguma direção em relação ao formato?
Ainda não. Foi um primeiro debate mais abrangente. Tivemos um palestrante da Uefa (Sefton Perry, chefe do Centro de Análise e Inteligência da entidade) que nos mostrou o modelo realizado lá fora. E o que nós vamos ver (ao longo dos encontros) são vários tipos de modelos de fair play. Vamos tentar achar o melhor, o mais adequado para a nossa realidade.
Vocês entendem que um modelo ou outro será importado? Ou que a junção de vários seria a mais apropriada?
Colocaremos na mesa todos os modelos que já são implementados mundo afora. E, a partir deles, moldaremos um próprio para o Brasil.
O documento que sairá destes encontros já será o final, com as regras do fair play financeiro? Explique o
passo a passo.
Os 90 dias são para apresentarmos uma proposta mais adequada e colocarmos uma data de implementação. A partir dali, a gente tem um cronograma, que é a questão da adaptação dos clubes, implementação etc. Na Europa, foi com dez anos (de prazo). Então, primeiro moldamos o melhor plano. A partir daí, fazemos um processo de transição e implementação do Fair Play.
Hoje há uma insatisfação generalizada em relação a clubes que contratam sem condições de pagar e se beneficiam em campo em detrimento dos que são responsáveis. A criação de um teto de gastos é uma possibilidade?
Isso está sendo discutido. A nossa visão é que o clube, se recebe X, não poderá contratar um jogador que custa 3X. A ideia é nivelar essa relação entre receita e gasto. Mas não é limitar a arrecadação. O objetivo é, sim, que todos contratem em cima do que arrecadam. Queremos ter um futebol sem o doping financeiro que prejudica, principalmente, os clubes de menor receita que pagam as contas em dia.
Você já falou em reduzir os Estaduais para 11 datas. Essa mudança está confirmada para 2026?
Serão 11 datas a partir do ano que vem. Mas isso vale muito mais para os Estaduais com clubes das Séries A e B, que participam de campeonatos internacionais. Já os com clubes da C e D têm uma maleabilidade maior. Isso está sendo discutido com os presidentes das federações. O que nós devemos fazer é uma reformulação do calendário de praticamente todas as competições da CBF. A gente tem um calendário muito cheio. Nós temos que esperar as datas Fifa e Conmebol para depois montarmos o nosso calendário. E, ano que vem, vamos ter uma Copa do Mundo com mais datas. Então, se faz necessária essa adequação.
Nós vamos ter reformulação também na Série D, na Copa Verde, na Copa do Nordeste e na Copa do Brasil. Um rearranjo de todas as nossas competições para conseguirmos encaixar o calendário com o mínimo de prudência.
A ideia é ampliar os clubes participantes da Copa do Brasil e da Série D? Você cogita uma Série E?
As Séries C e D são pagas integralmente pela CBF. Então, não estou pensando em Série E no momento. O que estamos pensando é nessa reformulação. Os clubes vão ficar satisfeitos. E a ideia é nunca desvalorizar o futebol brasileiro. Eu sou um defensor dos Estaduais. São o que fomenta o futebol. O que nós queremos é deixá-los mais sustentáveis, um produto melhor até para você comercializar.
Como a CBF pode conseguir mais datas para organizar o calendário além da redução dos Estaduais?
Temos uma conversa com a Conmebol a respeito das datas da pré-Libertadores, tem a redução dos Estaduais e essa reformulação da Copa do Brasil.
Como seria essa conversa com a Conmebol? Trocar as duas vagas nas preliminares por uma na fase de grupos?
Na pré-Libertadores tem sido sempre brasileiro contra brasileiro. Então praticamente temos uma vaga direta. A conversa é em cima disso.
Investir na arbitragem foi outra promessa sua. Temos visto os treinamentos no Rio. O que mais está nos planos?
Defendo a educação continuada. Tanto que começamos esse treinamento com os árbitros das Séries A e B. Já está no terceiro encontro. Nós implementamos também a "arbitragem sem fronteira", em que a nossa comissão vai a outros estados passar o mesmo treinamento. E estamos caminhando com um estudo para implementação do impedimento semiautomático a partir do ano que vem.
A tecnologia já seria implantada no início do ano?
Estamos estudando a data de início, porque temos que capacitar a arbitragem. Não sei em qual competição vai começar. Mas em 2026 nós teremos, sim.
Sobre a seleção, o contrato com Carlo Ancelotti vai até a Copa. Há algum acordo ou conversa iniciada sobre renovação?
Passo a passo. Ainda não entramos nesse assunto.
Assim que assumiu, você precisou lidar com a repercussão negativa em torno da camisa vermelha feita para a Copa 2026. Como agiu nos bastidores?
Não cheguei a ver a camisa, mas, quando me falaram, fiquei surpreso. Porque o vermelho não tem nem na bandeira. Muitas pessoas levaram pelo lado político, e eu não tive essa visão. Pensei na bandeira. Acho que esse símbolo não pode ser perdido. Então, tive que agir rápido. Conversei com toda a engenharia por trás e pedi realmente que fossem paradas as máquinas. Falei que as cores são amarela, verde, azul e branca.
Samir Xaud / presidente da cbf
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