Após crítica de lula, bet da caixa é suspensa
A Caixa Econômica Federal suspendeu o lançamento de sua bet. Em entrevista ao GLOBO em 16 ...
A Caixa Econômica Federal suspendeu o lançamento de sua bet. Em entrevista ao GLOBO em 16 de outubro, o presidente do banco público, Carlos Vieira, afirmou que a plataforma de apostas esportivas seria lançada no final deste mês, com previsão de arrecadação de R$ 2 bilhões a R$ 2,5 bilhões em 2026. Contudo, o projeto virou alvo de parlamentares da oposição e até de aliados por ir na contramão do discurso crítico de integrantes do governo às bets, com desgaste político para o Planalto. O anúncio do lançamento da bet da Caixa irritou o presidente da República, que exige prioridade máxima do banco público a projetos sociais.
Durante viagem à Ásia no fim de outubro, Lula disse que cobraria esclarecimentos do presidente da Caixa. Na volta ao Brasil, se reuniu com Vieira " indicado ao cargo pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara. A orientação dada pela Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República é que a Caixa priorize medidas como o programa de reforma de moradias. Com R$ 40 bilhões, o projeto tem forte apelo eleitoral.
Outra medida em preparação é a criação de uma linha de crédito para motoboys, que está sendo desenhada pelo Planalto e o Ministério do Trabalho.
" A bet não é prioridade neste momento, há outras entregas, inclusive medidas voltadas para a área ambiental " disse um integrante do governo, acrescentando que a Caixa também deverá divulgar ações na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que acontece este mês em Belém.
LOTERIAS EM BAIXA
Mas, nos bastidores, a Caixa continua defendendo a sua bet, pois o boom das plataformas de apostas on-line fez despencar a receita das loterias. O banco sustenta que a arrecadação com seus jogos caiu 50% em dois anos depois da liberação das bets. No acumulado dos primeiros seis meses de 2025, as loterias da Caixa arrecadaram R$ 11,6 bilhões, ante receita de R$ 17,4 bilhões das bets. Com isso, o próprio governo perdeu receitas, já que 48% da arrecadação bruta das apostas em jogos da Caixa é repassado aos cofres públicos.
A intenção inicial da Caixa era lançar a sua bet no primeiro semestre do ano passado, mas o plano foi adiado à espera da regulamentação do Ministério da Fazenda, com medidas para combater as bets ilegais e oferecer algum tipo de segurança aos apostadores. Em 30 de abril deste ano, a bet da Caixa recebeu aval da Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, órgão responsável por analisar se as empresas cumprem os requisitos para atuar no mercado de apostas esportivas. A decisão autorizou a operação das marcas BetCaixa (betcaixa.bet.br), MegaBet (megabet.bet.br) e Xbet Caixa (xbetcaixa.bet.br), com validade até 31 de dezembro de 2029.
A análise da secretaria, no entanto, foi de teor formal e técnico, sem entrar no mérito político.
O incômodo de Lula com a iniciativa da Caixa foi confirmado por auxiliares do presidente e também por fontes da cúpula do banco. Segundo aliados, a criação de uma casa de apostas por uma instituição financeira pública vai na contramão do discurso que o governo tem adotado em relação às apostas esportivas. Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, têm insistido na necessidade de aprovação do aumento da taxação sobre as bets pelo Congresso.
ATAQUES AO GOVERNO
Após o anúncio de Vieira de que a bet da Caixa seria lançada este mês, o governo passou a ser alvo de críticas até de parlamentares e influenciadores ligados à esquerda, além de entidades como a federação das associações de funcionários da Caixa (Fenae), que vê na iniciativa um "desvio preocupante da missão social do banco público". O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) criticou o fato de "uma instituição pública de fomento social se converter em operadora digital de jogos de azar".
A oposição fez pesados ataques, como os da senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e do senador Eduardo Girão (Novo-CE), que protocolou representação no Tribunal de Contas da União (TCU) contra a iniciativa da Caixa.