Sábado, 08 de Noviembre de 2025

‘Na verdade, quem me valorizou é quem me tem’

BrasilO Globo, Brasil 8 de noviembre de 2025

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Muita coisa mudou na vida de Artur Jorge desde a conquista dos títulos do Brasileirão e da Libertadores com o Botafogo, há um ano. O português trocou o Rio por Doha, onde treina o Al-Rayyan em condições bem diferentes: sem a pressão frequentemente exagerada, mas também longe da paixão dos torcedores. Sua vida pessoal, sobre a qual evita dar detalhes, também sofreu uma reviravolta. Ele terminou um casamento de 30 anos para viver um romance com a carioca Hanna Santos, neta do ídolo alvinegro Nilton Santos e com quem vive hoje no Catar. Em conversa com O GLOBO no hotel cinco estrelas onde mora, o técnico falou sobre a vida no Oriente Médio, os desafios do futebol local e o desejo de voltar a trabalhar no Brasil.
Que balanço faz desse quase um ano de Catar?
Quando cheguei, foi um período de adaptação. Vinha de uma realidade completamente diferente, mas (a temporada) nos serviu para conhecer o time, o campeonato, a estrutura do clube. Noto que meu trabalho vem para acrescentar valor. Traz mais do que só o componente técnico, temos papel importante na estruturação e no desenvolvimento do próprio clube. Não é fácil ganhar e ter sucesso aqui, porque há diferença na mentalidade, que ainda é menor em termos competitivos.
Há diferença entre a paixão da torcida no Brasil e no Catar? Consegue andar na rua aqui?
Essa é uma das grandes diferenças. Aqui, sinto que as pessoas gostam de futebol, mas não é uma paixão. É uma das coisas de que mais sinto falta: viver essa paixão pelo futebol, porque sou um apaixonado pelo futebol. E aqui ele é um complemento e nada mais. As pessoas pedem para tirar foto ou falar comigo, mas não é comparável com o Brasil ou a Europa.
Como manter-se estimulado com pouca torcida no estádio?
De fato, não temos grande número de torcedores no estádio. E esse é o grande desafio, nos motivar a jogar em estádios magníficos, mas poucos torcedores. Temos que encontrar formas de pensar que estamos aqui por um propósito, que é também trazer torcedores ao estádio, mas que não é fácil. No Brasil, a paixão é constante, se vive de jogo a jogo, sentimos toda essa energia. Isso não existe aqui, a cobrança é zero. É uma realidade oposta.
Qual delas prefere?
Como fã de futebol, obviamente sinto falta de ter um estádio cheio, sinto falta da paixão. Prefiro a realidade do Brasil, onde jogamos em todos os estádios cheios e com uma energia muito vibrante, que é motivadora para mim, me alimenta e é combustível forte para o nosso dia a dia.
Sua história com o Botafogo chegou ao fim ou as portas estão abertas?
O Botafogo foi um projeto que teve princípio e fim. Começou com um desafio de acrescentar e ganhar títulos e teve um final com os títulos conquistados. É um projeto de sucesso e 100% vitorioso. E temos que pensar que novas etapas virão. Estou focado no Al-Rayyan, mas uma nova etapa surgirá seguramente, seja na Europa, no Oriente Médio ou para voltar ao Brasil. Faz parte do meu plano de carreira voltar ao Brasil, é um mercado que me interessa muito e me parece ser um passo que mais cedo ou mais tarde irei dar.
Sua saída do Botafogo foi ruidosa, em meio a atritos com John Textor, dono da SAF. Você se arrepende da forma como a ruptura aconteceu?
Saída é uma saída só. É uma saída que não vai trazer nunca esclarecimento para ninguém, porque é uma saída só e é melhor ficarmos por aí. É uma etapa que foi bonita, ganhadora, de grandes sucessos, que fica marcada na história do Botafogo e na minha também. Portanto, ponto final em relação a isso.
O elenco do Botafogo se desfez de 2024 para 2025. Achava que isso aconteceria? Influenciou na sua saída?
Vimos que todos nós nos valorizamos. Era evidente que íamos ter jogadores saindo. Mas minha própria valorização e o que me foi proposto para sair também me fizeram pensar em mim próprio.
Não se sentiu valorizado pelo Botafogo?
A minha valorização é em cima de conquistas e de trabalho. Trabalhei muito, me dediquei muito, pus toda a minha paixão no trabalho, e minha valorização veio pelos títulos. Essa é a valorização que sinto que tive e que dependia de mim próprio. Aquilo que não dependia de mim já não me compete julgar. Na verdade, quem me valorizou é quem me tem.
John Textor disse que sua vida pessoal atrapalhou a renovação. O quanto ela influenciou a sua decisão?
Não tenho interesse em responder a isso (crítica de Textor). Minha vida pessoal e minha vida profissional se cruzaram, mas em momento algum uma teve influência na outra. Minha decisão foi puramente profissional, e não há nada a acrescentar da minha vida pessoal. Estou muito bem resolvido com elas. Uma não impactou na outra, mas foram duas decisões importantes tomadas num momento muito próximo. Talvez isso tenha feito com que houvesse uma associação, mas nada tem a ver uma coisa com a outra. Minha vida profissional pode estar mais exposta a julgamento, mas minha vida pessoal é só a minha vida pessoal, e sobre ela não falo, porque tomei as decisões que quis, no momento que quis e hoje me sinto feliz por elas.
Como foi tomar duas decisões grandes em tão pouco tempo?
Não é fácil. São duas decisões importantes na minha vida, que têm impacto muito grande, mas que faz parte daquilo que usei durante toda a temporada de 2024, a palavra que mais vezes repeti no vestiário, que é coragem. Coragem para mudar, para buscar o que nos faz sentir melhor. Foram duas decisões impactantes, que tomei de forma separada, mas sempre com a consciência de que estava indo para o caminho certo.
Artur Jorge / Técnico do Al-Rayyan
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