Bolsa sobe 1,56% e renova recorde com exterior
O Ibovespa, principal índice de ações da B3, subiu ontem 1,56%, aos 161.092 pontos, nível ...
O Ibovespa, principal índice de ações da B3, subiu ontem 1,56%, aos 161.092 pontos, nível recorde. No ano, a valorização é de 33,9%. O resultado é ainda mais expressivo considerando o desempenho em dólares, o que aponta o apetite dos investidores estrangeiros pelo Brasil. Como o real tem se valorizado este ano " a taxa de câmbio está em queda; ontem recuou 0,52%, a R$ 5,33 ", a alta do Ibovespa em dólar é de 55% em 2025.
O movimento acontece mesmo com a taxa básica de juros (Selic, hoje em 15% ao ano), referência para a rentabilidade das aplicações em renda fixa, no maior patamar em quase 20 anos. Isso tira atratividade da Bolsa, diante do elevado ganho, em comparação, de investimentos com menor risco.
efeito do tarifaço
Analistas acreditam que o bom momento da Bolsa é, principalmente, reflexo do cenário global " índices de outros países emergentes têm valorização semelhante " e de um movimento de antecipação à esperada queda da Selic em 2026. A queda torna o investimento em ações mais atrativo, comparativamente.
O cenário global é marcado pela guinada na política econômica dos Estados Unidos, sob o governo Donald Trump. O tarifaço leva a um dólar mais enfraquecido. Desde o início do ano, um índice que compara a divisa americana com outras seis moedas fortes, como o euro e o iene japonês, registra desvalorização de 9%. Isso faz com que investidores globais mudem suas carteiras, aplicando mais em mercados emergentes.
Para Alexandre Sant’Anna, analista de renda variável da gestora ARX, os investidores buscam diversificação:
" Os EUA foram poupança do mundo nos últimos anos e, por conta de um excepcionalismo deliberado de Trump, para enfraquecer o dólar, os investidores buscam alternativas para uma parte pequena de seus investimentos. Essa pequena parte, no Brasil, faz um efeito grande.
A expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) volte a cortar sua taxa básica de juros na semana que vem reforça esse movimento. Se a Selic é a referência mínima para todos os empréstimos e investimentos na economia brasileira, a taxa básica americana exerce papel semelhante no mundo. Por isso, quando ela começa a cair, como ocorre desde setembro, investidores buscam aplicações com retornos maiores pelo mundo.
" Com o dólar fraco, investidores buscam outros mercados, principalmente emergentes " diz Rodrigo Santoro, superintendente de renda variável da Bradesco Asset.
A perspectiva de redução da Taxa Selic ajuda a impulsionar o mercado acionário brasileiro. Segundo Daniel Gewehr, estrategista-chefe do Itaú BBA, parte do movimento reflete uma antecipação à decisão do Banco Central (BC):
" Em todos os movimentos, desde os anos 2000, quando se começa a cortar juros, a Bolsa sobe cerca de 18% em seis meses.
Para Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e presidente do conselho da gestora JiveMauá, há também uma recuperação da saída dos estrangeiros no fim do ano passado:
" Em dólares, perdemos 30% (no ano passado), que não é pouco. Hoje, há uma certa recuperação disso.
volta de estrangeiros
Em 2024, a B3 registrou a saída de R$ 32 bilhões em recursos de investidores estrangeiros. No acumulado deste ano, os dados mostram a entrada de R$ 27,3 bilhões.
Segundo analistas, a alta do Ibovespa ontem também teve o impulso de expectativas eleitorais. Uma pesquisa de intenção de votos mostrou redução da vantagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma eventual disputa com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, nas eleições presidenciais do ano que vem.
" A política econômica atual é vista pelo mercado como insustentável. Uma maior probabilidade de alternância tende a reduzir o prêmio de risco " afirmou Rafael Ihara, economista-chefe da Meraki Capital.