Covid-19: especialistas pedem cautela após anúncio de Paes sobre liberação de shows e carnaval
Agência O Globo -
RIO — Diante da queda na curva da Covid-19 na cidade e do calendário que prevê o fim da campanha de imunização da população com mais de 18 anos até outubro, o prefeito Eduardo Paes anunciou ontem que, na segunda-feira, vai publicar um decreto para liberar shows no Rio mediante o cumprimento de medidas sanitárias como a testagem do público para coronavírus
Agência O Globo -
RIO — Diante da queda na curva da Covid-19 na cidade e do calendário que prevê o fim da campanha de imunização da população com mais de 18 anos até outubro, o prefeito Eduardo Paes anunciou ontem que, na segunda-feira, vai publicar um decreto para liberar shows no Rio mediante o cumprimento de medidas sanitárias como a testagem do público para coronavírus. As análises para liberar os eventos devem levar cerca de 45 dias. Apesar de os fabricantes de vacinas, Instituto Butantan e Fiocruz, enfrentaram atrasos na entrega de IPA pela China, matéria-prima fundamental para a produção dos imunizantes, Paes disse que já é possível pensar em festa de réveillon e no carnaval de 2022.
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Para especialistas, há precipitação. Este mês, ainda está sendo concluída a vacinação de pessoas com comorbidades. O plano ousado da prefeitura para acelerar a cobertura vacinal — que o prefeito chama de "conservador" —, imunizando cerca de 33 mil pessoas por dia, precisa começar no dia 31 e seguir até 23 de outubro. Ao todo, é necessário aplicar as primeiras doses em cerca de 4,7 milhões de pessoas em pouco menos de seis meses, cerca de 90% da população nessa faixa etária.
Na divulgação do 19º boletim epidemiológico do município ontem, no Centro de Operações Rio (COR), Paes afirmou que o mapa das 33 áreas de saúde do Rio, que já esteve integralmente com alto risco para Covid-19, mostra, agora, cenário de risco laranja, um pouco mais brando. De acordo com a prefeitura, 33% da população adulta da cidade já foram imunizadas contra o coronavírus. A média de doses aplicadas diariamente é atualmente de 14,6 mil, o que deve dobrar para que a meta do novo calendário seja atingida. Além disso, é preciso ter vacina.
— Claro, isso tudo depende da chegada do imunizante, da vacina. A gente tem tido estabilidade na entrega da AstraZeneca — disse ontem prefeito. — Se conseguirmos (cumprir o calendário), vamos ter réveillon, vamos ter carnaval.
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Durante a entrevista coletiva, Paes deixou claro que manterá, enquanto o calendário vigorar, uma postura de cobrança do fornecimento das doses prometidas pelo Ministério da Saúde, sobretudo da vacina Oxford/AstraZeneca. As medidas de restritivas de entrada de ônibus fretados no município — com exceção de funcionários de empresas e de hóspedes de hotéis — e de proibição de eventos, rodas de samba e funcionamento de boates foram mantidas.
— Vamos mover montanhas para que esse cronograma consiga ser cumprido — prometeu Paes. — Reparem que pusemos três dias por idade. Não é uma visão excessiva, eu diria que é até conservadora.
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A prefeitura estabeleceu metas mensais de vacinação para o novo cronograma. O objetivo da Secretaria municipal de Saúde é imunizar 40% da população adulta em maio, 50% em junho, 60% em julho e assim por diante, até alcançar a marca de 90% em outubro. Caso o plano se concretize, o município terá vacinado mais da metade de sua população total em agosto. Até o dia 22, está prevista a chegada de uma nova remessa de IFA à Fiocruz. Mas, até lá, a fundação admite que terá que fazer uma pausa na produção. Os insumos disponíveis são suficientes para sustentar a fabricação até o fim desta semana.
O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, esclareceu que, embora as previsões de entrega da Fiocruz desempenhem um papel significativo na execução do novo calendário, as estimativas da prefeitura também levam em conta as doses prometidas pelo Ministério da Saúde da Pfizer e da CoronaVac.
— Há um acordo com a Pfizer para o fornecimento de 100 milhões de doses. Existe um compromisso do governo federal para a entrega de 50 milhões de doses por mês, um número que pode até aumentar — comentou.
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Ontem, a média móvel do índice de atendimentos na rede de emergência da capital estava em 2.575 ocorrências por dia, contra 6.117 de uma semana atrás. A curva de mortes por data de divulgação também está em declínio. A média móvel é de 85 óbitos diários, enquanto, há uma semana, era de 106.
Para realizar os eventos testes, como já acontece em outras grandes metrópoles do mundo, uma das principais exigências será a de que os convidados apresentem, 12 horas antes do início deles, testes negativos para Covid-19. Já quem tem 60 anos ou mais deverá levar comprovante de que recebeu a segunda dose da vacina há pelo menos 14 dias. O comitê científico, consultado pela prefeitura, sugeriu que fossem privilegiados eventos ao ar livre e que as regras sejam ajustadas de acordo com o "retrato" epidemiológico de cada momento.
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Para Lígia Bahia, especialista em Saúde Pública da Fiocruz, é cedo para falar em réveillon e carnaval. Segundo ela, ainda não há "contexto epidemiológico" para isso:
— A situação epidemiológica do Rio ainda não está sob controle. A cidade precisa ter outras prioridades.
Quanto à realização de eventos testes com protocolos sanitários, o epidemiologista Guilherme Werneck, da Uerj, pontua que há justificativa científica para a decisão de Paes, mas que a prefeitura não pode se apressar em colocá-la em prática. Para ele, a prioridade, agora, é manter a curva de queda do contágio.
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— Tudo de que não precisamos agora é estimular a transmissão. Quando você anuncia uma coisa dessas, acaba gerando mais demanda de eventos e corre o risco de passar a impressão de que está tudo bem.