Fundos temáticos crescem como opção para pequeno investidor
Não faz muito tempo, quem quisesse investir um punhado de dinheiro em empresas ligadas aos setores ...
Não faz muito tempo, quem quisesse investir um punhado de dinheiro em empresas ligadas aos setores de cannabis, energias renováveis ou de esportes eletrônicos (eSports) precisava abrir uma conta no exterior. Agora está muito mais fácil e acessível aplicar nos chamados ativos temáticos, e no Brasil já há muito mais opções disponíveis, inclusive ao pequeno investidor.
O principal instrumento para apostar em ativos temáticos são os fundos de investimento. Segundo dados de um relatório de maio da plataforma de informações financeiras Morningstar, nos últimos três anos o patrimônio sob gestão nesse tipo de produto mais que triplicou, saltando de US$ 174 bilhões para US$ 595 bilhões globalmente. Há dez anos, os ativos temáticos representavam apenas 0,6% dos recursos totais de fundos de investimento " hoje são 2,1%. Uma fatia ainda pequena, mas promissora.
No Brasil, dezenas de produtos desse tipo foram lançados nos últimos 12 meses, com gestoras aproveitando do maior interesse em renda variável, inclusive no exterior, na esteira dos juros baixos, que estimularam a busca por retorno em ativos de maior risco.
Dos 11 temáticos da Itaú Asset, gestora do grupo Itaú, que somam patrimônio de R$ 1,27 bilhão, só um tem mais de um ano. A XP tem cerca de 50 temáticos hoje nas plataformas, sendo que 12 são bem especializados. Destes, oito surgiram a partir de meados de 2020. A Vitreo, que tem 27 fundos do tipo, lançou 19 só no último ano.
" A motivação para estruturar fundos temáticos está relacionada ao propósito de dar acesso a temas de investimento até então muito distantes do investidor pequeno " explica George Wachsmann, sócio e chefe de gestão da Vitreo.
Um fundo temático não é necessariamente setorial nem regional, ainda que alguns sejam. No primeiro caso, um bom exemplo são os fundos que investem em empresas de saúde " como farmacêuticas, hospitais e casas de cuidado de idosos. Os temas também podem abarcar papéis de países diferentes, desde que sigam uma mesma proposta.
" Os temáticos têm o objetivo de olhar para frente e tentar identificar mudanças que podem impactar setores da economia; estão ligados às megatendências de investimentos mundiais " explica Renato Eid, superintendente de estratégia beta e integração ESG da Itaú Asset.
‘Indústria em ascensão’
Recentemente, o banco lançou o Itaú Megatrends, que reúne quatro grandes tendências globais em um único produto: tecnologia, saúde, meio ambiente e sociedade. Cada macrotema se divide em subtemas, como economia para atender o envelhecimento da sociedade, tecnologias para tratamento de doenças e medicina preventiva, soluções para uso de recursos hídricos, tecnologia blockchain e migração para matriz energética de fontes renováveis, entre outros. Alguns desses subtemas são também oferecidos separadamente.
" A sacada do temático é colocar dinheiro em teses de investimentos que vão revolucionar a forma como consumimos, viajamos, pagamos contas etc. " afirma Eid.
Apesar de não serem novidade " as grandes fortunas aplicam em produtos do tipo há algum tempo ", esses produtos estão finalmente ao alcance dos pequenos. A XP Investimentos e a Rico, por exemplo, oferecem essas carteiras a partir de R$ 100. O Itaú Megatrends tem aplicação inicial mínima de R$ 1.
" Para o mundo private, sempre foi um produto trabalhado, porque ajuda na composição de uma carteira diversificada. Antes ficava restrito a grandes famílias e produtos exclusivos, mas agora o cliente de varejo e de alta renda começa a ter maturidade e inteligência de construção de portfólio equilibrado " diz Leon Goldberg, sócio responsável pelo relacionamento institucional com gestoras da XP.
Outras vantagens dos temáticos são sua exposição ao mercado internacional (já que muitos investem em papéis de empresas no exterior) e custos baixos: a maioria tem taxas de administração abaixo de 1% ao ano. Com algumas poucas exceções, os produtos disponíveis hoje no Brasil são do tipo passivo, ou seja, que espelham na sua carteira a exata composição de um índice de mercado, em geral de ações.
" É uma indústria em ascensão e, mesmo com a taxa de juros subindo, não vejo retrocesso aqui. São produtos baratos, e o cliente tem sido cada vez mais crítico com relação ao preço que paga " pontua Goldberg, que considera os produtos de tipo passivo a melhor alternativa no mercado para quem está atento às discussões em temas específicos.
Concentrar é risco
Algumas casas montam o fundo comprando os ativos separadamente em Bolsa estrangeira, especialmente a americana, enquanto outras compram um Exchange Traded Fund (ETF, fundo que replica índices) lá fora.
Lucas Collazo, especialista em investimentos da Rico, vê vantagem nos fundos de tipo passivo, devido à dificuldade em selecionar os papéis:
" Quem tivesse escolhido na unha, por exemplo, empresas de biotecnologia, que são muito voláteis e imprevisíveis, talvez não tivesse apostado na farmacêutica Moderna, que passou anos com valor baixo e, quando conseguiu aprovação da vacina contra Covid-19, estourou.
Para Collazo, os fundos passivos também são bons para acessar mercados distantes da realidade brasileira ou que não estejam no radar de analistas locais. Além da diversificação, já que alguns ETFs chegam a ter dezenas de ativos, às vezes até mais de cem.
As carteiras temáticas, porém, têm um risco, alerta Fernando Donnay, sócio e gestor de portfólio da gestora de patrimônio G5 Partners: a concentração, por focar em indústrias ou áreas específicas.
Além disso, por serem voláteis e de alto risco, são indicados apenas para aplicações de longo prazo (acima de dois anos) e para o investidor de perfil mais arrojado.
" O fundo temático é uma aposta tripla. Primeiro escolhe um tema vencedor; segundo vê qual índice (ou ativo) vai capturar o tema vencedor; e terceiro, aposta que há chance de valorização grande. Quando olhamos essas três variáveis, as chances de ganhar nesses investimentos são menores " ressalta Donnay.