Saf do botafogo deve ser aprovada hoje; dirigentes tradicionais saem de cena
o começo de uma era
o começo de uma era
As tradicionais figuras da política do Botafogo, presentes nos anos de glória e na derrocada financeira, estão prestes a perder de vez o poder no futebol do clube. Com a iminente aprovação da venda da SAF " prevista para hoje em votação dos sócios na assembleia " para o empresário americano John Textor, conselheiros e ex-dirigentes abrirão espaço para uma diretoria profissional, composta por especialistas em diferentes áreas, com anos de mercado e pouca ligação com o alvinegro.
Ontem, em uma noite de festa de torcedores do lado de fora da sede em General Severiano, com direito a muitos cantos e sinalizadores, o Conselho Deliberativo alvinegro aprovou a transação da operação financeira que transfere as ações do Botafogo na SAF para o investidor disposto a assumir o futebol do clube. Foram 167 votos a favor, três contra e uma abstenção.
Com a aprovação do Conselho, cabe agora aos sócios votarem, hoje, a venda da SAF a Textor. Ao todo, cerca de 1.400 associados terão de responder à pergunta na assembleia (de forma presencial ou virtual): "Autorizam ou não a excepcionalidade da aplicação do referido dispositivo estatutário?". É esperada uma votação maciça a favor.
De acordo com o Estatuto do clube, a regra estabelecida no artigo 61 prevê a necessidade de o Botafogo deter maioria de capital votante nas sociedades que tiver participação. No modelo futuro, o alvinegro ficará com apenas 10%. Logo, o sim é pela não aplicação da regra.
A aprovação da venda dos ativos do futebol do clube para a empresa Eagle Holdings, de Textor, precisa apenas de uma maioria simples.
da arquibancada
Ainda que o atual presidente Durcesio Mello tenha um lugar no conselho administrativo na SAF " também haverá um conselheiro alvinegro no conselho fiscal ", a parte do clube social do Botafogo na sociedade será de apenas 10%.
O acordo também prevê manutenção de pontos do estatuto do clube, como a marca, cores, desenhos dos uniformes, entre outras contrapartidas que não descaracterizem o futebol do Botafogo. Porém, as disputas internas por poder agora serão restritas para decidir questões do remo, do vôlei, do basquete e das sedes sociais.
" Agora temos que voltar para as arquibancadas, torcer e cobrar de lá " diz o ex-presidente e grande benemérito Carlos Augusto Montenegro, que já havia prometido se afastar da política do clube algumas vezes.
Ontem, eles tiveram um dos últimos momentos de demonstração de força política no futebol na reunião extraordinária do Conselho.
" Não há outra alternativa. Claro que continuaremos no Conselho Deliberativo para cuidar do patrimônio do Botafogo " diz o ex-presidente e grande benemérito Carlos Eduardo Pereira, então vice-presidente geral no ano da última queda para a Série B. " A grande mudança é que uma empresa é voltada para o lucro financeiro, não necessariamente pela busca de resultados esportivos. No clube, dirigentes e torcida exigem taças, títulos. Esse é o nosso lucro. Mas é um movimento que não pode ser mudado e será o futuro do futebol brasileiro.
Bem que Montenegro e Carlos Eduardo Pereira buscaram um meio do caminho nos últimos anos para que o poder dos dirigentes não ficasse tão esvaziado numa estrutura societária. Ambos fizeram parte do grupo que começou a viabilizar um possível aporte financeiro de investidores, com votações no conselho e auditorias das contas do alvinegro a fim de achar um investidor para as dívida bilionária. Trabalho que deixou semipreparado o terreno assim que a SAF foi aprovada.
Porém, estavam nas gestões marcadas por amadorismo. Em 2020, por exemplo, Montenegro, um eterno mecenas do clube, chegou a cogitar a possibilidade de ir para a beira do campo diante dos fiascos dentro dele. A gestão Mufarrej, da qual Pereira era vice, gastou mais do que podia com contratações fracassadas como as de Honda e Kalou e o time foi rebaixado com uma das piores campanhas da história alvinegra em Brasileiros.
" A honra de ser presidente do Botafogo faz com que não se pense a fundo e ache que vai resolver R$ 1 bi de dívidas. Vai só empurrando... Tentamos outros modelos, mas não tinha o dinheiro. Agora tem. Claro que tem risco, mas é muito menor do que antes " diz Montenegro.
Com a aprovação da transferência dos negócios do futebol do clube, a nova diretoria da SAF já anunciada passará a gerir a sociedade. Com o negócio finalizado, o Botafogo poderá efetivar a transferência dos direitos esportivos na CBF e Ferj para a SAF e competir como clube empresa já a partir do Campeonato Carioca, que começa dia 25.