Jueves, 28 de Agosto de 2025

Tradição e religião pautam o ‘dress code’ do catar

BrasilO Globo, Brasil 19 de noviembre de 2022

com que roupa?

com que roupa?
A Copa do Mundo no Oriente Médio traz, além do futebol, um maior contato com a religião islâmica, a mais praticada na região. O Catar, país sede do Mundial, é uma nação muçulmana (cerca de 70% da sua população), com leis, costumes e práticas enraizadas no islã. Uma delas é um código de vestimenta rígido (aos olhos ocidentais), adotado pela população local, e baseado no Alcorão, o livro sagrado da religião, considerado a palavra literal de Deus, revelada ao Profeta Muhammad (Maomé), sendo esse o "último profeta enviado por Deus".
Isso significa, basicamente, que os homens precisam cobrir o corpo até os joelhos e as mulheres só podem deixar o rosto e mãos à mostra. Não é permitido uso de roupas justas nem transparentes.
Segundo o Sheikh Ali Abdouni, presidente da Wamy (Assembleia Mundial da Juventude Islâmica), os países do Golfo Pérsico têm costumes semelhantes em relação à vestimenta. Os homens vestem thobe, uma camisa branca, de mangas compridas, e que vai até os pés, e calças brancas e largas. Para completar, o ghutra (um lenço, geralmente na cor branca ou xadrez), preso pelo igal (faixa de corda, normalmente preta). O ghutra, aliás, ganhou vida e se tornou o mascote da Copa. Líderes governamentais ou religiosos de alto nível costumam ainda colocar um manto mais elegante sobre o thobe.
Usar a vestimenta religiosa, em respeito aos locais, é bem-visto. Como "fantasia", não. Mas parte do comércio em Doha parece não se importar. Versões coloridas, em alusão aos países do Mundial, fazem sucesso entre os turistas. Na loja Ghutra Mundo, o thobe do Brasil, em verde e amarelo, é o mais vendido (R$ 248). A dupla ghutra (lenço com estampa das bandeiras) mais o igal sai a R$ 99.
" No Catar, o thobe tem tradicionalmente uma gola reta e mais alta ou gola de camisa. Também tem punhos e pode ter bolsos. Essas diferenças são mínimas em relação às roupas dos muçulmanos de outros países " diz Ali Abdouni, que lembra que há diferentes formas de se prender o ghutra.
A mais formal é com o igal todo à mostra, como uma coroa. Outro estilo leva as pontas do ghutra, tanto do lado esquerdo como do lado direito, à cabeça, presas ao igal. Ou ainda uma ponta presa e a outra solta.
Ali Abdouni lembra que os homens costumam manter a barba sempre bem feita e são rigorosos com a aparência.
Mais que um lenço
Aantropóloga muçulmana e professora da USP de Ribeirão Preto, Francirosy Campos Barbosa destaca que a cor branca remete ao profeta Maomé, que usava branco, mas também atende ao clima quente do Catar.
" A roupa larga é para ser confortável, principalmente para rezar, algo que o muçulmano faz cinco vezes ao dia. Apertada, dificultaria os movimentos " ensina.
Já as mulheres costumam usar abaya (geralmente preta), uma túnica de manga comprida até os pés, além do famoso lenço. Se em alguns lugares as muçulmanas apenas jogam o véu sobre o cabelo solto, em outros amarram sem deixar pontas aparecendo, ou prendem com alfinetes. Podem ser de chifon, malha, algodão, seda, coloridos, bordados, simples ou de grife.
Com o niqab, só os olhos ficam à mostra e são usados por quem quer ser vista como mais religiosa. O hijab, que cobre cabeça, pescoço e ombros, é o mais comum (rosto fica à mostra).
Francirosy explica que o hijab vem do verbo hajaba, "aquilo que separa", entendido como uma cortina, que separa uma pessoa de outra como sinal de modéstia, simplicidade, respeito a Deus. Ele deve cobrir o corpo e, por este motivo, os muçulmanos falam em "respeitar o hijab", referindo-se à lei prevista no livro sagrado.
" O hijab é mais que um lenço, é uma conduta que segue questões culturais, de costume, preferência e de entendimento pessoal " afirma. " Tanto para homens quanto para mulheres, o importante é estar coberto. Mas não há definição no Alcorão de estilo ou cor.
Ouro e seda
De acordo com Francirosy, o uso da burca não é uma tradição no Catar, e sim uma vestimenta construída culturalmente em aldeias montanhosas afegãs e paquistanesas. Segundo ela, foi a maneira que as mulheres encontraram para circular sem serem notadas.
" Depois passou a ser usada pelo Talibã como uma forma opressora, de obrigação " observa ela, que cita ainda a shayla, lenço comprido e solto, que deixa o cabelo à mostra. " É mais comum entre paquistanesas e deve ser usado por estrangeiras em visita a determinados locais no Catar.
Para os pés, não há regra. Eles costumam usar sandálias de couro e elas, de tênis a salto alto. Uma curiosidade: o ouro e a seda são de uso exclusivo delas. Está nas fontes escriturárias islâmicas, que dizem: "Estes dois elementos são ilícitos para os homens de minha comunidade e lícitos para suas mulheres".
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