Ceo do hurb xinga, ameaça e vaza dado de cliente no whatsapp
Capital
Capital
Depois de debochar de clientes em um vídeo cheio de referências a Matrix e Elon Musk, o CEO do Hurb (ex-Hotel Urbano), João Ricardo Mendes, xingou, fez ameaças e expôs dados de um cliente em um grupo de WhatsApp criado para discutir problemas com reservas. Os problemas se avolumaram nos últimos tempos, com a conta de pacotes por entregar e diárias de hotéis atrasadas somando R$ 140 milhões, segundo a própria empresa.
Na semana passada, João Ricardo ligou para um cliente do Mato Grosso do Sul, que estava em um grupo de WhatsApp, com mais de mil pessoas, para reclamar de um comentário.
" Puxei sua capivara toda, não sabe nem falar seu retardado, bundão. (...) Fica satisfeito de não viajar. Tá arriscado alguém bater nessa m... da sua casa hoje seu otário " diz João Ricardo em vídeo que aparece segurando o celular no viva-voz, gravando a conversa com o cliente.
O próprio executivo postou o vídeo da conversa em um grupo de WhatsApp.
Depois das ameaças, o executivo diz que vai cancelar a viagem do cliente.
João Ricardo também expôs esse mesmo cliente divulgando CPF, e-mail, número do cartão, data de nascimento e número de celular no grupo. A exposição de dados de clientes é crime e, pela Lei Geral de Proteção de Dados, pode gerar multa de até 2% do faturamento da empresa.
‘Para passar trote’
Quando uma pessoa do grupo pede para João Ricardo apagar os dados, ele responde, à 1h36 da madrugada, que é "para quem quiser passar trote". E emenda em inglês: "That’s who I am" (É assim que eu sou). Os dados foram posteriormente apagados por um moderador e o grupo foi fechado para comentários de não administradores.
Mas não sem antes muita gente ter tirado foto das telas, baixado os vídeos e publicado nas redes sociais. O próprio cliente que recebeu as ameaças postou no Twitter e em um grupo do Facebook chamado de "prejudicados do Hotel Urbano", que conta com mais de 23 mil integrantes.
Procurado pelo GLOBO, o cliente, o vendedor Miguel Nader Junior, diz que já tinha viajado pela empresa para Los Angeles e que tem outros quatro pacotes, o próximo seria para Paris. Ele pagou R$ 14 mil pelas viagens.
Ao ler relatos de que a empresa vinha encontrando algumas dificuldades, ele conta ter buscado informações no Consumidor.gov, no Reclame Aqui e no Procon. E conseguiu entrar em contato com o CEO da empresa por telefone, que mandou opções de voo.
Após ler relatos de problemas com reservas de hotéis, entrou em contato novamente. Segundo ele, o executivo deixou de responder ou enviou mensagens genéricas até telefonar para ele na semana passada. Durante a ligação, o cliente diz que passou a ser xingado depois de perguntar se seus pacotes já tinham sido pagos pela empresa.
" Fiquei chocado e pasmo com a situação. Acreditei na empresa e ainda acredito que possa se restabelecer. Estou recebendo apoio e ataques. Tem gente que acha que estou tumultuando. Tem gente que fala que eu trabalho na CVC. O ruim é que tive que expor no Twitter tudo isso " disse Junior. "Fiz um boletim de ocorrência na sexta-feira por injúria, ameaça e exposição de dados depois que minhas informações foram vazadas.
Junior disse que outros clientes entraram em contato com ele pelas redes sociais mencionando situações semelhantes:
" Ele publicou no grupo do WhatsApp a planilha (com dados pessoais) e, mesmo sabendo que era vazamento de dados, falou que era para quem quiser passar trote. Desde o episódio, ninguém da empresa entrou em contato comigo.
Aumento de reclamações
Dados do Consumidor.gov mostram como o número de reclamações aumentou neste ano. Foram registradas 7.737 queixas de janeiro a março deste ano, sendo que 95% dos consumidores disseram ter procurado a empresa antes de fazer a reclamação no portal do consumidor. O número do primeiro trimestre chama a atenção, dado que ao longo de todo o ano passado foram realizadas 12.764 queixas.
O índice médio de solução do Hurb neste ano é de 50,28% " ou seja, somente metade das reclamações realizadas são resolvidas através do canal. O percentual é bem abaixo do índice médio de solução da plataforma, de 76,77%.
O CEO do Hurb costuma gravar vídeos explicando os problemas de fluxo de caixa da empresa e diz que já começou a emitir passagens e também a fazer o pagamento de hotéis atrasados. Ele afirma que tem mais de R$ 800 milhões em contas a receber, mas que a liberação de recebíveis teria sido travada pelos bancos, de forma, segundo ele, "injustificada".
O Hurb enviou nota sobre o episódio. "O Hurb, empresa brasileira que está no mercado há mais de 12 anos, lamenta o ocorrido na última sexta-feira, 21/4. A companhia sempre prezou pela transparência e a relação de confiança que tem com os seus viajantes. Guiada pelo valor primordial de ser uma empresa feita de pessoas para pessoas e pela missão de democratizar viagens através da tecnologia, reforça que continuará colocando seus clientes e stakeholders sempre em primeiro lugar."
Indagada sobre a cobrança nas redes sociais de clientes que se queixam, dizendo quenão conseguem viajar, afirmou que os pacotes com data flexível são promocionais e que não é possível garantir data específica para a viagem no momento da compra. Acrescentou que "o pacote é comercializado como oferta a ser executada dentro do período regulamentado" e que o regulamento é claro nesse sentido.
A empresa afirma que neste ano já operou mais de 435 mil viajantes.