Saída de ceo e suspensão de pacotes agravam crise no hurb
A renúncia do CEO Otávio Brissant, na segunda-feira, ampliou as incertezas em torno do Hurb. João ...
A renúncia do CEO Otávio Brissant, na segunda-feira, ampliou as incertezas em torno do Hurb. João Ricardo Mendes, o fundador, que voltará ao comando da plataforma, terá de equilibrar as finanças em meio à perda de parceiros comerciais e à determinação do governo federal de suspender a venda dos chamados pacotes flexíveis, a principal fonte de receita do Hurb " que já enfrenta dificuldades para pagar os salários dos funcionários.
Os empregados da agência de viagens on-line foram surpreendidos, no início da noite de ontem, com comunicado interno informando que o pagamento, previsto para ontem, seria atrasado em três dias e dividido em duas parcelas, revelou a coluna Capital.
No comunicado, ao qual a coluna teve acesso, a empresa atribui o atraso ao "cenário atual do Hurb".
Enviado a ex-funcionários, o e-mail desencadeou uma enxurrada de críticas. Um dos destinatários afirmou que a situação "reflete uma insegurança de muito tempo: incertezas de pagamentos."
Os problemas do Hurb têm se acumulado. Na semana passada, a Latam suspendeu a emissão de novas passagens para a agência, além de ir à Justiça cobrar uma dívida de R$ 13,6 milhões. E a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) proibiu o Hurb de vender pacotes flexíveis, aqueles em que o consumidor compra sem ter uma data definida para a viagem.
Cresce o risco de a empresa não honrar seus contratos, porque terá mais dificuldade de alocar clientes em voos, e a perda de receita dificultará a compra de serviços para os pacotes já vendidos.
Samuel Barros, doutor em Administração e reitor do Ibmec-Rio, lembra que a Latam era um importante parceiro comercial do Hurb. A agência, agora, precisa que outras aéreas garantam os voos dos clientes que já fecharam pacotes. O problema é que essas empresas podem seguir a decisão da Latam.
Até o momento, a Azul não suspendeu as vendas. Procurada, a empresa não se manifestou sobre o assunto. A Gol não retornou o contato feito pelo GLOBO. E a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) disse que não comentaria o assunto, por se tratar de uma questão comercial e operacional de cada empresa.
fluxo de caixa afetado
O setor hoteleiro foi o primeiro a rejeitar as reservas do Hurb e tem mantido sua posição, especialmente hotéis e pousadas de pequeno porte.
" Ela não cumpriu com o acordado com os hotéis, principalmente os menores. A crise no Hurb é muito ruim para o setor. Orientamos os hotéis a oferecerem aos consumidores lesados o mesmo preço cobrado pela plataforma " diz Alfredo Lopes, presidente da HotéisRio.
Ricardo Macedo, economista e professor da Facha, afirma que o fato de o Hurb ter demitido 40% de sua equipe mostra que está tentando cortar custos para honrar seus compromissos com consumidores e parceiros.
Mas, para a conta fechar, especialistas avaliam que o preço dos pacotes pode subir.
" O Hurb não consegue cumprir com o que prometeu no passado. A proibição de venda de pacotes flexíveis encarece ainda mais a operação, porque a empresa não consegue encontrar os melhores preços nas melhores datas " explica Barros.
Roberto Kanter, economista e professor de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), discorda. Para ele, o Hurb deve baratear os pacotes para tentar fazer caixa, deixando o ônus de honrar os contratos para depois.
Daniel Dias, professor de Direito do Consumidor da FGV Direito/Rio, aponta outro possível efeito negativo da determinação da Senacon:
" Não deveria impactar quem já fechou pacotes. Mas, como a medida afeta o fluxo de caixa da companhia, o Hurb pode alegar que foi surpreendido com a decisão e dizer que não pode honrar os seus contratos.
Dias ressalta, porém, que a decisão da Senacon levou em conta justamente a incapacidade da empresa em garantir esses pacotes, em que se paga antes de marcar a viagem. A Senacon avaliou que o plano de reestruturação apresentado pelo Hurb não comprova a capacidade financeira de cumprir nem novos contratos, nem os pacotes já vendidos.
" Para a empresa se isentar de cumprir seus compromissos com os consumidores, ela precisa comprovar que não contribuiu para esse fato. Mas o próprio fundamento da decisão da Senacon é que a empresa não demonstrou capacidade financeira " explica Dias.
poucas garantias
Ricardo Morishita, professor do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), compara o modelo de negócios do Hurb a uma loteria: a agência vendia inúmeros pacotes flexíveis contando que, mais tarde, os fornecedores teriam tarifas promocionais disponíveis.
Para especialistas, esse modelo não oferece garantias suficientes. Muitas vezes, o consumidor sequer sabe que empresas prestarão os serviços de voo e hotelaria. Sem essa informação, não há como responsabilizar hotéis ou aéreas caso o Hurb não cumpra o contrato.
Como a decisão da Senacon não é retroativa, quem já comprou não terá seu pacote suspenso. E se o consumidor receia não conseguir viajar e pensa em parar de pagar, Dias alerta:
" Você pode se antecipar ao ver que a empresa não vai honrar com a prestação do serviço, mas você tem o ônus de comprovar isso. Ou seja, a pessoa precisa comprovar que ainda não houve emissão de voucher, por exemplo, ou que tantos pacotes não foram honrados em período recente.
O Hurb ressaltou que continua oferecendo pacotes de data garantida, que têm datas de ida e volta preestabelecidas, além de hospedagens, passeios e serviços acessórios.
Com relação ao atraso no pagamento dos funcionários, o Hurb não quis comentar.