Lemann vai vender fatia em grupo de educação
O Gera Capital, fundo que tem como sócios Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles " dois dos três ...
O Gera Capital, fundo que tem como sócios Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles " dois dos três acionistas de referência da Americanas " prepara sua saída do controle do Grupo Salta, antigo Grupo Eleva Educação, dono de redes de escolas de ensino fundamental e médio, como pH, Pensi e Elite. A informação foi revelada pelo Valor. Ao todo, o conglomerado educacional soma mais de 190 escolas e 120 mil alunos no país. Em 2022, registrou receita líquida de R$ 1,8 bilhão. A movimentação mostra o aquecimento dos negócios de consolidação no setor de educação privada.
Há dez anos no negócio, o Gera chega ao momento de desinvestimento. E planeja vender seus 55% de participação na empresa em duas fatias, conta uma pessoa a par dos trâmites. A primeira equivale a 35% do negócio e já tem entre os interessados as gestoras Atmos Capital e Kinea, o fundo Advent International e outros dois investidores, diz essa fonte.
A venda, neste momento, chegou à mesa de negociações por dois motivos. Um deles é financeiro. O Salta está avaliado em R$ 3,2 bilhões, mas tem perto de R$ 1 bilhão em endividamento. No ano passado, o grupo vendeu a rede de escolas Eleva para a britânica Inspired Education por R$ 2 bilhões, mas encerrou o período com prejuízo de R$ 43,26 milhões. Não houve aquisições este ano, a despeito da promessa de expansão do negócio em 40 unidades em 2023, tendo São Paulo como o mercado prioritário.
Mais adiante, o Salta mira uma oferta inicial pública de ações (IPO, na sigla em inglês), operação para a qual vinha se preparando até 2021, quando botou o projeto de volta na gaveta em meio às condições macroeconômicas desfavoráveis, afirma fonte ligada à companhia. Na ocasião, o grupo se desfez do negócio de sistemas de ensino e fechou a aquisição de 45 escolas da Saber, o braço de soluções educacionais da Cogna Educação.
EFEITO AMERICANAS
Há, no entanto, uma trava aos planos do grupo de seguir crescendo e abrir caminho para alcançar a Bolsa: a participação de Lemann e Telles, contam executivos do mercado. Com a crise gerada pela fraude contábil na Americanas, além do gargalo na concessão de crédito, os bancos brasileiros se tornaram avessos a operações envolvendo as empresas investidas pelos dois bilionários, relatam executivos do mercado.
Há anos na posição de homem mais rico do Brasil, Lemann é o mais citado como um fator de resistência dos bancos ao Salta. Juntamente com Carlos Alberto Sicupira, Lemann e Telles são os acionistas de referência da Americanas, cujo escândalo contábil desencadeou uma dura negociação com os bancos. Os três bilionários já acenaram com a injeção de R$ 12 bilhões na empresa no âmbito do plano de recuperação judicial da varejista na tentativa de fechar um acordo com os credores.
Num passo anterior à substituição do Gera no capital do Salta, o grupo buscou negociar uma parceria com o Grupo SEB, do empresário Chaim Zaher. Procurado, ele confirmou ter conversado com Bruno Elias, CEO do Salta, mas explicou que segue operando de forma independente:
" Nós conversamos, mas não houve avanço. Poderíamos pensar em algo futuramente. Por ora, estamos nos preparando para um IPO do nosso segmento de alta performance, com marcas como Escolas SEB/AZ.
SETOR EM EBULIÇÃO
O setor de educação privada está em ebulição com um aumento na demanda das famílias por ensino de qualidade e um mercado ainda muito pulverizado. O SEB vinha trabalhando com foco em fazer um IPO da Maple Bear, franquia de escolas bilíngues, para dar maior musculatura financeira à sua expansão. As marcas do segmento premium do grupo, contudo, como Maple Bear e Concept, diz Zaher, não são parte do plano de abertura de capital.
Outro grupo que vai nessa direção é a Inspira Rede de Educadores, com mais de uma centena de escolas da rede privada de educação básica sob seu chapéu. Controlada por um fundo do BTG Pactual, iniciou ainda no ano passado um processo conduzido pelo UBS em busca de um novo investidor para aumentar seu capital e seguir crescendo com fusões e aquisições.
As negociações estariam, neste momento, em fase avançada, com o Advent liderando o processo, embora haja outros interessados, conta fonte próxima.
Mais negócios em 2024
Paulo Presse, coordenador da área de Estudos de Mercado da consultoria Hoper Educação, explica que há expectativa de crescimento nas negociações envolvendo grupos privados de ensino fundamental e médio em 2024:
" A pandemia postergou os movimentos que estavam previstos na educação básica. Hoje, porém, (esse segmento) chama mais a atenção (do investidor) que o ensino superior, até porque o faturamento é muito maior. As aquisições acontecem muito na estrutura das escolas de aprovação (no Enem) ou com marca muito boa e forte " diz ele. " Em 2024, teremos uma condição mais expressiva.
Segundo o especialista, as escolas internacionais globais ainda não têm as condições apropriadas em termos de escala para a oferta de ações na Bolsa e, por isso, os grupos que atuam na educação básica intensificam a consolidação.
" Quando o Eleva (agora Salta) vende sistema de ensino e compra outras redes é um movimento estratégico de ganho de escala. Desce um pouco o posicionamento, saindo da estrutura de escola bilíngue para a de aprovação. Desce o valor da mensalidade, mas traz mais volume. E tem melhores números para fazer um IPO " pontua Presse.
Procurados pelo GLOBO, Gera, Salta, Advent e Atmos não comentaram.